Wednesday, May 31, 2006

Uma medalha inesperada

Ao contrário do que aconteceu da outra vez que tive provas (ver texto “Sonho e realidade”), levantei-me mais cedo e fui ainda para os computadores ver como foi a etapa da véspera do Giro de Itália.

Fiquei a sabe que há ciclistas que realmente precisam de ir à bruxa. É o caso do ex-Rabobank e agora ciclista da Quick Step Remmert Wielinga. Voltou a não concluir uma grande prova por ter adoecido. Em 2003 já havia desistido do Tour pelos mesmos motivos. O curioso disto tudo é que ele de Inverno não adoece e vence provas em condições climatéricas bastante difíceis para a prática desportiva. Um dia venceu uma etapa em Espanha em que chovia torrencialmente e a água era muita na estrada. Nesse dia estava muito escuro e também devia estar bastante frio. Já este ano em Itália o mesmo “artista” venceu uma etapa num dia com visibilidade reduzida. Não chovia mas parecia cair neve. Quando chega o calor parece que a Caixa de Pandora se abre para o Wielinga e lá de dentro saem todos os males para o importunar.

A Rabobank continua a fazer um Giro aquém das expectativas. Espero que as coisas irão melhorar com o inclinar do terreno. Maurício Ardilla será o ás que a nossa equipa irá lançar nos terrenos mais íngremes. O Michael “Chicken” Rasmussen tem andado discreto à semelhança do que aconteceu o ano passado. O objectivo não é o Giro, mas sim voltar a ser o Rei da Montanha do Tour e-quem sabe- aspirar a um lugar melhor na classificação geral. Só aquele contra-relógio digno de sexta-feira 13 lhe retirou a possibilidade de ter ficado num dos três primeiros lugares.

Fiquei contente pelo facto de o Kenny Van Hummel ter regressado aos treinos, apesar da queda grave que sofreu. Já anda de bicicleta e tudo!

Aproximava-se a passos largos a hora de ir para as provas. Tinha de ir para o Estádio preparar as coisas para mais uma jornada de 200 metros. Assim que cheguei ao estádio fui levantar um dorsal. Estava um outro atleta a levantar dorsais também e eu, assim que vi o dorsal com que corri há duas semanas, logo o tirei para mim. Seria novamente o 298! Teria mais sorte que da outra vez?

Havia que aquecer antes da competição, embora não fosse muito necessário, pois o calor na pista era quase insuportável. Estava ideal para se fazer uma prova de velocidade.

Fui a primeira a dirigir-me ao local de partida. Isso é que era vontade! Uma a uma as outras atletas alinharam-se nas pistas de onde iriam partir. Eu ia na pista 8. Ao fim de muitas peripécias foi dado o tiro de partida. Cada uma de nós se esforçou ao máximo para fazer o melhor resultado possível. Eu dei o melhor que tinha na esperança de bater a marca de há duas semanas- o meu objectivo.

Alguns minutos depois, ecoaram os resultados pela instalação sonora do Estádio Cidade de Coimbra. As notícias foram as esperadas. Consegui bater a marca de há duas semanas em mais de um segundo: 44.39

Como sempre acontece em provas organizadas pelo INATEL, no final temos de devolver os dorsais. Foi nessa altura que tive uma agradável surpresa. Entregaram-me uma medalha. De início pensei que a medalha era correspondente à prova de há duas semanas atrás em que eu corri sozinha. Com uma visível dose de boa disposição argumentaram que era um prémio por eu sempre ter participado nas provas. Um reconhecimento da minha dedicação. O que é certo é que esta medalha tem um simbolismo especial. É a primeira desde que regressei à prática desportiva depois de tudo o que passei ao longo de mais de um ano. Estava visivelmente emocionada a olhar para aquilo que há um ano atrás julgava impossível de voltar a acontecer- receber medalhas. Reflecti sobre o que passei e senti-me renascer. Foi como uma força, uma vitamina suplementar que se tomou e que me fez sentir feliz novamente. Um ano depois, os meus olhos voltavam a brilhar de alegria.

Foi nesse completo estado de euforia que regressei a casa. No dia seguinte tinha de ir a Lisboa e havia que deixar todo preparado.

Situação do dia:
Parece praga: sempre que eu participo em privas (ou quase sempre) a partida nunca é dada à primeira. Desta vez faltaram as munições na pistola.

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