Wednesday, April 11, 2007

Russo radioactivo a passear em Coimbra

Era uma segunda-feira de manhã com bastante movimento na Rodoviária em Coimbra. Finalmente Vladimir chegava à cidade que sempre sonhou visitar.

Saíra de Moscovo uns dias antes e fizera a travessia do continente europeu de autocarro e de comboio. “Ainda dizem que não há dinheiro” pensava Vladimir para consigo “os transportes estão sempre a abarrotar de gente”.

Ainda na sua cidade natal um velho amigo tinha-o convidado para tomar um chá antes que ele partisse para Portugal. Ele achou aquele convite algo estranho, mas resolveu aceitar. Não queria guardar rancor de ninguém e achou que aquela era uma oportunidade para se reconciliarem. Há mais de dez anos que andavam de costas voltadas. Tudo por causa do Futebol e da discussão de um lance polémico durante um jogo entre o CSKA e o Spartak.

“Talvez tenha ouvido dizer que venho para Portugal e se queira despedir”. Esse argumento pesou mais alto do que a estranheza do convite do seu ex-amigo.

Muitos foram os quilómetros percorridos pelo russo que lera um catálogo sobre Coimbra e, desde então, tornou-se um apaixonado pela cidade. Depois de ter economizado bastante, lá conseguiu empreender esta viagem.

Antes de chegar à Cidade dos Estudantes, Vladimir ainda passou por Lisboa para assistir à vitória do Spartak de Moscovo no Estádio de Alvalade. Permaneceu por lá quase uma semana e, finalmente, apanhou o Expresso para Coimbra.

A Rodoviária andava em obras e ele parou um pouco para pensar. Não era sonho. Estava em Coimbra! Agora havia que disfrutar do momento. Tinha agora de apanhar um autocarro. Chegou o 29 que rapidamente se apinhou de gente. Vladimir imaginava que aqui os autocarros andavam quase vazios. Enganou-se e logo o 29 que é o autocarro que ande, talvez, mais sobrelotado na cidade. Foi o primeiro que lhe apareceu. Ele não tinha um local escolhido por onde começar.

Parou na Praça da República e resolveu percorrer as restantes ruas a pé. Para quem vem da Rússia, a temperatura que se fazia sentir era agradável. Para nós é que está frio e lá ia ele de mangas arregaçadas pelas ruas quase a chegar aos Arcos. “Este indivíduo, se fosse para a Rússia, não sobrevivia.” Pensava ele ao ver um velho agasalhado até aos dentes e a tremer de frio.

Sem saber para onde ir, desceu a rua até ao Estádio. Viu muita gente a dirigir-se para determinado local e resolveu tomar também aquela direcção. Encontrou-se à entrada do Dolce Vita. Impressionado com a grandeza do centro comercial, resolveu dar uma volta por todo o lado. Visitou inúmeras lojas, fez algumas compras e tomou algumas refeições. Como sempre, o Dolce Vita estava cheio de gente.

Foi durante esse périplo pelo Dolce Vita que encontrou um compatriota seu há muito radicado em Coimbra. Foi com ele que descobriu todo o encanto da cidade de Coimbra. Percorreram a Baixa, andaram no Bazófias, visitaram a Sé Velha e passaram o resto da tarde no Fórum.

Se Vladimir se havia admirado com a grandeza do Dolce Vita, ficou completamente embasbacado com o Fórum. Mais comida, mais bebida, mais uns passeios...Ele estava, realmente, a adorar Coimbra.

Passados dois dias, havia uma visita marcada para as ruínas de Conimbriga. Apesar de se sentir ligeiramente indisposto, o russo foi com o amigo. Toda a beleza daquele local impressionou Vladimir que tinha visto um postal com aquelas ruínas. Um numeroso grupo de turistas visitava também aquele local, tirando imensas fotografias.

A Baixa foi percorrida pelos cidadãos de Leste pela enésima vez. Muitas foram as pessoas que se cruzaram com eles nesse dia.

A noite conimbricense foi frequentada por Vladimir e seu companheiro. Cafés, bares e discotecas apinhadas fizeram parte do roteiro.

Estava uma manhã bem fria. O amigo de Vladimir já tinha planeado uns locais fixes para visitarem. Bateu à porta do quarto e Vladimir, com uma voz débil, sempre foi respondendo que naquele dia não lhe apetecia sair de casa. Sentia tonturas, passara mal a noite e não tinha condições de sair.

O amigo pensou que aqueles problemas físicos se deviam a alterações provocadas pelo jet lag e pelo cansaço provocado por viver Coimbra intensamente.

No dia seguinte Vladimir sentia-se pior. Quase nem se mantinha em pé, sentia-se realmente mal. O amigo resolveu levá-lo às urgências dos HUC. Apanharam novamente o 29. Em altura de grande actividade do vírus da gripe, o autocarro ia atulhado de pessoas que tossiam, espirravam e assoavam-se ruidosamente. Ao mesmo tempo lamentavam-se e contavam as suas tropelias dos últimos dias passados a contas com o sindroma gripal. Vladimir estava convencido de que também ele tinha contraído a maldita gripe.

Na sala de espera das urgências era o pandemónio com muita gente afectada pela gripe. Eram cerca de onze da manhã quando Vladimir deu entrada nas urgências e meia-noite quando o atenderam e lhe deram ordem de internamento. O mal de que padecia era desconhecido e grave. Havia suspeitas de envenenamento por polónio 210.

Exames complementares demonstraram que, embora com uma pequena quantidade, Vladimir tinha de facto ingerido polónio 210. Passou alguns dias no hospital até ficar novamente pronto para disfrutar dos prazeres conimbricenses.

As pessoas de Coimbra é que entraram em pânico e entupiram as urgências dos HUC e dos centros de saúde. Muito medo tem o pessoal de morrer!

O Sol regressou, mas o frio era intenso. Nada de ilusões. Estamos em Dezembro e o Inverno aproxima-se a passos largos.

A minha irmã ia passar o fim-de-semana a casa. Ela aproveitou para fazer umas compras numa loja de chineses. Eu aproveitei e comprei uma camisola preta. Também fui ao mercado comprar umas sapatilhas pretas para a Zorba. Os meus sapatos não apareceram.

Em casa houve matança do porco. Carne fresca assava ao lume. Os torresmos quentes sabiam bem. Enquanto a carne assava nas brasas, eu estava sentada à lareira com a Feijoa ao colo. Estava-se bem ali.

Houve dois jogos de Futebol naquele sábado. No Bessa, o Boavista bateu o Beira-Mar por 3-0. Em Setúbal o Sporting venceu a equipa local por 0-3. Liedson regressou aos golos e o Sporting regressou às vitórias. O “Levezinho” marcou logo por duas vezes.

E nada mais se passou.

Situação do dia:
O árbitro Paulo Pereira escorregou e deu um valente trambolhão. O público foi às lágrimas. Aposto!

Bacorada do dia:
“Eu gosto de comida de casa e caseira.” (Não me ocorre a diferença entre uma e outra. Talvez a comida caseira seja confeccionada e ingerida em casa e a de casa é aquela que pode ser comprada fora mas que é ingerida em casa.)Uma lesão.)

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