Monday, February 15, 2010

Bordoadas solidárias

Chegou aos ouvidos da nossa sempre oportuna redacção que alguns estabelecimentos de diversão nocturna estavam a ajudar as vítimas do sismo no Haiti através de parte dos lucros que obtêm.

Apesar da crise que também nos bateu á porta, lá fizemos uma colecta entre todos e rumámos, mais uma vez, até ao Texas para ver o que por lá se passava. É que os momentos divertidos que lá passámos da outra vez que lá estivemos pesaram imenso e estávamos dispostos até a assaltar um banco, se preciso fosse, para voltarmos. Se bem se recordam, da última vez que lá estivemos, foi para verificarmos o fenómeno da caça para pessoas deficientes visuais.

Desta vez o desafio era um pouco arrojado e esperava-nos muita diversão. O maior dos encantos da profissão de coscuvilheiro…de jornalista pouco credível é podermo-nos divertir á grande sem dar satisfações ao Governo ou a quem quer que seja.

E lá seguimos novamente para o Texas, para uma zona bem fervilhante de uma pequena cidade. Esperámos que a noite avançasse. O nosso destino era o bar “Aphrodyte”- um estabelecimento muito frequentado sobretudo por homens de meia idade ou idade avançada e que tinha um aspecto algo duvidoso. Mais parecia uma daquelas casas ilegais de Bragança. Thomas Ellington era o gerente da casa e orgulhava-se de ter lucros bastante avultados, algo pouco provável num cenário de crise. Vendo que noutros locais da América se gerou uma onda de solidariedade para com o povo do Haiti, logo teve a ideia de fazer o mesmo e publicitou logo à entrada do bordel que parte do dinheiro angariado teria como destino o Haiti.

Na primeira noite, o dobro dos clientes afluíram ao bar. Pobres alternadeiras, que nunca trabalharam tanto! Quando reclamaram logo os olheiros do estabelecimento trataram de recrutar mais cinquenta strippers e umas vinte prostitutas normais que estivessem dispostas a aturar toda a noite os ousados caprichos de velhos incontinentes que se armavam em fortes mas que saiam de lá, por vezes, a arfar e com a mão direita cravada do lado esquerdo do peito- sinal de que os seus frágeis corações já não aguentavam e que só à custa de dose cavalar de Viagra lá iam.

Foi cerca de uma semana, mais ou menos, o tempo em que visitámos o bar “Aphrodyte” e vivemos algumas histórias curiosas que se lá passaram. Numa noite foi chamada a emergência médica- o INEM lá do sítio- para transportar um idoso de oitenta e seis anos que caiu inconsciente quando ia a sair de um dos quartos do terceiro andar. Não sabemos se o referido avozinho sobreviveu ao que parecia ser um colapso cardíaco.

Noutra noite, durante um número de strip, estava o estabelecimento tão lotado que quando foram arremessadas umas calcinhas para a plateia houve um tumulto tal que foram aí umas dez pessoas para o hospital. Um desses indivíduos era William Cooper de 64 anos a quem foi diagnosticado um traumatismo craniano. O indivíduo era casado, pai de quatro filhos e empresário numa conceituada multinacional. Um indivíduo exemplar, acima de qualquer suspeita sobre escapadelas nocturnas.

Dando por falta dele em casa e no trabalho, logo se montou uma espécie de caça ao homem por toda a cidade. Quando foi encontrado a repousar na enfermaria, fingiu não se lembrar de nada mas depois “lá se lembrou subitamente” e disse que tinha sido assaltado e agredido por dois assaltantes. E lá continuou este indivíduo sem mácula no seu comportamento social.

Para a penúltima noite, entretanto, estava guardado o espectáculo mais cómico. E nós que adoramos escândalos, porradaria, e tudo quanto tenha acção.

Havia um indivíduo que já passava dos setenta anos e que estava casado há mais de quarenta com a mesma mulher. Chamava-se Jim Bass e vivia a cerca de seis quilómetros do bar de alterne.

Já estava reformado e passava a vida na tasca a gabar-se das suas façanhas sexuais que já não tinha havia anos. Sua mulher sofria imenso por nem o Viagra devolver o vigor ao seu companheiro que, no entanto, ia para a rua gabar-se da maravilhosa noite de amor que tinha tido com a patroa. Estão a ver como isto vai acabar mal…

Os amigos de Jim, que sempre o ouviam falar das suas tropelias resolveram desafiá-lo para uma noite bem passada no “Aphrodyte”. Parte do dinheiro até era para ajudar os mais necessitados e tudo…

Para não dar parte de fraco, o desgraçado do velhote lá foi. Seria a sua primeira noite de sexo desde há dez anos. Para disfarçar mostrava-se o homem mais feliz do Mundo e levava a carteira recheada de dólares, pois já não se lembrava do quanto custava uma noite num bar de alterne.

Jim e os amigos chegaram ao bar por volta das onze e meia da noite e logo pediram uma mesa com vista panorâmica para o show de strip que estava a decorrer e onde três asiáticas se exibiam em minúsculos conjuntos de lingerie. Os indivíduos mandaram vir duas garrafas de champanhe e estiveram ali a beber durante meia hora. Jim, como de costume, antevia aquilo que iria ser a noite erótica que idealizou.

Chegou a altura de escolherem uma companheira para se divertirem. Jim escolheu uma fogosa e roliça mexicana chamada Lorena. Ao olhar para o velhote, a prostituta que já aparentava ter mais de quarenta anos pensou: “Que vida vou eu governar com este velho que já se vinha a babar todo de cansaço só de subir estes três degraus daqui?” Depois lembrou-se que havia que ajudar o povo haitiano e lá teve de aguentar o sacrifício.

