Wednesday, March 05, 2008

Um ano de existência



Estava uma tarde de Primavera. Era véspera de uma viagem que iríamos fazer ao Alentejo. Encontrava-me lesionada e aproveitava para fazer alguns exercícios de Mobilidade.

Foi a seguir a essa sessão que resolvi materializar uma ideia que há muito tinha na minha mente: construir um blog para relatar as minhas coisas, dar a conhecer o meu mundo, a minha vida- nem sempre fácil, as minhas opiniões- nem sempre respeitadas nas aulas, tudo o que me rodeia e não me é indiferente.

Até há bem pouco tempo mal sabia o que era um blog. Sabia que “Gato Fedorento” era um exemplo de um. Sabia que havia alguns onde se discutia política ou Desporto e outros não passavam de meros diários de lamúrias e confissões mais ou menos picantes.

Ora bem...o meu iria ser...um diário. Um espaço em que eu dou a conhecer ao Mundo como é a minha vida. O que eu sonho. O que eu sinto. Como encaro esta árdua sina que me foi traçada quando eu ainda nem sequer era gerada: viver com uma deficiência visual.

E lá comecei- um pouco por brincadeira- a dar corpo e alma ao meu blog. Como lhe iria chamar? Comecei por ter a ideia de lhe chamar “Visão Periférica”, mas houve um qualquer erro. Provavelmente já existia outro blog com este nome. Voltei a puxar pela cabeça...

Lembrei-me de uma colega nossa que tratava todos nós por “toupeiras”. Referia-se à ACAPO e aos cegos em geral como “toupeiragem”. Lembrei-me de uma cena que se passou quando eu e o meu colega íamos a atravessar a passadeira em frente à ACAPO. Íamos para o treino e acabámos por percorrer o caminho daí até ao Estádio a rir à gargalhado. Alguém de dentro de uma carrinha de caixa aberta nos gritou:
- “SUA TOUPEIRA!”

Eu e o meu colega desatámos a rir. Mas a criatura não tinha outro nome para chamar? Porquê toupeiras em vez de ursos, burros, tartarugas, porcos...? Insultou chamando-nos de toupeiras e nós achámos piada. Só depois me lembrei que as toupeiras são cegas e daí a ligação. Assim nasceu o nome para o meu blog: Toupeira. Se quiserem, Toupeira Dum Raio. É este o nome completo do meu blog.

Com o tempo, arrependo-me de não ter colocado outro nome: “Caderno Azul”. É essa a cor da maioria dos cadernos onde eu tiro apontamentos ou tópicos que depois desenvolvo e vão dar os textos que aqui apresento (ver foto).

Ao longo do tempo, a própria maneira de estruturar os textos sofreu alterações. Primeiro comecei a estruturar as mensagens como mero diário. Depois senti a necessidade de desenvolver alguns assunto. Mais tarde introduzi outro tipo de textos e de acontecimentos. Uma ideia bem conseguida foi a descrição de alguns sonhos de que me lembrava ao acordar e que apontava nos meus famosos cadernos azuis.

O humor e a ficção foram tomando o seu lugar no meu blog. Recuperei alguns textos que foram escritos com outras finalidades e usei para outras finalidades textos que apresentei aqui em primeira-mão. Foi frequente ver aqui neste espaço textos escritos em código. Da situação original pouco ou nada resta e muito menos se percebe. Há pelo menos dois textos que assim estão escritos. Não vou dizer quais são.

O Desporto é a minha maior fonte de inspiração. Sou atleta e a nada do que se passa no panorama desportivo sou indiferente. Se não fosse o Desporto e as crónicas feitas à pressão de alguns jogos de Futebol, o meu blog estaria hoje mais pobre.

Quem lê o meu blog sabe quem é o Mong, o Léo e a Feijoa. É também aos meus gatos que eu dedico este espaço. As suas peripécias muitas vezes foram destacadas e as minhas inquietações por eles vezes sem conta foram relatadas.

