Sunday, November 19, 2006

E voltei mesmo para trás ao chegar à Moita

Desde já advirto que qualquer semelhança entre este texto e um outro que aqui existe neste blog intitulado “O labirinto da Moita” é pura coincidência. Ou talvez não!

A principal diferença entre este texto e o acima citado é que um descreve um sonho e outro descreve o que realmente se passou. Estou a escrever este texto com o outro aberto e reparo que existe muita coisa em comum. Vinha pelo caminho a pensar como foi possível sonhar com uma coisa, com imagens, pessoas, situações, locais que iria ver na realidade. Como foi possível as coisas acontecerem de maneira a proporcionar a realização parcial desse sonho? Como é misteriosa a mente humana! Eu que há dias tinha acabado de ler, justamente, um livro sobre esse mundo maravilhoso e tão desconhecido que é o mundo dos sonhos.

Vamos passar então a descrever o que se passou naquela manhã de dia 30 de Agosto de 2006 quando eu tencionava ir até à praia:

Preparei-me bem cedo para mais uma ida até Mira. Era minha intenção aproveitar aqueles últimos dias de férias para bronzear ainda mais a minha pele e tomar mais uns banhos naquele mar cinzento.

O ritual era sempre o mesmo: preparar a mochila e o chapéu-de-sol, colocar tudo às costas e meter-me ao caminho em direcção a Anadia onde iria apanhar a camioneta para a Praia de Mira.

Ao contrário do sonho, que se passava ao anoitecer, era de manhã cedo. Não sei se foi por ser a primeira vez que passava ali depois do sonho. O que é certo é que as imagens vieram-me de forma bem presente. “(...)ia caminhando em direcção à Moita. O trajecto era tal e qual como é realmente.”

Mas as coincidências iriam, no entanto, ser ainda mais extraordinárias. Teria, realmente, de voltar para trás ao chegar à Moita. Não por me ter distraído, mas sim por me dizerem que já não havia camioneta para a praia. Teve de se arranjar um motivo que permitisse essa situação! “(...)não tive outro remédio senão voltar para trás.”
Não foi junto ao chafariz. Foi no local que acabaria por dominar o resto daquele sonho. O Sol brilhava. Nada de noites escuras nem de luzes.

O que se passou a seguir foi incrivelmente anunciado no sonho. Vejamos o que eu escrevi na altura e que pode servir para descrever este episódio:

“A certa altura houve alguém que me perguntou para onde é que eu ia. Assustei-me e estremeci. Era uma idosa que mal dava para distinguir as feições na escuridão. Daí a momentos estava no lugar que esta foto mostra. Apesar de a foto já ter mais de dez anos, este local está na mesma ou quase. Havia a estátua do Poeta Cavador e podemos seguir por aquela estrada. Passei lá a pé no outro dia e parece que tiraram de lá a estátua. Não faço ideia onde a puseram nem porque motivos a removeram dali. Isso também não interessa para esta história. ”
Diferenças aqui em relação ao sonho? Para além de ser de dia e de a senhora que me chamou estar já no local onde se passou o sonho, eu mal vi a senhora porque ela encontrava-se no andar de cima da sua casa e eu encontrava-me na estrada. Realmente ela já tem idade e perguntou para onde é que eu ia. Ou melhor: se eu ia para Mira. Só depois é que ela me informou que a camioneta tinha deixado de viajar para lá desde o dia 27.

Quem era a senhora? Lembram-se daquela senhora que me ofereceu boleia até à Moita da outra vez que eu fui à praia? (ver texto “O mar como conselheiro”). Depois acabei por vir com o meu pai e tivemos um furo que nos levou a fazer o resto do caminho a pé.

Essa senhora mora, justamente, aí onde se passou o sonho do dia 18. E o que é que existia mais no sonho? Um prédio novo. E onde fica esse prédio? Escassos metros à frente do local onde existiu a estátua do Poeta Cavador e da casa da senhora que me disse que já não podia ir até à praia. Continuemos a recordar passagens do sonho de dia 18 realizadas no dia 30.

“(...)A cena já se passava de dia. Parece que era de manhã e o Sol já brilhava intensamente. Encontrava-me às voltas por ali sem saber que rumo tomar. Ouvia grande animação num local. Parece que o objectivo era chegar até lá. Só que havia tantos caminhos, tantas entradas que era fácil uma pessoa se perder. Como era possível estar perdida num local que eu conheço bem? Havia ali uma espécie de átrio comum a muitos prédios. As portas e as entradas eram muitas e de vários tipos. Por mais que andasse, ia sempre dar ao mesmo sítio. Apesar desta adversidade, até me estava a divertir ao mesmo tempo que pensava no que aquele espaço se havia transformado.(...) De facto esse prédio existe na realidade, só que fica uns metros à frente. Não faço ideia nenhuma para que seja. Tenho um dia de perguntar. No sonho as suas paredes brancas e cinzentas com mármores e azulejos eram imponentes.”

Arrepiei-me! Foi essa a imagem que mais me marcou no sonho- a do Sol a bater nos meus olhos com forte intensidade reflectido pelos vidros das janelas do prédio. Como foi possível viver aquilo na realidade? Olhei para o prédio. Na altura admirei-me por ter sonhado com ele. Não havia barulho e não andava perdida. Apenas fiquei a olhar para aquele edifício por causa do sonho e da inacreditável coincidência que estava a acontecer sem eu saber a razão.

Ainda incrédula com o que acabava de acontecer, segui rumo a casa. Iria dormir mais um pouco e depois passaria o resto do dia a escrever mais uns textos.

Pousei a tralha que tinha para levar para a praia e liguei o computador para escrever uns textos. Como estava sozinha em casa resolvi chamar uns amigos meus. Ia chamando à sorte:
- “Slava! Feijoa!”
Por incrível que pareça, o Slava apareceu mesmo ao primeiro chamamento. É que esse gato tem uma característica especial: quase nunca aparece. O mais normal era ter aparecido a Feijoa. Mas já que ele apareceu, havia que aproveitar.

Para além de se ter lembrado que tem casa e donos, o Slava também vinha de muito bom humor e danado para a brincadeira. Rebolava-se no chão, roçava nas coisas que havia por ali, brincava com sapatos...enfim!

Foi então que tive a ideia de o filmar. Quando ele andasse cerca de um mês sem pôr as suas patas borralhentas em casa, sempre havia o filme para matar saudades dele. E será possível ter saudades de um gato que raramente pára em casa?

Depois de aturar o Slava (e era enquanto ele não se lembrava de ir sei lá para onde) ainda fui dormir um pouco antes de actualizar os textos para o blog.

E assim se passou mais um dia em que eu vi um sonho parcialmente realizado. Não foi a primeira vez e, provavelmente, não será a última!

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