Thursday, August 25, 2011

Jantar orvalhado

Tive de sair de Lisboa mais cedo, de modo a poder estar em casa a tempo de estar presente no jantar que estava marcado para esta data.

Apesar de o meu pai já ter feito anos há uns dez dias atrás, só nesse Sábado seria possível reunir toda a gente e comemorar o seu aniversário.

Foi uma longa jornada de viagem até chegar, finalmente, a casa. Depois de apanhar um comboio, o meu pai teve de deixar os afazeres do leitão e teve de me vir buscar de motorizada.

Estava naturalmente exausta por me ter levantado bem cedo e por ter feito uma longa viagem. A fome também era alguma, pois nem sequer houve tempo para almoçar.

Havia uma enorme surpresa reservada para esse final de tarde: a nossa antiga professora da escola primária marcaria presença. Já há muito que não a via.

O jantar foi servido na eira e houve lugar para inaugurar as mesas completamente remodeladas pelo protagonista de um incrível sonho meu de há tempos. Como ele é amigo do meu pai, também estava presente.

Com iluminação improvisada, a noite ia caindo à medida que íamos degustando os petiscos apresentados e que começaram com uma extremamente picante cabidela temperada pelo meu primo.

A certa altura começou a chuviscar. Indiferentes a esse facto, os nossos familiares e amigos continuaram a comer e a confraternizar. Eu já estava mais para lá do que para cá devido ao cansaço daquele dia.

Por várias vezes se propôs mudar de armas e bagagens para o interior da sala mas ninguém aceitou. Apesar do orvalho, até estava agradável. Eu é que parecia sentir frio e fui mesmo buscar uma camisola de manga comprida para me agasalhar.

Quando já se tinham cantado os parabéns ao meu pai e se comiam as sobremesas, começou verdadeiramente a chover e toda a gente recolheu ao interior da sala.

A minha irmã lembrou-se de ir buscar fotografias antigas e de as mostrar à nossa antiga professora e à irmã do seu falecido padrinho. A foto que causou mais sensação foi uma onde a nossa turma da escola primária estava toda alinhada, quase parecendo um plantel de Futebol. Na altura teríamos todos uns oito anos. A nossa professora tentava lembrar-se dos seus antigos alunos mas poucos conhecia. Dos que ainda recordava, lembrava episódios curiosos. Nem nós conseguíamos identificar os nossos antigos colegas. Ficávamo-nos pelas nossas vizinhas. Eu ainda conhecia o Júlio- agora emigrante nos Estados Unidos.

Também se demorou bastante tempo a recordar de onde tinha vindo aquela foto. Se a memória não me falha, ela foi tirada pelas nossas professoras do Ensino Especial que vinham à escola todas as sextas-feiras e faziam algo diferente sempre lá na escola. Para nós e para os nossos colegas era uma festa. Lembro-me que ela levava em algumas ocasiões um gravador preto da Philips e passava músicas do José Barata Moura para nós ouvirmos. Também nos ministravam aulas de Ginástica. Era uma festa!

Assim se passou um serão agradável como há muito não se passava. A nossa antiga professora e a irmã do padrinho da minha irmã (filha da antiga professora da aldeia) estavam-se a entender bem as duas e as fotos estavam a ser um bom veículo para isso. Estariam dispostas a passar ali toda aquela noite. Ficou a promessa de as voltar a juntar numa próxima oportunidade.

A festa terminou. Fui-me deitar. O dia tinha sido longo.

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