Sunday, February 25, 2007

Maldito Sol!

Fazia-se sentir o tradicional Verão de S. Martinho com Sol e temperaturas amenas, mas naquele dia tudo se revoltou contra mim- na altura assim pensei, mas hoje penso de outras maneira e digo que tomei a decisão certa de ter continuado na formação, mas estive mesmo para me vir embora por sentir que tudo me era adverso.

Tudo começou quando eu propus aos meus colegas que se fizesse um pequeno magusto. Houve uma pessoa que disse que “farta de magustos já andava ela”. Pois andava. Lamentavelmente tenho de dizer que a minha turma se desuniu e se dividiu em duas. Metade da turma fazia as suas festinhas e os seus magustos em privado. Naturalmente que fiquei triste e magoada, até porque essa pessoa se queixa que eu me afasto. Quando eu me quero unir levo uma resposta dessas. Andei zangada com essa pessoa em Julho já por causa desse tipo de coisas. Mas a história ainda não acabou por aqui.

A outra turma (onde eu tenho alguns amigos) resolveu fazer um almoço de despedida à minha amiga Isabel que estava a substituir a formadora de Braille durante a sua licença de maternidade. A outra turma não disse nada à nossa. Já aí eu fiquei triste. Pior foi o que os meus colegas disseram quando eu dei a ideia de também lhe oferecermos algo. Eles recusaram e voltaram a colocar toda a fúria na outra turma. Na verdade, e de forma vergonhosa, alguns colegas meus tiveram comportamentos reprováveis durante aquelas aulas de Braille e agora manifestam todo o seu ódio só porque a formadora os mandava fazer o que eles não gostavam. Francamente não sei do que é que eles gostam. Até sei, mas isso agora não vem ao caso.

Foi difícil contornar a minha tristeza naquela aula. O formador perguntou se eu estava a chorar. Deveria-me estar a rir depois de toda a ingratidão e falta de respeito que as pessoas que me rodeiam nutrem por mim e pelos meus amigos? Eu não posso ver nem ouvir os meus colegas a manifestarem algum sentimento de troça ou de desdém pelos meus amigos. Magoar as pessoas de quem gosto é magoar-me a mim. Para defender os meus amigos sou capaz de tudo e, naquele dia, apetecia-me mesmo dar um par de estalos em alguém. Mesmo que não soubesse muito bem por quem começar.

A técnica de inserção iria chamar-me a meio daquela aula que era a continuação da anterior sobre as entrevistas de emprego. Podia ser que ficasse mais calma ao ir para a rua, mas não foi o que aconteceu.

Desde logo a técnica de inserção começou por me enterrar ainda mais ao dizer que não poderia fazer o estágio na Académica. Fiquei arrasada. Tudo à minha volta se tornou cinzento e nublado.

Fui reconhecer o meu próximo local de experimentação: a Piscina de Celas. Nada tive contra o local, apenas com o tempo que demorava a deslocar-me de autocarro. Aquele autocarro demora vinte minutos a chegar lá, quando não demora mais. Aquele caminho foi para mim uma eternidade. Enquanto olhava pela janela do autocarro para disfarçar todo o meu desencanto, pensava no que iria ser da minha vida. Teria de me deslocar todos aqueles dias para Celas. Na minha mente pairava o fantasma da primeira experimentação em que eu perdia tempo a esperar autocarros e quase nunca chegava a horas. Ainda bem que as pessoas compreenderam sempre.

Questionava também se valeria a pena continuar na formação. Não iria para a Académica fazer o estágio- que era o que eu sonhava e o que era adequado às minhas habilitações e objectivos pessoais. Ainda por cima tenho os colegas que tenho. São uns traidores, uns ingratos, umas pessoas sem objectivos, umas pessoas que acabaram de demonstrar o quão falsos são. Não valia a pena!

Fui bastante bem recebida pelo director da Piscina que já estava à minha espera para me dar as boas vindas e para me explicar o funcionamento das instalações em traços muito gerais. O meu estado de espírito é que não era o melhor para estar a reparar em pormenores. Apenas reparei que a viagem era longa e ia ser um corrupio para chegar a tempo e horas. Começava a passar-me. Só o facto de faltar apenas um mês e pouco para o final da formação me deteve de ir embora. Isso e o curso de Holandês.

