Sunday, February 18, 2007

Feliz como há muito não me sentia

Já há muito que estava previsto termos uma aula especial de Holandês. Uma docente vinda da Universidade de Utrecht iria falar da colonização holandesa no Brasil, em particular de João Maurício De Nassau. Do que eu não estava à espera foi do encanto que aquela iniciativa me proporcionou.

Sou incapaz de explicar todo o emaranhado de sensações que me invadiam naquele momento. À medida que a aula decorria e que eram mostradas fotos das localidades de extrema importância para esta figura da História, eu sentia-me como que enfeitiçada a olhar para tudo aquilo e a sonhar acordada.

O meu interesse e a minha concentração iam subindo. Sentia uma estranha paz e sensações agradáveis invadiam-me à medida que olhava para a paisagem bucólica de Kleve. Aquele parque era tão verde, tão puro, tão cheio de história. Era encantador. Transportava-me para o mundo dos sonhos e da imaginação.

Como seria bom estar num local como aquele! De facto, senti-me transportar para lá. Imaginava-me numa visita guiada àquele local tão extraordinário. Acompanhava com atenção todas as explicações e, ao mesmo tempo, imaginava-me ali num clima feliz, sem pensar em nada. Um dia gostaria de ir até lá e sentir verdadeiramente todas aquelas sensações que me invadiram de forma quase imprevisível e repentina.

Jamais esquecerei aquela aula que me fez sonhar acordada e me fez sentir feliz como há muito não me sentia.

Foi nesse estado de espírito que cheguei a casa. Para terem uma ideia de como eu fiquei, basta dizer que me esqueci completamente de que havia jogos naquela noite.

Levantei-me bem cedo. Esperava-me mais uma semana daquelas que eu não gosto nada. É uma seca preencher aquelas fichas e ter daquelas aulas que cansam uma pessoa e desmotivam até o ser mais motivado, seja para que for.

Oh não! A chover logo quando eu vou a sair de casa! É incrível como a chuva aparece sempre nessa altura. Há-de haver um dia em que não está previsto chover e cai uma monumental tromba de água àquela hora só para me chatear.

Era a primeira vez que ia encarar os meus colegas depois daquele incidente com a formadora. Alguma amargura percorria o meu espírito. Saber que não se pode confiar em ninguém ali é duro. Estamos longo tempo juntos na mesma sala. Mal temos tempo de conversar com as pessoas da rua e, por fim, acontecem dessas situações. É triste encarar os colegas de sala com desconfiança. A partir daquele dia, decidi que não me meteria em certos assuntos. Nem que visse que eles “matavam e esfolavam” alguém. O desprezo seria a melhor arma para pessoas sem escrúpulos e sem valores que partilham o mesmo tecto que eu.

Eles devem ter ficado boquiabertos ao constatar que o clima de tensão e agressão mútua que existia entre mim e a formadora desapareceu. Eles nem desconfiam que eles próprios foram os responsáveis pela nossa reconciliação. Eles nem sonham o que se passou no último dia antes de partirmos para esta experimentação.

Na sala reencontrámo-nos todos e colocámos a conversa em dia. Eu sempre de pé atrás. Das peripécias ocorridas durante o período de experimentação de cada um podíamos falar. Uma colega minha disse que detestava holandeses e contou que, na estalagem onde ela fez a experimentação, um casal de holandeses de meia-idade tinha alugado um quarto. Na noite do temporal a sua invejável criatividade mundialmente reconhecida veio ao de cima. A minha colega chama-lhe outra coisa. Para comprovarem que chovia dentro do quarto que alugaram, encheram uma bacia com água e apresentaram-na à gerência do hotel. Com isto o casal livrar-se-ia de pagar. Ah valentes!

Por falar em chuva, o tempo continuava bastante instável.

Depressa chegou a hora de ir para as aulas de Holandês. Como a aula era especial, ia decorrer numa outra sala. A minha preocupação era encontrar o local onde se iria realizar a aula. Encontrei um colega meu e andámos largos minutos por aqueles amplos e labirínticos corredores à procura da sala.

Foi uma coincidência termos chegado os dois ao mesmo tempo. É que fomos os melhores no teste. Na carteira onde eu estava sentada estava escrita a seguinte frase: “Tá tudo ao troncário.”

Era noite de Futebol. Não me recordo como ficou o jogo do Sporting, até porque me esqueci dele, mas o Porto foi a Setúbal derrotar a equipa local por 0-3.

Situação do dia:
Já ia em cima da hora para a aula, ainda tinha de procurar a sala e os autocarros e as carrinhas da Ecovia não me deixavam passar. Estavam todos ali.

Bacorada do dia:
“O percurso foi muito penal.” (O que a simples troca de termos semelhantes provoca!)

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