Wednesday, August 28, 2013

Eelke Van Der Wal


Isto merece um post e o protagonista dele merece da minha parte toda a minha admiração e o meu apreço por ter tido a coragem de se embrenhar pelo Mundo-Cão que é o do Desporto Adaptado.

Tudo começou quando resolvi ver na Wikipedia o histórico dos campeonatos nacionais da Holanda de Ciclismo normal. Entende-se por Ciclismo normal aquele que é praticado por atletas ditos normais, sem deficiências. Comecei por ver por onde andavam alguns atletas holandeses que, tendo alinhado ou não na Rabobank, me habituei a conhecer. Houve uma certa altura em que conhecia melhor o pelotão de equipas holandesas do que o das equipas portuguesas. Estou a falar a sério. Isso foi aí em 2004 ou coisa assim.

Voltando ao presente, passei os olhos pelo ano em que o veteaníssimo ciclista Rudie Kemna da Bankgiroloterij (equipa que nas suas fileiras contava com antigos ciclistas da Rabobank e que na altura era a segunda equipa holandesa) venceu o Campeonato Nacional de Estrada. Isso foi em 2003. E foi por aí que me lembrei de ir ver o que andava a fazer um ciclista que por acaso e com muita pena minha, com alguma estranheza até, nunca alinhou na Rabobank. Em 2005 aquela equipa desmembrou-se e a Rabobank foi recuperar para a equipa continental dois ciclistas de lá, um deles com alguma surpresa mesmo, o outro porque a Rabobank deve ter feito como o Benfica este ano (contrata um atleta e contrata também o irmão dele). Esses dois ciclistas acabaram as carreiras no final da época e não ficaram ligados ao Ciclismo. Este Eelke Van Der Wal estranhamente não fez parte das aquisições para uma equipa continental da Rabobank que tinha o Kai Reus, o Stef Clement, Hans Dekkers (por onde anda esse?) e outros mais. Essa equipa está imortalizada porque tenho em casa algumas coisas que eles gentilmente me ofereceram. O grande ciclista dessa equipa era indubitavelmente o Kai Reus.

A minha lembrança ainda continua no ano de 2005 (seguramente um dos piores anos da minha vida pelo que aqui tem sido amplamente relatado). Na Volta ao Algarve desse ano estiveram presentes as equipas holandesas Rabobank Continental e a Shimano onde ainda alinhava o Eelke Van Der Wal que ainda lá ficou com o Laurens Ten Dam até. O Senhor Rogério Teixeira era uma das pessoas com quem mantinha contacto e que me estava a ajudar. Nesse ano estava fora de hipótese qualquer encontro com a equipa Rabobank porque havia sofrido uma operação aos olhos há pouco tempo. Já não me lembro como entrei em contacto com ele e ele prontamente me ajudou e ia-me relatando as incidências da prova. Sempre era um conforto. Refira-se que naquela altura estava a fazer uma autêntica travessia no deserto que estava longe de chegar ao fim.

A Volta ao Algarve de 2005 tinha começado e eu estava no meu computador lá em casa. A Internet era muito lenta nessa altura mas era o que tínhamos. Nesse dia tinha vindo de uma consulta e o que tinha ouvido não era lá muito animador. Estava completamente em baixo. Onde iria eu parar? O Eelke Van Der Wal era conhecido por entrar em longas fugas. Numa ocasião foi apanhado a escassos metros da meta. Deve ser frustrante, não? Isso a ele acontecia-lhe muitas vezes. Era a maneira de ele andar na estrada. Cá pelo burgo havia um ciclista igualzinho de nome Pedro Martins. Era igualmente conhecido por protagonizar longas fugas e morrer na praia como se costuma dizer por cá. Salvo erro ele alinhava no Tavira. Naquela noite algo triste, eu estava a ver as fotos da primeira etapa da Volta ao Algarve de 2005. A maioria das fotos eram de dois fugitivos. E não podiam ser outros, que não Pedro Martins e Eelke Van Der Wal. Os especialistas nestas coisas. Não deixei de esboçar um sorriso. Era um duelo incrível. O mais difícil de alcáçar foi o holandês, a escassos quilómetros da meta. No dia seguinte ia para Lisboa a um almoço de atletas deficientes visuais. Comprei um jornal e lá estavam as mesmas fotos daquele fabuloso duelo dos experts mundiais em longas fugas na estrada.

Depois da Volta ao Algarve terminada, falava animadamente com o Senhor Rogério Teixeira. Esse telefonema esteve bem vivo na minha mente aquando do acidente do Kai Reus em 2007. Ele disse-me que só o puto-maravilha da Rabobank tinha concluído a prova. Os outros tinham sido desclassificados algures numa subida que lá havia. Falei-lhe do Eelke Van Der Wal e do duelo travado com o Pedro Martins. Ele salientou o carácter humano daquele jovem que se veio despedir dele. Ele chegou a vestir a camisola da montanha na Volta ao Algarve no final da etapa daquela fuga. Lembrei-me dessas palavras quando hoje olho e vejo ao que ele se dedicou.

Depois o Eelke Van Der Wal começou a andar por equipas cada vez mais pequenas. Quando estava a aprender Holandês li uma entrevista dele em que dizia que conciliava o Ciclismo com os estudos. Queria concluir o curso universitário. Presumo que se tenha licenciado em Educação Física ou algo do género.

Bem, ando para aqui a divagar e vocês doidos por saber por onde anda o Eelke Van Der Wal hoje. Pois bem, ele é o seleccionador holandês de Ciclismo Adaptado. A minha dúvida é se é só dos deficientes motores ou é de todas as deficiências. O que interessa é que ele abraçou o desafio de treinar estes cidadãos que, embora atletas de pleno direito, vêem os seus feitos mencionados nos jornais apenas de quatro em quatro anos quando há Jogos Paralímpicos. Pelo menos cá pelo burgo é assim.

Da minha parte resta-lhe desejar a melhor sorte do Mundo.

No comments: