Thursday, June 29, 2006

Ser o pior dos péssimos




Estávamos numa aula e falou-se de qualquer coisa de competir. Então eu comecei a imaginar como seria uma competição ao contrário, isto é, para ser último.

As ideias foram surgindo na minha mente e eu nem conseguia disfarçar o sorriso. A aula de Mobilidade veio pôr cobro àquele momento de completa desatenção. A ideia de se treinar para se ser o pior era algo aliciante.

Sei que existe um clube de futebol brasileiro chamado Ibis que se orgulha de ser conhecido por ser o pior do Mundo. Inclusive eles apostam bastante no marketing para promoverem o seu insólito (in)sucesso. Eles devem ficar todos chateados quando uma equipa em qualquer ponto do globo consegue resultados piores que os deles de forma involuntária.

Houve uma equipa belga que foi considerada a pior do Mundo. Certamente que não era essa a intenção deles, mas conseguiram chatear os desgraçados dos brasileiros que investem forte para serem os piores.

Já estou a imaginar os treinos dessas respeitosas agremiações desportivas. Em vez de treinarem uma táctica para jogarem para o futebol-espectáculo, treinam para o espectáculo do ridículo, do falhanço, do pontapé na atmosfera à frente da baliza. A defesa treina arduamente para meter cada vez mais água e para ficar ainda mais presa de rins. Os laterais devem ser cada vez mais lentos. Os médios de cobertura só descobrem, os extremos-lentos e barrigudos- cruzam bolas rasteiras que passam toda a área e saem pela lateral a meio do terreno de jogo. E que dizer dos avançados? Esses seriam os mais toscos que alguma vez se viram jogar num campo de qualquer aldeia. As bolas não são cabeceadas, são ombreadas. Eles caem na área porque apenas tropeçam nas próprias pernas, não para iludir o árbitro que nem isso sabem fazer. Ah! Ia-me a esquecer dos guarda-redes- essas figuras sempre importantes numa equipa que luta para ser a pior. Eles levam à risca a expressão “mãos de manteiga” e antes dos jogos ou dos treinos besuntam-se com manteiga, margarina e tudo mais que faça a bola escorregar.

Os treinadores dessas agremiações de insucesso seriam pessoas que percebiam de tudo menos de futebol. No final de um jogo em que a equipa saia vitoriosa- quer-se dizer- perdia de goleada- o treinador mostrava-se contente. É que se venciam ele podia ser despedido. Já estava a ver como seriam as conferências de imprensa dos técnicos quando as coisas não lhes corriam bem, ou melhor, quando as coisas não lhes corriam mal.
-“O árbitro roubou-nos, expulsou o jogador da equipa adversária e nós ficámos em superioridade numérica. Depois marcou um pénalti a nosso favor, e o guarda-redes adversário deixou-a entrar.”
Noutra ocasião que a equipa perdeu por larga margem de golos, o mister apresentava-se sorridente na sala de imprensa. Então o repórter fazia-lhe a seguinte questão:
-“A quem dedica esta derrota?”

E os cuidados alimentares e de saúde desses atletas tão especiais? Isso seria fantástico! Antes de cada desafio seria uma feijoada ou um cozido á maneira para se sentirem pesados e indispostos e não jogarem nada. O álcool seria o doping. Não seria permitido um jogador entrar em campo protegido por Deus Baco sob pena de ser suspenso por dois anos. È que o álcool fazia com que a azelhice se acentuasse.

Outra coisa que seria interessante era os clubes andarem a ver quem dava mais pelo pior jogador do Mundo. Esse deveria valer mais que o Drogba, que o Ronaldinho ou que o Shevchenko. Devia ser interessante esse mercado. Quem investiria em tal coisa? Se calhar alguém farto de ver as mesmas coisas num campo de futebol.

