Sunday, April 24, 2022

“Novas Cartas portuguesas” (impressões pessoais)

 

Estamos em vésperas de mais um 25 de abril. Bem apropriada a leitura desta obra tão falada por desafiar convenções e ordens sociais.

 

Este livro veio sem dúvida abalar os alicerces da sociedade por ser tão arrojado e atentar contra a moral, como apregoava a Censura. Este caso ficou conhecido como o “processo Das Três marias” em alusão ao primeiro nome das suas autoras- Maria isabel barreno, maria teresa Horta e Maria Velho Da Costa.

 

Trata-se de uma obra estruturada de uma forma complexa mas o seu conteúdo ousado e arrojado denuncia a condição das mulheres portuguesas que nada mudou ao longo dos séculos. Trata-se de uma espécie de manifesto onde as escritoras dão largas ao seu descontentamento face ás injustiças sociais de que são vítimas as mulheres. Elas expõem de uma forma crua diferentes tipos de injustiças e maus tratos de que padecem as mulheres que nem donas do seu corpo podem ser.

 

Usando os mais variados géneros literários, as autoras usam linguagem e comportamentos vedados então ás mulheres em público, daí este livro ter causado tanta celeuma por cá e ter causado grande agitação no Estrangeiro, nomeadamente em França onde foi amplamente divulgado e causou indignação pela sonegação dos direitos das mulheres no nosso país.

 

Se hoje nos causa indignação como as mulheres são tratadas no Médio oriente, não podemos deixar de pensar que há quarenta e oito anos não era muito diferente por cá e isso nada tem a ver com religiões. Eu já disse aqui que em tempos, se calhar quando ocorriam estas situações por cá, o Irão por exemplo, era uma sociedade mais aberta. Na minha opinião, isto tem mais a ver com a política do que com a religião.

 

Agora podemos ler este documento sem tabus. Felizmente que aconteceu o 25 de abril e estas ideias estúpidas foram completamente abolidas, apesar de ainda acharem resistência em alguns meios. Ninguém vai para a cadeia ou é torturado simplesmente por pensar e lutar pelos seus direitos. Felizmente que tudo isso acabou.

 

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