Cambaleando de bêbado, o velho esteve meia hora sentado na cama só a tentar desatar o atacador de um dos sapatos. Já despida, a prostituta aguardava em pose sensual em cima da cama. Era uma e meia da manhã quando Jim, finalmente, se despiu por completo. Por completo não. Ficou com as ceroulas. Ainda usava disso.

Sentado na cama e com a alternadeira a beijar-lhe o pescoço, o velhote iniciou aquilo que seria uma interminável noite de histórias inventadas sobre idas anteriores ás meninas. Numa dessas histórias, teve de saltar pela janela porque a sua mulher havia descoberto onde ele estava e preparava-se para subir e o apanhar em flagrante.

A prostituta não quis saber dessas histórias. Não lhe interessava o que tinha acontecido com as suas antecessoras mas queria que ele se calasse e começasse a aventura presente. Como o indivíduo não se resolvia, Lorena com um só gesto, arrancou as ceroulas ao velho que nem deu conta de que agora está nu como veio ao Mundo.

Em casa, Beth Bass dava voltas na cama sem conseguir dormir. Já não se lembrava da última vez em que o marido havia dormido fora de casa. Era estranho ele sair, dizer que ia aos anos do Charlie e não vir para casa.

Lorena tomou a iniciativa da relação daquela noite. Tinha vinte anos de experiência naquele tipo de serviços e detestava os velhos. Sabia que eles eram generosos a pagar mas o dinheiro não era tudo. Agora, com a campanha de solidariedade, os velhos estavam a aparecer cada vez mais e havia que os satisfazer de todos os seus caprichos. O deste era permanecer de ceroulas vestidas porque tinha medo de apanhar frio nas suas hemorróides. Além disso, sofria de varizes e não podia permitir que as pernas arrefecessem.

Era teimoso, o raio do velho, e travou uma acesa discussão com a prostituta que já se ouvia no andar de baixo, apesar de a música estar alta. Só se viam cabeças, algumas calvas ou grisalhas, a olhar para cima na esperança que algo vindo do tecto aterrasse ali.

A certa altura a gritaria subiu de tom e foram precisos os seguranças subir até ao foco da discussão para tentar colocar ordem. Como o indivíduo não se acalmava e ainda mandou os seguranças- dois brutamontes negros- para um certo sítio, foi chamada a Polícia que não passou despercebida nas ruas com dois barulhentos carros-patrulha.

Quando Jim viu a Polícia ficou furioso e tentou saltar pela janela. De referir que o quarto ficava no terceiro andar e que ele próprio, com a sua enorme barriga, não cabia na janela. Como não podia saltar e se via encurralado pelos guardas, corou de fúria.

Não querendo ser apanhado e levado para a esquadra naqueles propósitos (nu, pois o barulho havia sido provocado porque Lorena lhe escondeu a roupa interior) o indivíduo ainda fez pior, isto é, galgou as escadas a correr como estava. De referir que estava alcoolizado.

Quando vimos aquele triste espectáculo, esfregámos as mãos por haver algo de curioso para contar e não nos enganámos. Atravessando a multidão a correr todo nu, o indivíduo ia vociferando contra todos. Houve quem lhe tivesse tirado fotografias e mesmo quem sacasse dos telemóveis e filmasse. Que escândalo não seria nos próximos dias?

Não havia que esperar dias para haver uma cena bem divertida. Tudo porque agora há as belas das MMS. Alguém que conhecia o indivíduo e que sabia o número de telemóvel de Beth tratou de lhe enviar uma foto em que se via Jim a sair nu para a rua perante o olhar de clientes do bar e strippers.

Beth vestiu-se, sacou de um enorme guarda-chuva que foi o que achou mais á mão e seguiu a toda a velocidade para o antro de perdição. O ambiente já estava ao rubro quando ela chegou. Já havia desordem que chegasse.

Ao ver a mulher entrar, Jim ficou de todas as cores e parou de discutir para perguntar á esposa o que é que ela estava ali a fazer. Ela nem se deu ao trabalho de lhe responder e logo começou a desferir golpes furiosos com o guarda-chuva no lombo desprotegido do desgraçado do Jim que nem se defendeu.

Instalou-se a confusão. Já toda a gente batia em toda a gente e reforços policiais foram chamados. Quanto ao causador da confusão inicial, foi a ganir para casa no carro da mulher debaixo de porrada.

O jornal do dia seguinte que saía da parte da tarde trazia na primeira página uma foto em que se via uma mulher idosa a empunhar um guarda-chuva estampado de azul e encarnado que ameaçava aterrar na zona lombar de um roliço indivíduo que aparentava ter uns setenta anos. Em baixo a letras garrafais e também encarnadas lia-se:“Bordoadas solidárias”.

Na página cinco era desenvolvida a história e ficou-se a saber que Jim Bass deixou a carteira com cerca de mil dólares dentro que reverteram na totalidade para as vítimas do sismo. Juntamente com o dinheiro, seguiu um bilhete dizendo. “Este não queria tirar as ceroulas por causa do frio e acabou aquecendo com uma tareia dada pela mulher.”

Com esta história na bagagem, lá partimos para o recato do nosso cantinho à espera que sejamos chamados a outros locais onde haja acção, suspense e uma boa história de alcova para contar.

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