A noite estava escura e fria. Lá fora a chuva e o vento açoitavam as janelas. Uma inexplicável melancolia tomava conta do meu espírito. Deitada na cama, apenas com a cabeça de fora dos cobertores, escutava o som da chuva e do vento. Desde pequena que sempre achei estes sons reconfortantes. A melancolia deu lugar a uma agradável sensação de aconchego. E então adormeci sem que disso me tivesse dado conta.
vi-me de repente sozinha numa praia. Os pés pisavam a areia morna. Era uma sensação agradável e relaxante. A temperatura estava amena e a Lua maior que alguma vez vi enfeitava o Céu.
O Mar estava calmo, cor de prata. Aproximei-me da rebentação. A água estava morna, na temperatura perfeita. Convidava a um banho tardio.
Uma brisa agradável brincava com o meu cabelo. Sentia-me livre, solta, desinibida.
Devagar tirei a roupa e entrei na água. Ao fundo, o reflexo da Lua emprestava tonalidades de prata ás ondas.
Enquanto deslizava na água, ia sentindo uma leveza inigualável. Sentia uma paz profunda. Absorvia avidamente cada uma das sensações que povoavam corpo e espírito.
Não me apercebi de que tudo isto era um sonho. Um sonho muito vivido. Daqueles que emprestam um realismo inacreditável às nossas experiências noturnas.
Apenas queria nunca mais regressar. Ficar ali para sempre. Sentar-me na rocha lá ao fundo e olhar o horizonte.
Foi para essa rocha lá ao fundo que me dirigi. Sentei-me. Ainda com o corpo molhado, vesti-me e tirei um livro de um saco que tinha trazido. Abri-o.
O luar mais brilhante e maravilhoso que alguma vez vi permitia-me distinguir perfeitamente o que estava escrito naquelas páginas. Era um livro de poesia.
Confesso que não sou grande apreciadora de poesia mas estava emocionada ao ler os poemas daquela pequena obra. Eram poemas de paz, de amor. Mensagens positivas. As cores mais brilhantes que alguma vez vi dançavam nas páginas.
Pouco a pouco, fechando lentamente os olhos, imaginei-me junto a uma árvore. Essa árvore tinha todos os tipos de frutos. De todas as cores, numa mistura de aromas e texturas.
Sentei-me ali. O sol vestia de um verde bem vivo a relva. Ao fundo havia um trilho. Olhava para ele. Queria ir mas também queria ficar ali.
Optei por me levantar e explorar aquele caminho que me levaria até algum lugar. Estava-me a chamar. A gritar mesmo pelos meus pés. A implorar que o percorresse.
Fui caminhando sem destino. Não estava muito preocupada com o que ia encontrar no fim. O Sol brilhava. A temperatura estava agradável.
Num passo de magia, daqueles que só são possíveis em sonhos, continuava a caminhar, desta vez junto ao Mar. na mesma praia onde inicialmente começou esta viagem noturna.
Quanto mais caminhava, melhor me sentia. Algo se desprendia do meu corpo, do meu espírito.
De repente, deixei de sentir os meus pés a tocarem a areia. Apercebi-me de que flutuava um pouco acima das ondas. O reflexo da Lua nas ondas era simplesmente maravilhoso.
Fui impelida por uma qualquer força. Uma força que me transmitia segurança, não medo. Ia olhando para o horizonte. Sentia que algo grandioso me ia ser mostrado. O que quer que fosse que me estava a impelir, ia-me proporcionar algo inesquecível.
Mais à frente havia um enorme monte de areia ladeado de rochas de um lado e do outro. Percebi onde estava. Conhecia aquela praia. A sensação de segurança intensificou-se. Estava em casa.
Voltei a tocar o chão. Aquela sensação agradável do contacto dos meus pés descalços com a areia morna encheu-me de prazer.
Olhei em redor. Para além daquela luz prateada nas ondas, outro foco luminoso surgiu timidamente. O que seria aquilo?
Parei. Comecei a olhar para o ponto de onde vinha aquela estranha luz. Ela estava-se a aproximar, a ficar cada vez maior.
Reparei que ela tinha a forma humana. Não me assustei. Bem pelo contrário. Sentia uma forte presença de paz e segurança.
A figura luminosa caminhava sobre as ondas prateadas. Vinha na minha direção. Ia ficando cada vez mais ébria de felicidade. Nunca me senti assim antes.
O braço luminoso tocou o meu ombro. Fui tomada por uma energia positiva que ativou todas as células do meu corpo. A figura passou a estar iluminada de todas as cores que conheço e de muitas outras que nunca tinha visto.
Pareceu-me ouvir uma voz no meu interior que me disse: “Não te preocupes! Tudo vai correr bem. Deves seguir em frente sem olhar para trás!”
Acordei. Ainda sentia aquele frémito de energia a percorrer-me o corpo. A chuva e o vento ainda martelavam as janelas do meu quarto. Já não estava tanto frio.
Com um sorriso rasgado na minha face, tentava absorver o que me tinha acontecido. Foi o sonho mais maravilhoso que visitou as minhas noites até hoje.
Foi pena ter acordado mas sentia uma força interior inexplicável que me deu alento para enfrentar todos os obstáculos e barreiras que surgem no meu caminho.
Aquela luz deu-me esperança, acendeu em mim a chama da felicidade. Algo de grandioso se transformou em mim naquela noite. As coisas mais bonitas que podem haver não custam dinheiro. Basta ter persistência e força de vontade de transformar o Mundo, que logo a ajuda surge quando menos se espera.
O importante é nunca desistir.
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