Também toda a gente que lê o que eu escrevo conhece o Tó Bóias, o Gregório, a Belarmina e muitos outros personagens que eu inventei para os meus textos de ficção. Bem reais são os jogadores de Futebol e outros desportistas com os quais eu engracei. O mais flagrante exemplo é o do russo Artem Dzuba. O jogador do Spartak de Moscovo deve ter sido, seguramente, um dos que eu mais mencionei aqui e um dos protagonistas oníricos.

Momentos felizes e momentos menos felizes foram aqui descritos nesta página feita com carinho, embora desprezada por motivos profissionais. Destaco como momento mais marcante o meu encontro com os elementos da Rabobank Continental. Todas as quezílias normais na vida de alguém são os momentos menos bons que aqui não escondi de ninguém.

Houve situações que se passaram na realidade e que quase roçaram o insólito. Embora tivesse um pequeno espaço para as situações mais curiosas, insólitas ou engraçadas, houve textos que relatam situações inacreditáveis. Estou-me a recordar da sala que meteu água e de alguns que relatam o magnífico mundo do interior dos autocarros dos SMTUC. Sem eles, o meu blog seria triste e sem o mínimo de piada.

As bacoradas e as situações engraçadas sempre estiveram presentes desde o início do meu espaço. Por muito que algumas más-línguas falassem, eu também nunca deixei de colocar aqui as minhas próprias bacoradas. Não estou só atenta ao que os outros dizem de mal. Ninguém escapa. Nem eu, nem a minha família, nem os meus colegas, nem os desportistas e nem os políticos. Inclusive também o que eu ouço por acaso na rua pode dar uma boa “bacorada do dia”

As situações foram momentos mais ou menos curiosos que se passaram ao longo dos dias. Ao contrário das bacoradas, não as vou buscar ao meu arquivo. Por isso se encontram textos em que, pura e simplesmente, não há nada que se possa adequar a essa rubrica. Para mim, a melhor cena que tenho relatada foi aquela que se passou nos Covões. Achei piada e comecei a imaginar alguém a esconder uma torneira roubada de uma casa de banho. Houve dois números protagonizados por mim que só se fazem uma vez e com sorte. Um aconteceu quando ia às escuras para o balneário e tropecei nas escadas sem me magoar. O outro foi mais ou menos semelhante. Fui agarrada por imensas pessoas e não cheguei ao chão. Saltei do palco porque me distraí e não vi os degraus.

Já aqui falei nos sonhos. Eles continuarão a merecer destaque. Sempre que eu me lembrar de um, contá-lo- ei a quem queira ler este meu blog.

E lá está! Se não fosse dia de aniversário do meu blog, nada haveria para contar neste dia em que parece que aproveitei o facto de o dia estar agradável para ir a pé.

Acabei por fazer um treino na rua. Há muito que não fazia uma coisa dessas. O apronto consistiu em quinze minutos de aquecimento- o que deu quatro subidas da ladeira até ao sinal e umas acelerações (duas mais longas e três mais curtas).

Ainda houve Futebol. O Sporting venceu o Estrela da Amadora por 3-1.

Também se escreveram alguns testos para colocar neste meu humilde espaço que hoje comemora um ano de existência. Parabéns Toupeira!

Situação do dia:
A minha vizinha mandou guardar uma leitoa para criar à minha mãe. Na passada semana ela veio buscar a pequena porca para casa dela. Poucos dias depois, a minha vizinha foi para dar de comer à leitoa e deixou-a fugir. Mal apanhou as portas abertas, o animal começou a correr pelos quintais fora. A minha vizinha ficou impotente para a apanhar. Só que a porca ainda sabia de onde tinha vindo e já andava nos nossos quintais. A minha vizinha começou a gritar pelo meu pai e pediu para ele ir ver se agarrava a porquinha. Ali perderam horas. Já se falava em mandar um tiro ou uma pedra para matar a leitoa e comia-se. Um rapaz que andava a trabalhar numa obra ali perto passou na estrada e o meu pai mandou-o parar. Ele conseguiu agarrar a porca e entregá-la de volta à minha vizinha. O curioso nesta história é que este homem é especialista em agarrar porcos que fogem. Um dia destes já foi ele que apanhou também uma porca que havia fugido a um rapaz da minha terra.

Bacorada do dia:
“Só se começa a tempestade depois dos trovões.” (Pensamento da hora...)

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