Tuesday, November 16, 2010

“A Questão De Bruno” (impressões pessoais)



Aqui vou eu fazer algo inédito neste blog. Vou analisar este livro de forma diferente. Dada a extrema complexidade da obra, vou optar por analisar os seus capítulos separadamente.

Deveria ter lido este livro há uns onze anos atrás. Iria fazer-me bastante jeito para o meu trabalho sobre a guerra nos Balcãs. Nessa altura ainda não tinha sido sequer pensada, pois uma obra desta envergadura e complexidade teve de requerer muito empenho e dedicação.

Ilhas- Neste primeiro capítulo o escritor viaja até à sua infância e relata oma visita ao seu tio que é apaixonado pela apicultura. A viagem é-nos relatada de uma forma cómica com todos os pormenores sórdidos. Neste capítulo faz-se referência a um animal do qual eu nunca tinha ouvido falar. Trata-se do mangusto. Fiquei a saber apenas que se podia tratar de um mamífero e que atacava as cobras. Fiquei a pensar que se tratava de algo semelhante a um ouriço ou a um texugo. Indo consultar agora a Wikipedia e vendo algumas fotos do animal em questão, fiquei deslumbrada. Em nada se parece com algo que eu já conheça. Trata-se de um mamífero carnívoro que se alimenta de insectos, répteis, aves e outros pequenos mamíferos e que também está preparado para se alimentar de vegetais. São conhecidos por serem imunes ao veneno das cobras mais peçonhentas.

A certa altura deste capítulo o escritor refere-se â velhice tal e qual como eu a defendo. Por mais que o Ser Humano viva, retoma sempre ao que foi nos primeiros tempos de vida. Há muito tempo atrás escrevi um texto aqui neste mesmo espaço com essa mesma ideia.

Vida e Obra de Alphonse Kauders- Ora aí está o capítulo mais cómico deste livro! O que eu me ri a ler isto! Aconselho vivamente toda a gente a ler. Cabe agora à minha pessoa ir investigar quem era esta vedeta. Será outro como o Fradique Mendes? Acertei. Este personagem não é mais do que uma invenção do autor deste livro- Alksandar Hemon. Também cá estava a ver. A existir seria sem dúvida um cromo raro em bom Português. Uma pessoa como esta deveria ser um pratinho. Morri de rir com aqueles trechos em que algumas figuras marcantes da política europeia se pronunciavam, imagine-se, sobre os flatos de Alphonse Kauders. Tito e Estaline foram duas das ilustres personalidades a se pronunciarem sobre esta importante temática. Já os estava a ver a serem interrompidos dos seus inúmeros afazeres para darem uma palavrinha sobre um assunto tão importante como o dos flatos de Alphonse Kauders.
O momento alto desta história foi aquele em que se dizia que Alphonse Kauders foi o único homem que teve a coragem de dizer não a Estaline. Sabe-se como Estaline era para quem o contrariasse. Como Alphonse Kauders era um indivíduo que em circunstância alguma usava relógio, disse não a Estaline quando este simplesmente lhe perguntou se ele tinha um relógio.

A Rede de Espionagem de Sorge- Este é o capítulo mais complexo e mais difícil de ler em virtude da grande quantidade de notas biográficas que existem. São quase tantas como a narrativa propriamente dita. Pelo que percebi, o narrador faz uma analogia entre a vida do espião Richard Sorge e a sua própria vida. Digamos que o jovem narrador idolatra Sorge a ponto de desejar ser espião como ele.

O Acordeão- Aqui é relatado um episódio marcante da História Mundial- o assassinato do Arquiduque Francisco Fernando por um jovem sérvio que desencadeou a I Guerra Mundial. O homem do acordeão era o avô do protagonista.

Troca de Palavras Agradáveis- Aqui é relatada uma reunião familiar. Fica-se com uma ideia dos usos e costumes na Europa de Leste. Todos os membros se reúnem, há comida e bebida em abundância e animação com fartura.

Uma Moeda- Seria este o capítulo que me seria de extrema utilidade para o meu trabalho sobre a guerra nos Balcãs. A realidade nua e crua desta guerra é-nos narrada de uma forma bem real e sensacionalista.

Blind Jozef Pronek & Dead Souls- Este é o capítulo mais longo e mais importante desta obra. Trata-se do relato das peripécias de um bósnio que chega aos Estados Unidos e tem aquilo a que se chama um choque cultural. Através de Pronek, o escritor conta-nos provavelmente a sua própria história e as agruras de se ser um estrangeiro na terra das oportunidades. Realço uma passagem neste capítulo que me chamou a atenção. A opinião que a personagem Andrea tem sobre Madonna. Eu também detesto essa cantora. Já há duas ideias em comum: a velhice e os sentimentos nutridos pela excêntrica cantora americana.

Imitação da Vida- Digamos que tudo volta ao ponto de partida de onde começou o livro. Há novamente um regresso à infância e às recordações. Não compreendi a última parte, ou melhor, compreendi que ele sonhou que estava a sonhar. Talvez assim esta parte faça sentido.

Resumindo: é sempre bom ler obras tão complexas como esta que nos obrigam a pensar e tentar saber um pouco mais sobre determinados assuntos. Fiquei a saber o que era um mangusto que nunca tinha visto nenhum e deliciei-me com a facilidade de Aleksandar Hemon em passar de um texto para outro com um estilo completamente diferente. Esta obra é mais do que uma compilação de histórias e contos. Todos os trechos deste livro terão um denominador comum ou não terão simplesmente nada a ver uns com os outros. Se se prestar atenção, em quase todos os textos aparecem os mesmos personagens.

O que mais me chateou foi ter de ler aquele capítulo sobre Sorge com muitas notas lá no meio. Não gosto de ler textos com notas e este estava exageradamente repleto de notas biográficas. Foi por isso que não fui pesquisar sobre Richard Sorge e foi por isso que me demorei um pouco mais a ler esta obra.

Fica uma pergunta pertinente no ar: por que razão foi intitulado o livro desta maneira e não de out

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