Conforme prometi há uns dias, eis que leio este impressionante relato de Annie Ernaux sobre o aborto clandestino a que se submeteu em 1963.
É preciso ter muita coragem para abordar episódios tão íntimos como este. A maioria das mulheres oculta que se submeteu a algo tão atroz. Naquela altura era mesmo clandestino e ilegal. Muitas mulheres morriam. Havia sempre uma névoa no ar sempre que isso acontecia. Algo nebuloso e secreto. Principalmente das crianças tentavam ocultar a causa da morte de tais mulheres.
Foi em 1999 que Annie Ernaux contou a história original, pois já em 1974 ela tinha ficcionado o que se passou com ela num outro livro que li há uns dias.
Sou contra o aborto, exceto quando o feto está comprometido ou há perigo para a saúde da mãe. Se a mulher vai abortar só porque sim, mais vale depois dar a criança a quem não pode ter filhos. Depois segue com a sua vida. Claro que cada um é como cada qual e a mulher é livre de fazer o que quer com o seu corpo mas está a negar a outro ser o direito de existir.
No caso dos anos sessenta em que não havia tanta informação e os contracetivos até eram proibidos também, compreende-se o desespero destas jovens para se livrarem do fardo da gravidez mas haveria sempre alternativa.
Hoje as coisas são diferentes e Annie Ernaux escreveu este livro para assinalar as conquistas recentes das mulheres e o que elas tiveram de sofrer para as conseguir.
Não deixa de ser um relato impressionante, sincero e corajoso de uma mulher que não tem papas na língua, já deu para perceber.
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