Tuesday, May 02, 2006

Sonho e realidade

No dia seguinte àquela Sexta-feira bem recheada de cenas rocambolescas havia uma prova de 200 metros para fazer. Apesar de a prova ser só um teste para avaliar a péssima forma em que me encontro, havia que descansar o corpo e a mente. Deitei-me cedo e iria ficar na cama até mais tarde.

Pode-se dizer que a noite foi bem dormida a julga pela quantidade de tempo que passei a sonhar- tempo esse que se prolongou pela manhã. Vou passar a relatar aquilo de que eu me lembro dos sonhos. Sei que havia um jogo de futebol que o meu pai estava a ver na televisão, mas eu nem sei em que parte é que isso entrava. O sonho vai passar a ser relatado a partir de determinada altura e vai ter uma sequência de acontecimentos, todos eles com alguns protagonistas em comum. Eu interrogo-me como é que fui buscar algumas personagens, mas toda a gente sabe que os sonhos não têm lógica. Apenas são obra do nosso inconsciente. Despertem o Freud que há em vós e tentem achar o fio à meada destes sonhos:

Começo por descrever o sonho a partir do momento em que um veículo (que eu já não me lembro de que cor era) parou junto da porta de minha casa. Ia-nos buscar para aquilo que seria uma festa. O carro rumou na direcção de Vila Nova. Lembro-me de passar por locais conhecidos. Era ao cair da tarde a julgar pela posição em que estava o Sol. Era já quase noite quando chegámos ao local. Não me recordo se a minha mãe também tinha ido. Sei que o meu pai estava lá. O local era um terraço comprido e estreito. A visibilidade ali já não era muita. Mesmo assim dava para ver que o cinzento das paredes e do chão contrastavam com o colorido dos petiscos que se encontravam sobre a mesa comprida. Eram tantos e tão variados que quase nem se distinguia a toalha. Apesar da imensidão de comida, as pessoas eram poucas. A certa altura o meu pai e não sei mais quem discutiam futebol. Eu meti-me na conversa e disse que os jogos eram no dia seguinte todos às 18.30h..(mesmo a dormir sabia o horário dos jogos) Ali naquele local as coisas estavam animadas. Estava a sentir-me bem ali. Numa travessa havia um arroz de marisco com amêijoas. Tirei um pouco. Aquele arroz foi, provavelmente, o mais apetitoso que alguma vez comi na vida. Estava a sentir um prazer infinito a cada garfada que levava à boca. Agora lembro-me que a minha mãe também lá estava e estava-me a dizer que já era o terceiro prato de arroz que comia. Seria possível comer com tal sofreguidão? Aos poucos fui distinguindo algumas pessoas que estavam ali. Uma delas era a Elizabete. (uma amiga que também é deficiente visual) Ela foi uma das personagens que se manteve durante esta viagem. Inexplicavelmente. Um rapaz na casa dos 30 anos de idade tinha-se levantado da mesa. Vi que o conhecia de algum lado. Aquela cara não me era estranha. Era o Zoran. (o que alinhou no Chaves e no Feirense há alguns anos atrás) Estava, naturalmente, mais velho. Não sei porque razão, os meus pais vieram embora e eu fiquei lá para o dia seguinte. Vi que aquele terraço tinha portas que davam para dentro de casa. Numa delas havia uma luz acesa e havia um amontoado de pratos e talheres. Um rádio tocava uma música que eu cantava, mas se me perguntarem qual era eu não sei responder. Não seria nenhuma que existisse .Ainda me falavam do arroz da véspera e perguntavam-me se eu tinha dormido bem. (acho que foi a Elizabete que estava ali comigo)

Não sei se acordei, mas se foi isso que aconteceu o sonho foi retomado no mesmo loca onde ficoul. Só que houve ali um hiato. Passaram alguns dias desde a festa até ao momento em que nós duas estávamos de novo no mesmo local. A divisão de dentro estava agora limpa e arrumada. Eu e a Elizabete falávamos sobre o Zoran e sobre alguns jogadores dos Balcãs que passaram pelo futebol português. Eu queria-me referir a alguns, mas já não sabia os nomes e admirava-me de me ter esquecido dessas coisas. Alguma coisa se tinha passado nos dias seguintes ao jantar. Alguém me tinha dito previamente que tinha acontecido alguma coisa ao Zoran e que ele não estava bem. Um outro rapaz, igualmente oriundo dos Balcãs, que também não me era desconhecido veio ter connosco e reforçou a ideia de que algo se passou. Vindo do interior da casa, o Zoran apareceu cambaleante. Dava para distinguir aquilo que tinha sido o resultado de alguma queda ou de alguma discussão mais acesa. (só mais adiante no sonho se percebeu que foi uma queda) A face estava pisada, a cabeça tinha sido suturada com alguns pontos e ele movia-se com o auxilio de uma canadiana. Agora a quatro, a conversa prosseguiu.