Por muito que tentasse, não conseguia controlar as emoções que teimavam em me assolar. Ignorava que estava na rua, num autocarro cheio de gente e na cantina. As pessoas, naturalmente, perguntavam-me o que é que se passava. Sem saber o que dizer, argumentava que era o Sol que me estava a irritar os olhos e que não me devia ter esquecido dos óculos escuros em casa. Não insistiam.

E lá tinha eu de aguentar com os meus colegas- os responsáveis maiores de tudo isto. Cheguei atrasada ao ensaio. Ainda com as lágrimas a escorregarem teimosamente dos meus olhos entoei os primeiros acordes da música de Natal. Aos poucos fui-me comportando como se nada se tivesse passado.

Já há duas noites que sonho com mais gatos em casa. Sonho com o Ju, com o Max, com a Teka e com outros que eu nem sei quem são.

Estamos a atravessar o chamado Verão de S. Martinho. O Sol já brilha, mas faz-se sentir um certo frio. Passam por mim umas motos bem barulhentas que me irritam profundamente. Eu passo-me com o barulho dos veículos motorizados na rua. Fico mesmo fora de mim.

No prédio da Caixa Geral de Depósitos havia gente empenhada em chamar a atenção de quem passava. Diria mesmo que estavam mesmo empenhados em dar escândalo.

Já referi que a aula foi uma continuação da anterior em que se abordaram os comportamentos a adoptar perante uma entrevista de emprego. Eu saí a meio para reconhecer o local de experimentação.

A parte da tarde também foi dedicada aos últimos ensaios antes de partirmos para os locais da terceira e última experimentação. Eu diria que depois de regressarmos tudo volta à estaca zero. A maior parte das pessoas já terá esquecido a letra da música. Dos passos da Zorba é melhor nem falar.

No final dos ensaios procurava a casaca de ganga que tinha trazido. Não a encontrava em parte alguma. Havia outra casaca de ganga que não era a minha e já me estava a passar. A paciência naquele dia- ainda por cima para os meus colegas- era limitadíssima. Toupeiras dum raio! A minha colega (que é a que vê mais na turma) tinha a levado por engano. Foi o primeiro sorriso que me conseguiram arrancar naquele dia.

Fui treinar tarde, a más horas e sem paciência nenhuma. O motivo do atraso irá ser explicado na “Situação do dia” e só demonstra em termos práticos como eu estava e onde eu estava com a cabeça.

A forma como apontei o treino também diz bem do meu estado de espírito. E hoje eu que me amanhe, mais de três meses depois. Diz que fiz um treino parecido com o da passada quarta-feira em que dei 15 voltas em mais de 44 minutos. Segundos exactos não se apontaram. Para quê? Não era preciso. Não me esqueci de fazer os alongamentos. Notas não há. Havia era que me enfiar em casa e estar só a pensar na vida que continua a me ser adversa.

E assim se passou mais uma semana que começou optimamente e terminou menos bem.

Uma última nota: Passaram mais de três meses desde a data destes acontecimentos até à data de hoje. Um comentário apenas posso proferir que resume tudo o que acabei de relatar e que resulta das voltas que as coisas deram. Apenas posso dizer então: QUEM DIRIA!

Situação do dia:
Esperavam-me muitas viagens de autocarro. Isso preocupava-me. Em Setembro tinha mandado fazer um passe que não cheguei a carregar por considerar que não valia a pena. Isto aquando da minha primeira experimentação. Agora sim era altura de o carregar. Com o saco do equipamento às costas, dirigi-me ao local de compra de viagens que também não fica muito longe do Estádio. Já estava quase lá quando me lembrei que não levava o passe. Essa foi demais. Tive de voltar para trás, que até me consolei! E lá me atrasei para o treino.

Bacorada do dia:
“Dia 15 de Dezembro é outra vez feriado.” (É dia de Santa Seca e de São Queromeirembora.)

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