As sapatas da minha mãe, os halteres e a camisola de treino do Anadia

Eis-me de volta a casa muito tempo depois. Foram mais de seis meses sem ver a minha família.

Esta pandemia afastou-nos porque os meus pais já têm alguma idade e estaria a arriscar ao vir de transportes públicos até casa. Nunca se sabe quando contraímos o vírus.

A pandemia também levou a que não se fizesse a festa em honra de Nossa Senhora do Ó.

Apesar disso, a família reuniu-se à mesa para saborear os tradicionais petiscos, especialmente chamfana e leitão.

Quando cheguei a casa, procurando algo para calçar, encontrei á minha espera debaixo da minha cama um par se chanatas daquelas de borracha ou de plástico (não sei bem que material é aquele). Daquele calçado que se vende agora no verão.

Eu tinha muito calçado desse mas algum estragou-se.

Não indo a casa há muito tempo, por vezes esqueço-me do que tenho.

Calcei aquele calçado mas logo notei que me estava apertado. Tinha de dobrar os dedos dos pés para lá caber. Achei estranho mas não liguei.

Á noite, olhando para os meus pés, a minha mãe perguntou-me onde tinha arranjado aquelas sapatas. Eu disse que estavam direitinhas debaixo da minha cama. Foi quando ela me disse que tinha corrido a casa inteira á procura delas já há algum tempo. Rindo-me a bandeiras despregadas com a situação sempre fui dizendo que não precisei de me esforçar muito para as encontrar.

No dia seguinte, ela comprou-me umas parecidas.

Por falar em descobertas, lembram-se de eu no outro dia ter descrito uma camisola cinzenta com umas riscas verde escuras? Essa camisola também estava lá em casa. Eu trouxe-a para aqui.

Outra coisa que procurei foram os halteres. Também tive outra surpresa. Todos os halteres estavam arrumados lá em casa. Os meus e os que trouxe da ACAPO. Tenho um dia destes de pedir a alguém que os traga para aqui.

Ainda outra história prendeu-se com camisolas de aquecimento de clubes de futebol que o Paulo Adriano deu ao meu pai. Então no dia do almoço, o meu pai envergava uma camisola da Académica. O meu vizinho logo a gabou e o meu pai disse que tinha lá mais roupa e que até lhe dava alguma coisa.

Segui-os para o terraço. Havia no saco algumas camisolas da Académica…e uma outra camisola que vi ainda que era de cor verde. Ainda consigo ver algumas cores. O meu vizinho disse que aquela camisola era do …Anadia. Eu estranhei: uma camisola do Anadia verde? Lembro-me que o equipamento do Anadia é azul e branco, igual ao da futura equipa do Taremi. O emblema também tem algo verde, é certo. De referir que se trata de uma camisola de treino ou de aquecimento.

Vesti-a. O meu pai disse que podia ficar com ela.

Quando o pai do Paulo Adriano foi lá a casa, viu-me com a camisola vestida. Fazia algum frio naquela tarde de domingo e já estava a anoitecer.

Também a trouxe para cá.

E assim se passou um fim de semana animado na companhia dos meus. Deu para matar saudades.