Sunday, February 25, 2007

Tinha de ir parar àquela rua

Acabado o meu primeiro dia de trabalho na Piscina, fui explorar o caminho que me havia de levar até à Faculdade de Letras. Disseram-me que indo por aquela rua fora que ia dar à Praça da República. Assim fiz. Meti-me ao caminho.

Com a pesada mochila de transportar tudo o que é necessário para toda uma semana, fiz-me à estrada. O final de tarde estava radiante. O pôr-do-sol era um laranja vivo, quase encarnado e dava um toque de magia e inspiração à paisagem. A temperatura também estava amena e sabia bem dar um passeio naquelas condições.

Era um final de tarde romântico. As ruas que eu percorria sem saber muito bem por onde ir tinham um ambiente especial devido ao afastamento do Sol. E assim fui andando. Ia ter teste, ainda por cima. Queria chegar cedo.

O problema é que não sabia por onde andava. Numa das vezes até voltei para trás. Olhei e vi então onde estava. É incrível que vou sempre parar à mesma rua quando me perco! É demais! Nem sei o que hei-de dizer a tanta coincidência.

A última vez que por ali andei foi num domingo em que chovia torrencialmente e eu nada tinha para me proteger. Foi naquele dia em que viemos de Cantanhede e eu enfiei-me logo por onde não devia. Mas que raio de instinto o meu que sempre vou por ali.

Lembro-me também de uma vez ter havido greve dos autocarros e eu ter de ir a pé para a Baixa. Andei cerca de duas horas na Praça da República às voltas e cheguei atrasadíssima. Por várias vezes me enfiei por aquela rua acima. Por mais voltas que desse, ia sempre parar lá. A Praça da República é uma circunferência redonda, labiríntica e complicada para mim.

Uma coisa eu sabia: estava perto da Praça da República. Olhei para o relógio e constatei que me tinha de despachar. Tive de perguntar a quem passava e lá segui. Fui por outra rua acima. Já estava completamente de noite. Agora procurava os Arcos. Com um pouco de sorte ainda iria dar novamente à rua que eu melhor conheço da cidade de Coimbra.

Depois de duas ou três tentativas sempre os encontrei. Já estava em terreno conhecido e apressei o passo tentando emendar o estrago. Afinal ia ter teste. Que lindo!

Ofegante da correria entrei na sala já atrasada. Sem tempo para me recompor, comecei de imediato a fazer o teste e ainda a pensar naquela rua. As suas imagens ao anoitecer davam-me uma certa paz de espírito. Uma felicidade estranha.

Eu já sabia de antemão que o dia iria ser agitado. Até pensei que fosse pior. O que me iria custar mais- para além dos autocarros- iria ser o barulho das crianças das escolas, mas não há nada melhor que o habituo.

Ainda antes de sair de casa (e para descontrair que bem precisava) estive atenta a algumas letras curiosas de músicas folclóricas. Para além de perguntar quem era a Tirana e porque é que havia tantas músicas dedicadas à Cana Verde, constatei que algumas dessas letras não fazem o mínimo de sentido, para não dizer que não fazem mesmo nenhum sentido.

Uma música que passou enquanto eu tomava banho dizia o seguinte: “Minha avó quando nasceu já eu tinha três semanas” Mas como era isso possível?! Nunca em parte alguma vi uma avó a nascer depois que o neto. Por mais voltas que dê aos neurónios, nunca chegarei a saber o que quer dizer isto.

Mais adiante a mesma música continua: “Quando minha mãe nasceu já eu estava em S. Vicente” Enfim!

Noutra diz que “a laranja foi à fonte” Aí poderá ter sido uma laranja que rolou de uma laranjeira perto de uma fonte e foi ter ao local onde se tira a água. Só pode! De outra maneira não estou a ver.

Vai ser um fartote só com situações que se passam naqueles autocarros que vão para o hospital. Aí é que se vêem as cenas mais rocambolescas, mais chocantes, mais dramáticas, mais...vão ver.

Para começar havia uma enorme confusão no autocarro. Já havia lá um senhor a sentir-se mal e tudo. Um autocarro é agora uma embalagem amarela com recheio lá dentro. Tem de se ter cuidado a abrir, senão o seu conteúdo pode espirrar. Está em ebulição.

Depois de sair daquele inferno amarelo, lá fui tacteando o caminho. Cheguei um pouco atrasada porque ainda não me movimento à vontade ali naquelas ruas. Também era apenas o primeiro dia.

Aquele primeiro dia serviu para experimentar e ficar familiarizada com o que ia fazer. Tirei alguns apontamentos acerca de como funcionavam as coisas e constatei que afinal sempre dá tempo de ir almoçar à cantina e tudo. Menos mau!

Terminado o primeiro dia de trabalho, acho que me vou adaptar bem a estas funções. Tive tal pontaria que houve um ligeiro problema na piscina que levou ao tratamento da água.

O teste correu bem. Vamos a ver se consigo manter a performance do anterior. Será difícil. Eu só faço isso uma vez.

Finalmente cheguei a casa para um merecido descanso. Fartei-me de andar, de correr, de percorrer ruas que ainda povoavam o meu espírito ao adormecer.

Bacorada do dia:
“Tem de reiniciar do início.” (Se reiniciasse do meio ou do fim é que era um fenómeno.)

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