Ia acordando, via as horas e voltava-me para o outro lado. O sonho desenrolava-se agora noutro local em tudo semelhante ao anterior. O contexto do sonho é que era totalmente diferente. Estávamos no interior de um espaço que lembrava as divisões interiores da casa onde o sonho decorria anteriormente. Ali era uma espécie de local de peregrinação. Tínhamos ido em excursão ou algo do género. Tenho uma vaga ideia de termos ido até lá de autocarro. Na divisão de dentro havia santos e um local com velas como existe em Fátima. Quem estava comigo era o meu pai e a Elizabete. (outra vez!) Junto das caixas com várias qualidades de velas (como em Fátima) havia etiquetas com os preços das velas a letras garrafais. Eu exclamei: “Velas a 14€?!!! Em Fátima as velas mais caras custam 3€. Irra que cumprir uma promessa aqui custa caro!” Saímos para a divisão de fora onde era uma loja de recordações. As prateleiras estavam coloridas e recheadas de toda a qualidade de produtos. Havia postais, porta-chaves...tudo o que costuma haver num local visitado por muita gente e que compra sempre uma recordação para levar a familiares e amigos. Elizabete remexia uma prateleira à procura de algo para levar.

Acordei já de manhã, mas estava-me a saber bem estar ali. Voltei a adormecer. Apanhei-me a andar de bicicleta tandem com uma senhora de meia idade como guia. Para além dessa senhora, do Zoran, do colega do Zoran e da inevitável Elizabete entraram também os seguintes elementos: Frank Kwanten (o jovem que em 2000 alinhou nos juniores da Rabobank e que agora alinha numa equipa que surgiu este ano que eu não sei o nome e que é feita com ciclistas de equipas que deixaram de existir), o Eelke Van Der Wal (que alinha na Fondas), o Kenny Van Hummel (da Skil-Shimano), ambas as equipas da Rabobank e um tal de Armando que tinha um equipamento verde e branco (eu conhecia um avançado chamado Armando no Moreirense que, curiosamente, também veste de verde e branco). Eu e toda esta gente encontrávamo-nos numa estrada perto de Guimarães (onde é que eu fui buscar isto?). Eu e a minha guia não participávamos na prova. Íamos no final da caravana, junto ao último carro a conversar enquanto ouvíamos pela rádio as incidências da corrida. Estava a cair a noite. Todos os carros já tinham os faróis acesos. O tempo estava agradável para se praticar Desporto. Nem vento havia. A rádio relatava o que se passava ao longo da estrada e nós comentávamos. A senhora com o cabelo pintado de ruivo e de permanente feita disse-me então que era mãe de um ciclista que ali estava (já não me lembro de quem). Voltava-se de novo a ouvir a rádio. Sabem quem ia na frente? A Elizabete com o seu guia que era o colega do Zoran. Por seu lado, na cauda do pelotão seguiam o Eelke, o Frank e o Armando. As conversas iam-se cruzando e ia sendo dada cada vez mais informação sobre a prova. Fiquei a saber que era já a segunda etapa que se fazia naquele dia, daí ser tão tarde. Da parte da manhã tinha havido outra etapa e já aí aqueles três ciclistas ficaram para trás. Dizia-se que os comissários não os desclassificaram porque sabiam que o Frank tinha qualquer problema de saúde e tiveram pena de o desclassificar. A noite adensava-se e a visibilidade na estrada só era mantida pelos faróis dos carros. A perseguir a fugitiva ia agora um elemento da Rabobank que ninguém sabia quem era nem a qual das equipas pertencia. Ia admirada da Elizabete ir na frente. As movimentações deram-se nos últimos lugares. O Frank desistiu, o Eelke conseguiu colar-se ao pelotão e o Armando ainda foi mais para trás a pedalar cada vez mais lentamente e a ouvir bocas. Não era por ajudar o Frank que ele estava atrás. Era por não andar mais. A auxiliar o Frank esteve o Eelke que já ia junto ao atleta da Rabobank que perseguia a Elizabete. Pela rádio comentava se que “era incrível como aquele ciclista recuperou”. Já ia a ultrapassar o companheiro de fuga e logo chegou à bicicleta tandem. Uma ambulância passou por nós a grande velocidade. Tinha havido uma queda. O Kenny tinha-se magoado e ia a caminho do hospital. A minha conversa era sobre quedas. Foi então que a minha guia me contou que, dias antes, um ciclista também tinha caído e andou pelo alcatrão fora. Esse ciclista era o Zoran. Eu falei de um outro ciclista que tinha caído, mas não me lembrava quem era. Não cheguei a saber quem ganhou a prova porque acordei a tentar lembrar-me quem era o ciclista que caiu da outra vez.

