Tuesday, July 16, 2013

“Passarinho Da Ribeira”- António Menano (música Com memórias)



Sabemos que crescemos e, não tarda, estamos a caminhar para a velhice quando damos conta de que a nossa perspectiva e a nossa percepção de certas músicas vai mudando, em alguns casos de forma radical. Um dos exemplos disso é o tema “Romaria” da Elis Regina que passou de insuportável quando eu tinha aí uns cinco ou seis anos até ser um dos meus favoritos nos dias de hoje. Outro exemplo é “Lover Why” dos Century que era sempre o tema que liderava a tabela e não deixava os meus temas favoritos liderar. Hoje é para mim uma das melhores baladas que conheço.

Com este tema que hoje aqui trago passa-se exactamente o mesmo. Ouvia-o muito quando era pequena. No rádio lá de casa que ainda existe e ainda deve trabalhar. Quem ouvia música? O meu pai nos serões em que não tínhamos televisão porque se tinha avariado e estava no conserto, naquelas longas noites de Inverno em que chegávamos da escola e apenas nos contentávamos com o rádio do meu pai os temas que na altura eu achava melancólicos.

Também a minha avó ouvia muita música, musica portuguesa. Chegava mesmo a cantar algumas músicas antigas e penso sem ter certeza que cantava esta. A minha avó cantava muito bem, lembro-me perfeitamente.

Os anos foram passando e vim estudar para Coimbra. A percepção que tinha do Fado de Coimbra (outrora aquela música triste que me causava sensações desagradáveis) mudou radicalmente.

Acabei por ficar por cá por Coimbra mas nunca mais ouvi este fado, por incrível que pareça. Depois do incêndio que ainda mantém a loja onde trabalhava encerrada, fui trabalhar para outra, num gabinete com pouca proliferação de redes de telemóvel e quase nenhuma propagação de ondas hertzianas. Em FM o meu rádio não capta mesmo nada. A solução foi procurar uma estação que desse música em AM. Apesar das interferências de toda a ordem, vai dando para me fazer companhia enquanto eu trabalho. A Rádio Sim é a única estação emissora que consigo apanhar em condições aceitáveis.

Eu já tinha ouvido essa rádio em casa no rádio do meu pai há tempos e houve vezes em que também sintonizei o rádio nessa estação emissora que passa música antiga…e também passa música mais recente. No outro dia ouvi lá o tema “Desfado” da Ana Moura.

Numa tarde destas, ouvi eu esta música à qual estou a dedicar este post. Fiquei embasbacada. Já não ouvia isto há mais de vinte e cinco anos seguramente. Na tarde seguinte, por causa das coisas, voltou a passar este fado. A minha estupefacção teve sobretudo a ver com a forma como encarei a música. Digamos que ganhou sentido. Hoje tenho toda uma vivência que na altura em que era mais jovem seguramente não tinha. O Fado de Coimbra em geral passou a dizer-me alguma coisa, mesmo a dizer-me muito. Talvez tenha sido essa a diferença.

Foi com um sorriso nos lábios que recordei que outrora esta música me causava arrepios de tão intragável que era. Hoje vejo-a talvez como algo que pertence a uma cultura, a uma cidade tão vasta e tão rica em história e tradição. Uma cidade que conheço tão bem. Ouço-a hoje e vejo o Mondego, vejo-me a caminhar na direcção do Parque Verde, olhando as águas azuis do rio. Pode-se dizer que, mais de duas décadas e meia volvidas, este tema ganhou certa magia que lhe faltava nos meu primeiros anos de existência.

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