Monday, February 11, 2013

“Quem vos mandou ir lá para o fundo?”

Foi bem cedo que iniciei mais uma saga de mais uma das minhas sempre indesejadas idas aos Covões.

Nesta manhã fria, estive pouco tempo à espera de um Catorze que me levasse ao meu destino. E incrível o facto de sempre não ter senhas quando necessito de andar de autocarro. Lá tive de pagar bilhete e teria também de tirar outro à vinda para ca.

Dentro do autocarro estava quente e já me vinha a dar a moleza. O autocarro trazia o dispositivo de anunciar as paragens ligado desta vez. Sempre era uma ajuda para não adormecer ou me distrair.

Saí mesmo pela porta da frente. Sentei-me numa das cadeiras da consulta externa e já estava a pegar no sono quando os balcões abriram. Já planeava começar a discutir caso tivesse de pagar taxas moderadoras mesmo sendo portadora de Certidão Multiusos. Comecei por ensaiar o protesto mas tudo acabou bem e não paguei.

Sentada numa das cadeiras estava uma senhora aflita com problemas digestivos dos excessos que cometera na véspera. Esta gente sabe que tem de vir para longe às consulta e põe-se a comer iguarias pesadas que nem alarves? Estava em bom sítio, isso estava.

Dirigi-me ao sítio do costume, junto aos consultórios que eu já conheço de cor. Sempre fui para ali e não para a sala de espera. Nunca ninguém me havia dito nada.

Estava eu sentada junto aos consultórios quando ouvi um estrondo. A televisão tinha avariado e faziam esforços inglórios para a colocar a funcionar minimamente.

Andava uma auxiliar de farda azul e um casaco da mesma cor, mas de uma tonalidade mais escura, a berrar por mim na sala de espera. Eu berrei também de onde eu estava, anunciando que já estava à porta da consulta. Ela não ouviu e continuava a chamar-me aos gritos. Eu gritei ainda mais alto. Cheguei mesmo a colocar o braço no ar mas ela estava à entrada e não viu. Ela começou (ainda no mesmo registo) a chamar outras duas pessoas. Por incrível que pareça, respondeu-lhe uma senhora que ela não tinha chamado e que estava sentada também junto aos consultórios. A auxiliar pensou que fosse eu e perguntou:

- Quem a mandou vir para aí para o fundo? A sala de espera é aqui!

A senhora disse que a tinham mandado esperar ali. A auxiliar perguntou-lhe o nome (ainda pensava que estava a falar para quem tinha chamado antes e que era eu). Ela disse que se chamava Arlete. Ela começou-me a chamar novamente. Eu respondi. Chamou as outras duas pessoas que estavam lá mais para o fundo. Ao ver que se estava a esganiçar e que toda a gente estava junto aos consultórios, a auxiliar de azul ficou agastada e continuou a perguntar:
- Quem vos mandou para aí?

Um coro variado de vozes respondeu no mesmo tom, que tinha sido lá fora. A mulher de azul regressou à sala de espera e continuou a chamar mais alguém.

Fui a primeira a ser chamada para a consulta. Despachei-me cedo. A pressão ocular não estava alta.

Algo me intriga entretanto. Volto lá para Novembro mas agora tenho de fazer campos visuais antes de cada consulta.

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