Tuesday, December 21, 2021

Naquela noite ninguém se deitou

 

21 de dezembro de 2112, havia alguma coisa estranha no ar. Aquela noite estava anormalmente quente e abafada. Era inverno? No calendário seria mas desde há cinquenta anos que as temperaturas rondam os vinte e oito graus, mesmo em dezembro. As noites ficam bem mais frias, podendo descer até aos dez graus mas as temperaturas negativas fazem parte do passado.

 

Ano após ano, estranhos fenómenos se fazem sentir. Ora chove muito, ora passam meses sem uma gota de precipitação. Há cidades e aldeias que  não são como as conhecemos há cinquenta anos.

 

Nesta zona de que vos falo, existem poucas habitações. Trata-se de uma aldeia com umas cinco ou seis casas. Nada mais. Existem poucas árvores frondosas. A vegetação é rasteira e pouco verde. Este pormenor vai fazer toda a diferença para o que á frente vou narrar.

 

Nesse dia 21 de dezembro de 2112 a noite estava anormalmente clara. Uma Lua muito estranha ocupava grande parte do Céu. Parecia que estava prestes a se aproximar perigosamente da terra. Andar por aqueles trilhos pedregosos àquela hora era como se fosse de dia. Logo ali as pessoas ficaram alerta.

 

Cerca de duas horas mais tarde, com alguma gente na rua dessa localidade e de localidades vizinhas, a lua ganhou uma tonalidade de um laranja vivo. Imagens foram capturadas e partilhadas. Escapou aos media darem qualquer noticia de algum fenómeno astrológico.

 

A atmosfera estava muito estranha. Até parecia que as pessoas, novos e velhos, adultos e crianças, eram compelidos por uma força invisível a sair para a rua. Já passava das dez da noite.

 

Um traço de um verde brilhante riscou o Céu. A primeira pessoa que o viu- uma mulher com os seus sessenta anos- logo sacou de um rosário e começou a rezar com o pavor estampado no rosto. De facto, com os acontecimentos dos últimos sessenta anos, as pessoas voltaram a ser tementes a Deus ou a outra força superior que não compreendessem.

 

Um clima pesado intensificava-se. Havia algo no ar. Um presságio de algo grandioso que os astros iriam revelar.

 

Seis minutos depois do  surgimento do risco verde, uma repentina luz roxa atravessou o Céu velozmente. Por momentos o clarão ofuscou tudo em volta. Poucos segundos depois, um enorme estrondo fez saltar as pessoas que teimavam em olhar para cima. O crepitar de um fogo e intenso cheiro a queimado invadiu as narinas dos presentes. Foi então que se viraram. Um risco de fogo anormalmente bem traçado consumia a pouca vegetação rasteira que por ali havia.

 

A eletricidade no ar e o tempo abafado foram-se intensificando. A lua parecia maior e agora de um tom mais vermelho. Uma outra luz mais pequena branca e brilhante surgia logo abaixo. O que seria?

 

Poucas palavras eram trocadas. As pessoas estavam impávidas de mais para dizerem alguma coisa. O Céu ia mudando quase de minuto a minuto. Agora apresentava-se mais escuro á medida que a Lua também mudava de cor. Entretanto aquela luz que a acompanhava já era maior.

 

Quem olhasse com mais atenção, podia ver um ponto negro e uns raios dourados surgindo daquela estranha luz que nunca tinham visto.

 

Uma certa confusão mental foi sentida por todos. Começaram a sentir o corpo leve. Era como se fossem sugados lentamente na direção do Céu mas continuavam de pés assentes no chão.

 

Cinco minutos depois, a luz branca já quase ofuscava a lua. A noite tornou-se mais escura, misteriosa e sombria. Um certo medo invadiu o espírito de todos os presentes. Apesar disso, ninguém tinha a coragem de arredar pé dali e ir para casa dormir. Quase de certeza que não havia ninguém dentro de casa. Tudo foi impelido para a rua para ver sabe-se lá que prodígios da natureza. A natureza parecia estar a convocar os seres humanos todos do universo para contemplarem mais uma prova de força que tecnologia nenhuma pôde prever. Volto a referir que em parte nenhuma surgiu informação de algum fenómeno astrológico ou climatérico estranho.

 

De repente ficou mais frio. A noite também ficou muito mais escura porque a Lua agora não passava de um pequeno ponto de cor violeta num Céu quase negro e sem estrelas.

 

Agora trocavam-se palavras sussurradas. Naturalmente que o tema seria aquela estranha luz que não parava de aumentar e exercer uma influência estranha sobre todos.

 

Os animais, anormalmente calados nessa noite, começaram-se a manifestar. Cães uivaram, corujas piaram e galinhas batiam as asas em galinheiros próximos. Algo iria acontecer.

 

Faltavam dez minutos para a meia noite quando um estrondo imenso se fez sentir. Agora sim podiam ver-se nitidamente raios cor de fogo surgirem daquela bola de luz branca que ofuscou a lua.

 

Alguns raios de fogo atingiram a Terra mas mal tocavam o solo. De repente, o Céu cobriu-se de espessas nuvens. Eram de uma tonalidade verde e contribuíram para o cenário surreal da paisagem.

 

Grossas pingas de água começaram a cair. Ao mesmo tempo, a trovoada irrompeu. As pessoas começaram a dispersar mas ainda olhavam para trás, apesar de a chuva ser copiosa.

 

Ninguém estava com vontade de se ir deitar. Cansaço não existia. Mesmo crianças de tenra idade estavam anormalmente despertas. Uma estranha energia invadia os corpos humanos. Dava-lhes a sensação de serem imortais, de se fundirem com a natureza. Sentiam-se magnéticos, muito estranhos mesmo.

 

Pessoas que outrora tinham dores e doenças não sentiam nada. Mal sentiam os seus corpos físicos. Muitas, livres de dores que as atormentaram durante anos experimentaram correr. Imediatamente outras lhes seguiram os passos e, a pouco e pouco, toda a gente experimentou a maravilhosa sensação de correr sem o mínimo de cansaço ou desconforto.

 

Não  se sabe o que se passou, que maravilhas foram operadas nessa noite. Ninguém teve a necessidade de jamais se deitar para descansar. O pensamento voava, toda a gente estava mais rápida, mais ágil, com imaginação, criatividade, uma sensação de leveza e desprendimento era comum a todos.

 

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