Wednesday, April 27, 2022

“Uma praça Chamada Liberdade” (impressões pessoais)

 

Há livros que nós pegamos neles para ler, salvo seja, uma vez que são digitais, e pensamos que só vão ser lidos no intervalo de séries policiais ou algo assim. Pensamos nós que estes livros, por serem mais curtos, vão passar por nós e não vão deixar algo. Já me tenho enganado e agora voltei-me a enganar outra vez.

 

Companheiros nossos brasileiros partilharam uma vez este livro e só agora o enquadrei para ler. Tinha a coluna quase sem bateria e precisava de um livro para ler nos intervalos dos outros. Tendo pouco mais de uma hora de duração, seria ideal.

 

Bem, depressa verifiquei que de facto este livro seria diferente. Dois poetas brasileiros sentam-se em bancos diferentes de pontos diferentes da praça da Liberdade em Belo Horizonte- minas Gerais. Os dias e as horas de observação são os mesmos.

 

Os dois autores vão anotando o que acontece na  praça. As pessoas  que passam, o que trazem vestido, o que estão a fazer, por vezes o que dizem. O estado do tempo e as cores são aqui amplamente narradas pelos autores- um homem e uma mulher.

 

Há algumas diferenças entre as notas dos autores do livro. Para além de estarem em lugares da praça distantes um do outro, a forma de sentir e abordar o que veem é ligeiramente diferente. Ela dá mais atenção às pessoas e por vezes mete conversa com elas, anotando excertos desse diálogo.

 

O mais interessante é que os autores deste livro convidaram também um escritor deficiente visual. Não sei se el é cego   total mas suponho que sim. El vai num período de observação para junto de um dos autores do livro e no outro período de observação da  praça vai para junto do outro. Então ele tira notas no IPhone com recurso a um teclado externo. Ele descreve todo um outro mundo baseado nos sons, cheiros, excertos de conversas, deslocação do ar até. É sem dúvida muito interessante.

 

Esta ideia de se sentar num banco de uma praça e anotar o que se vai vendo já não é original. Aqui a originalidade reside no facto de terem sido duas pessoas juntas a narrar o que observam. Tiveram a participação de uma terceira pessoa que é deficiente visual e isso tornou este livro ainda mais especial.

 

Já antes um escritor francês havia empreendido semelhante projeto, o da simples observação do que se passa num espaço público.

 

Um dia destes irei tentar fazer a mesma coisa, o local já está escolhido. Aliás, eu já faço de certa forma isso quando já aqui tenho narrado acontecimentos passados nas paragens dos autocarros. Haverá material suficiente para um livro? Vou pensar nisso…

 

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