Sunday, July 30, 2006

Ataque de choro

Acordei sobressaltada sem perceber o que se estava a passar. Estava confusa! Ouvi qualquer coisa que me fez acordar de repente. Era o já esperado temporal que se fazia sentir lá fora sem dó nem piedade de quem queria dormir. Virei-me para o outro lado, mas tive a sensação que a minha cama andou uns centímetros devido ao estrondo incrível de um trovão que sacudiu tudo e fez cair algumas coisas que estavam em cima da mesa. Palavra de honra que pensei que era um tremor de terra. Ainda não estava bem acordada e a ouvir aquilo...

Continuava a chover como se fosse Inverno. Estava escuro quase como se fosse noite. Que raio de tempo! Agora que o Verão está à porta é que o tempo se põe assim? Como anda mudado o clima!

Era um dia marcado pelo início dos Campeonatos do Mudo de Ginástica Acrobática. Finalmente! Haveria a cerimónia de abertura que é sempre um momento especial, tão especial que há pessoas que vão para lá com o saco lacrimal carregado até abarrotar.

Tentei ir mais cedo para o Pavilhão de modo a presenciar os preparativos para o início dos eventos. Fui ver alguns treinos e tive o primeiro contacto com mais uma modalidade desportiva que eu não conhecia. Fiquei maravilhada com as habilidades que aqueles atletas faziam. Como é possível fazerem aquilo? Gostei particularmente de um grupo de chineses que faziam uns exercícios espectaculares.

Nas bancadas eram outros que despertavam a minha atenção. Já à hora do almoço tinha-me cruzado com alguns deles. Parece que ninguém ali falava inglês, o que era um verdadeiro desperdício. Tanto que eu queria falar com alguns deles! Achava-os especiais!

Acabaram os treinos. Foi dada ordem para que todas as pessoas do público saíssem de modo a preparar tudo para os momentos que aí vinham.

Os voluntários também tinham de se preparar para ocupar os postos onde iriam ficar. Eu fiquei na porta por onde entravam e saíam alguns intervenientes no espectáculo.

O Pavilhão ficou mergulhado na mais profunda escuridão de modo a ser criado um certo ambiente. O que iria acontecer? Ao som de temas que marcaram outras competições desportivas, a cerimónia iniciou com o desfile de todas as delegações participantes. Foi nesse momento que uma certa nostalgia tomou conta de mim e me fez recordar os desfiles por que passei ao longo do tempo em que fui a grandes eventos.

Mas houve um momento que para mim foi fatal. Andem mais umas linhas para cima. Eu escrevi há pouco que havia algumas pessoas nas bancadas que despertavam em mim algo muito especial e que era uma pena não poder falar com elas. Pois eles passaram pelo local onde eu estava. Tinham de ali passar, para mal dos meus pecados! Tantos atletas de tantos países que ali estavam e só eles passaram por ali. É incrível! Iam alegres e divertidos a fazer o que, pelo que me deu a entender da pouca convivência com eles, são peritos em fazer: dançar. A música nem dava para isso mas...

Foi a partir daí que começou a minha desgraça. Comecei-me a lembrar do que se passou em 1999 no dia do desfile dos nossos campeonatos.

Jamais me esqueci do dia 7 de Setembro de 1999 e nunca me esquecerei por mais anos que viva. Foi um dos dias mais especiais da minha vida. Representava a Selecção Nacional pela primeira vez e havia também um desfile naquela tarde bonita. Os atletas estavam à espera de ordens para avançarem. Enquanto toda a gente esperava entrar no Estádio eu olhei em redor para ver quem ali estava. Havia uma delegação que, curiosamente e tal como esta, também surgiu do desmembramento da Antiga União Soviética. Eles não sabem uma de Inglês! Nesse dia também os achei engraçados. Também eram muito diferentes uns dos outros em termos físicos. Também não falei com eles e arrependi-me. Se calhar não podia fazer nada porque a falta de comunicação iria impedir que se tivesse qualquer tipo de diálogo. Na altura fiquei sem saber porque razão não os abordei.

Dessas memórias saudosas passei para outras mais recentes e fui vagueando nos meus pensamentos mais nostálgicos. Quando dei por mim chorava convulsivamente como a chuva que, entretanto, caía lá fora. Ainda hoje, e depois de ter passado algum tempo, me custa a entender o que se passou. Aquele pessoal passou por mim e eu fiquei assim. Parece que tinham feitiço! Principalmente um deles. Eu iria encontrá-lo todos os dias em que eles estiveram por aqui.

Algumas pessoas repararam que eu estava assim e perguntaram-me o que é que se estava a passar. Na verdade, nem eu sabia a razão pela qual fiquei naquele estado lastimável e vergonhoso. Sim, porque ir para uma cerimónia chorar que nem uma Madalena sem motivo aparente é uma vergonha. E saber que tudo se passou à rapidez de um trovão que ecoou lá fora e de uns rapazes que, simplesmente, se limitaram a passar no local onde eu estava?

Obviamente que nem reparei no que restou da cerimónia. Ela iria ser repetida uma semana mais tarde e eu iria ter uma segunda oportunidade de assistir ao espectáculo em si.

Bacorada do dia:
"Um dia tem sete dias." (realmente há dias que custam demasiado a passar.)

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