Os jogadores eram descobertos por olheiros e empresários sem escrúpulos em jogos de rua e- no caso de se tratar de jogadores portugueses- nos jogos entre solteiros e casados de uma qualquer festa em honra do santo padroeiro lá da aldeia. O jogador mais “elegante”, aquele que passa o tempo todo sem tocar na bola, o que remata na própria perna ou o que passa o tempo todo no chão sem jogar nada são grandes candidatos a uma transferência milionária para um dos grandes colossos do futebol mundial. Mas da azelhice!

No futebol ou em qualquer outro jogo, esta de imaginar truques para ser pior que péssimo dá sempre azo a que se imaginem cenas hilariantes. Difícil é imaginar os piores do Mundo em desportos como o Ciclismo, o Atletismo ou a Natação. No entanto, não é impossível imaginar o que um atleta faz para ser último. Desde atar os sapatos um ao outro até correr com eles desapertados- no caso da corrida- até ficar mesmo para trás só para ver quem vai- tipo Armando (ver texto “Sonho e realidade”) -no caso do ciclismo. Na natação era levar algo que fizesse o atleta ir constantemente ao fundo e se atrapalhar todo na piscina. Enfim: um sem número de soluções para o objectivo final de ser o pior dos maus.

Realmente nesse dia estava animada e com ideias do arco-da-velha. Deve ter sido por ter ficado em local onde normalmente não fico. Voltando atrás, o dia amanheceu em Ílhavo cheio de Sol. Havia uma aragem fresca que vinha do mar. Com a minha colega e o seu cão fui até à paragem onde ela costuma apanhar cedo o autocarro para Aveiro. Foi nessa altura que me dei conta do sacrifício que ela faz todos os dias para se deslocar a Coimbra. Já dentro do autocarro havia uma senhora que ia fazer uns exames a Coimbra, mas não conhecia a cidade. O condutor ordenou a uma menina que a levasse e que me levasse também a mim ao comboio. Encontrar-me com o meu colega foi o cabo dos trabalhos. O reencontro deu-se já dentro do comboio. Esquecido o incidente, a conversa animou. O jogo da Holanda dominava ainda o conteúdo das conversas e falava-se da simpatia dos holandeses.

Nem tempo tive de ir a casa pousar as coisas que tinha levado. No intervalo iria a casa e traria tudo em ordem. E o quarto que estava sem luz! Sobre isso falamos mais tarde. Ou melhor, tive de falar com a senhoria à hora de almoço. Ela tinha medo que eu caísse de alguma coisa abaixo ao mudar a lâmpada, mas sem luz não podia fazer nada. Havia que se dar um jeito. Quando regressasse a casa iria ver o que podia fazer.

Era terça-feira e o treino deve ter sido baseado em velocidade. Já não me lembro em que consistiu o apronto porque estou a escrever este texto com quase um mês de atraso. É a vida sempre ocupada que tenho tido ultimamente.

Situação do dia:
Afinal como resolvi eu o problema da substituição de uma lâmpada num tecto alto onde uma pessoa baixa como eu não pode chegar? Tentei subir para a barra da cama, como tinha feito para retirar a lâmpada fundida. Só que colocar uma lâmpada era mais complicado que tirar uma lâmpada e os pés escorregavam dali. E agora? Decidi então arrastar a mesa para o meio do quarto. Antes disso tinha de tirar tudo o que lá estava em cima fazendo a balbúrdia que a foto documenta. Subi para cima da cama e depois para cima da mesa. Mesmo assim não era muito fácil chegar aos casquilhos. Aos casquilhos, disse bem. Para meu espanto aquilo levava duas lâmpadas, mas eu só lá coloquei uma que era como lá estava. Ainda por cima o interruptor estava ligado e eu apanhei um susto valente quando a lâmpada acendeu. Quase me desequilibrei. Depois dessa manobra tão arriscada havia que pôr as coisas tal como estavam. Missão cumprida!

Bacorada do dia:
“Como é que se chama a casa dos iglôs?” (ESQUIMÓS!)

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