Sunday, August 30, 2020

Carta aberta a Graça Freitas (sem Desporto, não há Saúde)



Ex.ma Presidente da Direção Geral da Saúde, dra. Graça Freitas,

Venho por este meio manifestar o meu profundo descontentamento com as normas emitidas há poucos dias para a retoma das modalidades ditas amadoras.

Sei que as normas desagradam a muita gente mas nós, ligados de uma forma ou de outra ao desporto adaptado e ao desporto de pessoas portadoras de deficiência ainda estamos mais agastados por um órgão do estado pura e simplesmente se esquecer de nós.

Os cidadãos portadores de deficiência já carregam o fardo de todos os dias enfrentarem as agruras de um mundo que não está pensado para satisfazer as suas necessidades especiais. O Estado, que nos devia proteger e proporcionar uma vivência plena dos nossos direitos de cidadania, por vezes é o primeiro a negligenciar esses direitos e necessidades.

Quando surge algo de novo, como é o caso destas contingências da pandemia, são criadas normas de exceção que voltam a cavar um duro golpe nos direitos que fomos adquirindo na nossa condição de seres humanos como os outros mas que temos de ter algumas condições especiais para exercermos os nossos direitos e deveres enquanto cidadãos.

Ao longo de décadas, os atletas portadores de deficiência lutaram muito e ainda continuam a lutar por simplesmente usufruírem do direito á prática desportiva que ainda se encontra aquém do desejável num país que pertence á União Europeia e apregoa ser um país civilizado.

Ao adotar estas normas de exceção perante a pandemia de covid 19, o desporto praticado por cidadãos portadores de deficiência foi tristemente esquecido. Atletas que tanto trabalham para participar em competições internacionais que tantas medalhas têm dado ao nosso país ou aqueles que simplesmente veem no Desporto uma forma de se sentirem vivos e capazes só se podem sentir desiludidos com uma instituição do Estado que devia zelar pela Saúde de todos.

Sendo o Desporto um dos principais veículos para um corpo e uma mente saudável, especialmente para quem tem uma deficiência, tal benefício é ainda maior. Particularmente para a deficiência visual que é o meu caso, a prática desportiva é mesmo fundamental para a autonomia motora e espacial.

Nós, que vemos mais uma vez um documento oficial do Estado a nos ignorar, não baixaremos os braços. As nossas vozes serão ouvidas até ensurdecer os nossos governantes.

Queremos ter pleno direito á atividade desportiva e, por conseguinte, a uma vida saudável e autónoma.

Cordiais cumprimentos:

No comments: