Sunday, November 26, 2006

Uma coruja na noite

Era véspera do regresso às aulas e, ainda por cima, o meu estado de espírito- como se sabe- não é o melhor. Daí não ser admiração nenhuma a minha falta de sono nessa noite. Havia problemas a mais, inquietações, falta de motivação e de ânimo para enfrentar tudo isso.

Passei por sono de forma mais superficial. Algo me havia feito acordar assim tão sobressaltada. Sentei-me na cama e olhei para todos os lados. Da rua veio algo que me fez estremecer. Os meus sentidos estavam todos alerta e o meu coração parecia querer saltar do peito. Era uma coruja que entoava o seu cantar sinistro. Eu detesto ouvir esses pássaros tão horríveis a cantar na rua. Aquela coruja cantava mesmo junto ao meu quarto e isso assustou-me.

Sempre ouvi dizer que as corujas quando andam perto das casas a cantar anunciam morte. Isso assusta-me. Não gosto de as ouvir, apesar de as ter ouvido milhares de vezes e nada ter acontecido. Inexplicavelmente tenho medo de ouvir o cantar da coruja. Quando uma se aproxima, logo corro a acender as luzes e ela foge com o seu canto agoirento que se pensa anunciar desgraça.

Isto foi o suficiente para eu me manter acordada o resto da noite. Subi o volume do rádio e mantive as luzes acesas durante largos minutos. A noite de sono já estava estragada.

Rapidamente chegou a hora de o despertador tocar para mais uma segunda-feira. Mais uma semana! Seria o reencontro com os meus colegas e o regresso de tudo o que pode aborrecer uma pessoa ainda mais do que ela anda.

Enquanto tomava banho, o cantar de um galo fez-me também arrepiar, mas não era nada. Se fosse ainda a mesma coruja era pior.

Foi com cara de enterro que cheguei a Coimbra. Encontrei a minha amiga no autocarro e estivemos a conversar sobre as férias e o que tinha ou não tinha acontecido.

Quando chegámos à ACAPO, foi o habitual reencontro. Um colega nosso deu-nos uma coisa que, dias depois, me iria servir de uma espécie de prémio de consolação: um CD com música holandesa que a minha colega mandou converter de uma cassete para mp3. Haveria de inventar algo que me iria dar uma certa alegria.

Ficámos a saber que as experimentações em empresas que temos de fazer iam já começar no dia 18 de Setembro. Até lá, tudo tinha de estar preparado para começarmos a ser integrados em empresas em contexto real de trabalho.

Com o regresso a Coimbra, começaram também os treinos de Atletismo. Mais uma época igual a todas as outras que começa. Este ano- e mais do que nunca- sinto-me desmotivada porque as pessoas me privam de ter objectivos. Um atleta que treina fora de Lisboa, mesmo que consiga mínimos, está condenado a não ir a provas. Ainda bem que aqui em Coimbra não nos fecham as portas e ainda podemos ter alguma rodagem. Como será a vida de um atleta sem provas, sem objectivos, sem brilho, sem ter sequer a oportunidade de ser visto, de provar que consegue se manter ali, apesar das parcas condições de treino.

O primeiro treino da época foi, no entanto, marcado pelo calor insuportável e pela avaria no cronómetro que fez com que contasse apenas as voltas dadas. Assim iria ser ao longo de toda a semana enquanto eu não arranjasse o cronómetro ou não comprasse outro. Sim porque, se eu quero um cronómetro novo, tenho de o comprar às minhas custas.

Depois do treino fui fazer compras ao Pingo Doce como é hábito. Foi aí que deparei com uma situação que já me aconteceu, mas por outros motivos. Um senhor foi para pagar as suas compras, mas a carteira tinha ficado em casa. Ainda bem que tinha ficado em casa e não lhe tinham roubado o dinheiro como me aconteceu a mim quando queria pagar um sumo e um pacote de batatas fritas.

Portugal conseguiu uma medalha nos mundiais de Atletismo para Deficientes. Aquilo nem parecia uma cerimónia protocolar, parecia mais uma coisa inqualificável por culpa de alguns dirigentes que andam por aí. Devido ao que se passou com a equipa de Basquetebol de Espanha em 2000, as provas para deficientes mentais foram retiradas e os atletas não competem de forma oficial. Recebem na mesma as suas medalhas, mas o hino não é tocado. Isto é, no mínimo, vergonhoso!

Por falar em vergonha: assistiu-se a um debate sobre o estado do Futebol Português. O registo foi em tudo parecido com o da entrevista ao presidente do Gil Vicente na passada sexta-feira. A gritaria, o autoritarismo, a arrogância e a tentativa de explicar as coisas à força dominaram o referido debate. Uma coisa ficou clara: toda a gente chama a si a razão, se bem que ninguém saiba o que é a razão.

Situação do dia:
Estou mesmo abaixo de forma no que toca a arranjar as coisas para levar para o treino. Comecei os treinos logo a esquecer-me dos chinelos. Tive de tomar banho descalça e escorreguei devido à muita água que se encontrava no chão. Deslizei alguns metros mas não caí.

Bacorada do dia:
“Verígrafo” (não faço ideia do que isso seja!)

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