Sunday, February 25, 2007

Entrevista de emprego

Tó Bóias estava desempregado há mais de dois anos. A empresa para a qual trabalhava fechou as portas e o patrão afirmou que iria deslocalizar os seus negócios para um país asiático. Estava a pensar seriamente ir para a China.

Estava inscrito no Centro de Emprego desde essa data, mas nada do que aparecia se adequava às suas características. Um dia recebeu uma carta para se dirigir a uma entrevista de emprego para varredor de rua.

Mandam as boas regras deste tipo de candidaturas que se estude primeiro algo acerca da entidade patronal que está a oferecer o emprego. Pois bem, na véspera da referida entrevista, Tó Bóias passou o dia a ver filmes pornográficos que alugou no clube de vídeo das proximidades da sua residência.

No dia marcado, Tó Bóias levantou-se mais tarde ainda que de costume. A roupa que levou foi a mesma com que andou durante toda a semana. Aliás, parece que já na semana anterior o artista usava aquela camisa aos quadrados azul (ou de que cor seria?) As calças tinham altas nódoas e os sapatos andavam sujos e malcheirosos até mais não poderem.

Já era demasiado tarde e também não dava tempo de tomar um banho, por isso ele apareceu assim como estava. Ia prometer aquela entrevista!

A hora marcada para o início da entrevista era as 14.00h, mas Tó Bóias apareceu no local quarenta e cinco minutos depois e ainda perguntou em voz bem alta e estridente se tinha chegado atrasado. Os outros candidatos olharam-no com ar de gozo.

Mal chegou, o nosso artista quis logo entrar e ser atendido, alegando que tinha de apanhar o autocarro. Já enojados com o fétido odor que emanava do seu corpo por lavar desde o dia em que foi ao médico (nesse dia tomou banho porque a mulher o obrigou, ameaçando-o com um pau com pregos), os outros candidatos deixaram-no passar. Ele abraçou efusivamente um dos outros candidatos que já ia virado à casa de banho. O entrevistador pôs cobro àquela cena e mandou entrar o Tó Bóias.

Como não sabia o que era lavar os dentes, Tó Bóias comprou num quiosque uma caixa de pastilhas elásticas e enfiou-as todas na sua boca imunda. Foi a mascar essa gigantesca pastilha de forma irritantemente ruidosa que ele entrou na sala das entrevistas. Antes que o entrevistador o mandasse sentar, já ele puxou duas cadeiras que fizeram um barulho estridente que se ouviu lá fora. Uma cadeira era para ele se sentar e a outra era para ele colocar os pés. Disse o artista ao entrevistador que estava habituado lá em casa a estar assim quando via televisão.

Na sua boa-fé, o entrevistador perguntou a Tó Bóias porque é que se pretendia candidatar ao emprego em questão e ele respondeu que era para ganhar dinheiro para garrafões de vinho. Implorou para que fosse escolhido pois afirmava ser ele o mais necessitado de emprego que por ali andava.

O CV que estava na mão do entrevistador era apenas uma folha e Tó Bóias perguntou-lhe “que raio de papel era aquele”. Na verdade não foi bem assim que ele perguntou. As perguntas que lhe fizeram incidiram sobre aquele documento onde se narrava em traços gerais o seu percurso profissional. É incrível, mas o artista não sabia que aquilo era um Curriculum Vitae. Ele até pensava que era nome de medicamento para deixar a pinga.

Por várias vezes Tó Bóias interrompeu o entrevistador com histórias que se passaram no emprego em que ele era um herói e tinha trabalhado aí o dobro dos outros. Quanto ao que lhe era perguntado não sabia a resposta e logo retomava todas aquelas histórias rocambolescas.

Já farto de tudo aquilo e do mau cheiro do candidato, o entrevistador deu por encerrada aquela entrevista e mandou sair Tó Bóias que voltou a arrastar as dias cadeiras, anunciando aos candidatos lá fora que estava de saída.

Obviamente que ainda não foi desta que Tó Bóias conseguiu emprego. A continuar assim, tão depressa não arranjará.

Naquele longínquo dia 9 de Novembro em que o Sol brilhou, fiquei de resolver o assunto do voluntariado para o jogo de Portugal com o Kazaquistão.

A casa de banho lá de casa tinha água no chão que eu não sabia de onde vinha.

Nada resolvi quanto ao voluntariado. Havia greve na Função Pública e só na segunda-feira poderia resolver esse assunto. E eu que estava em pulgas por poder participar nesse jogo!

As aulas decorreram normalmente. Claro que se falou de entrevistas de emprego. Foi por essa razão que decidi caricaturar neste texto uma dessas entrevistas de selecção. Achei um tema bom para caricaturar e mais nada.

Na cantina havia uma enorme fila e uma barulheira desgraçada. Demorei-me ali bastante. Havia que comer bem. É que pela tarde havia a Canção de Natal para ensaiar. Era desta que as instalações da ACAPO iam ficar sem vidros. Provavelmente o prédio iria todo abaixo.

Chateada com uma colega minha por causa da forma como me pediu um CD, fui para o treino. No corredor escuro choquei com um outro atleta e isso magoou-me um pouco num braço. Nada que me impedisse de fazer o meu treino normalmente.

O treino naquele dia consistiu em trinta minutos de corrida com acelerações de dois minutos e três de corrida normal. Fiz isso por três vezes- o que resultou em mais de dez voltas na pista 7.

Refira-se que a noite estava uma maravilha para a prática desportiva e que aquele cabo continuava na pista. Como sempre o treino terminou com uma indispensável série de alongamentos.

Em casa esperava-me roupa para pôr a secar ou arrumar. No dia seguinte esperavam-me emoções fortes. Vai ser estranho escrever aquele texto mais de três meses depois e quando o meu futuro passou pelos acontecimentos daquele dia. É por isso que eu penso que a nossa vida é completamente guiada pelo destino e há coisas incríveis. Vai ser lindo escrever aquele texto, mas vou fazer o melhor.

Situação do dia:
Enquanto estendia roupa e ia trauteando a nossa Canção de Natal, que me tinha ficado no ouvido, comecei a ouvir barulho e gritaria no prédio em frente. Parecia uma discussão. Os intervenientes carregavam os seus discursos inflamados de palavrões e insultavam-se uns aos outros. Parei de cantar e fiquei a ouvir sem entender muito bem qual o motivo daquela autêntica “peixaria”.

Bacorada do dia:
“A Câmara esteve a candidatar…” (Recrutar ou seleccionar.)

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