Já parecia ser bastante tarde. O Sol já ia alto e já se fazia sentir o calor. A porta do meu quarto abriu-se lentamente. Era a minha senhoria que estranhou eu levantar-me tão tarde e foi ver se estava tudo bem. Eram 11.14h. Como foi possível levantar-me tão tarde? Também ia ter prova, não tinha nada que fazer na rua...

Foi ao som do CD dos Clã que me ofereceram na Quinta-feira que preparei as coisas para a prova. Aqueles sonhos ainda povoavam o meu espírito. Aquilo é que foi uma grande confusão! Ia reflectindo sobre eles, tentando encontrar razões para ter sonhado com algumas pessoas e situações. Cheguei a algumas conclusões que explicam em parte aquele cenário. Vejamos:

1. Depois do treino ainda fui para a sala de multimédia. Andei a ver algumas coisas de Ciclismo. Tinha uma foto do Frank Kwanten e algo nele me faz lembrar o Zoran. Fisicamente nem é parecido, mas há algo que me lembra o Zoran quando veio para cá jogar. Está explicado porque é que ambos entraram no sonho.
2. Andei a ver resultados e, logo por azar, numa prova que remonta já a 2001 ou 2002 o mesmo Frank desistiu ou chegou fora de tempo. Daí aquela abordagem à prova.
3. Infelizmente, foi verdade o Kenny se ter magoado. Eu vi a notícia também. Era a ele que eu me estava a referir imediatamente antes de acordar. No sonho, faz-se de conta que era a segunda vez que ele caia.
4. Comprei a “Sport Life” e antes de me deitar estive a dar uma vista de olhos. Não admira, portanto, que isso tenha tido influência no sonho. Havia a alusão a uma corrida que se vai realizar pela Mulher e pela Vida. Havia fotos de senhoras a correr. A senhora que ia comigo de bicicleta poderá ter saído daí.
5. Ainda na mesma revista vinham os resultados completos da Meia-Maratona que se realizou em Março. Eu tenho a mania de – antes de ver quem foi o primeiro- ver quem foi o último. Já deu para ver isso! Nessa prova participou um holandês chamado Eelke. Como eu só conheço o Eelke Van Der Wal associei. Provavelmente o Armando também terá vindo da Meia-Maratona.

O que eu achei estranho e fartei-me de dar voltas à cabeça sem encontrar explicação foi a razão pela qual sonhei tanto com a Elizabete. Foi incrível como ela me acompanhou sempre nos vários locais e situações.

Na realidade havia uma prova para fazer. O tempo estava ideal para a prática desportiva. Estava quentinho! Assim é que eu gosto. E lá se estava a preparar a Atleta n.º 298 para mais uma jornada desportiva. A hora da partida aproximava-se. Perguntaram à Atleta n.º 298 em que pista é que ela queria partir, visto que tinha de ir fazer a prova sozinha. Ninguém queria ir aos 200 metros comigo! Que tristeza! Ecoou o tiro de partida por todo o estádio. A Atleta n.º 298 exibia a sua péssima forma em pista. Como não teve adversárias, a Atleta n.º 298 achou que fez uma excelente prova. Mas isso foi porque havia música ambiente e ela achou que chegou rápido à recta da meta. Uma coisa é certa, a Atleta n.º 298 deu tudo o que tinha. O resultado saldou-se em 45.74 segundos- mais ou menos o que estava previsto.

Havia que ir para casa e gozar o fim de semana.

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