Tuesday, August 25, 2020

“Vai para o autocarro, não?



Quando aconteceu uma situação destas pela primeira vez há uns meses, eu achei estranho, pois nunca me tinha acontecido e nem alguma vez ouvi contar a alguém. E acreditem que nós, deficientes visuais, contamos muitas das tropelias que nos acontecem na rua aos nossos amigos.

Esta história aconteceu na mesmíssima paragem onde aconteceu a anterior.

Tal como da outra vez, saí pela porta traseira do autocarro e tive de passar para a frente do veículo para prosseguir até casa. O caminho era em frente.

Ia a passar junto da paragem quando uma senhora me abordou e proferiu a pergunta que dá título a esta história.

Mais uma vez sorri e disse que de dentro do autocarro vinha eu e que me deslocava para o meu humilde domicílio.

Tal como da outra vez em que isto aconteceu, eu depreendi que estes estranhos episódios acontecem porque com a pandemia, os lugares da frente dos autocarros onde nos normalmente nos sentávamos estão vedados ao publico. Temos de ir mais para trás e já fica mais perto sairmos pela porta traseira.

Ora as pessoas habituaram-se anos a fio a nos verem sair pela porta da frente. Quando não reparam que saímos por trás, as pessoas, quando passamos pela porta da frente dos veículos já cá fora, agarram-nos pelo braço e encaminham-nos para a porta da frente do autocarro que nos acabava de deixar ali.

As pessoas que protagonizam estes episódios nunca são as mesmas.”

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