Tuesday, March 20, 2018

Entre as cinco e meia e as sete

Foi apenas uma hora e meia, julgo que não chegou a esse tempo. O meu velho cronómetro ainda na hora de verão havia despertado e as peripécias oníricas duraram até ao preciso momento em que o despertador do telemóvel soou. Eram sete da manhã.

Como vão ver, este escasso tempo bastou para o meu subconsciente me brindar com peripécias e acontecimentos da mais variada índole. Por onde começar? Não sei ao certo por onde isto começou. Trata-se de um conjunto de pequenas histórias muito intensas, aparentemente sem qualquer ligação entre si.

Lembro-me de estar a lareira da sala acesa e a minha vizinha estava sentada numa cadeira. A minha mãe perguntou-lhe a que horas ela se tinha deitado na noite anterior. Ela disse que eram sete da tarde. Depois já disse que eram dez da manhã, para depois dizer que eram onze da noite. Daquelas confusões que ela costuma fazer com o tempo, agora que passou largamente dos oitenta anos.

Então vamos começar a dar um seguimento à narrativa. Encontrava-me numa formação ou numa aula. As coisas, mais uma vez, eram escritas no quadro com letra pouco compreensível. Desta vez não havia o irmão do Saleh para me passar os apontamentos. Como eu não estava a escrever nada, houve quem se irritasse comigo mas logo veio em meu socorro alguém que não consegui identificar. Alguém vestido de preto. Alguém que, segundo me disseram, havia jogado na Académica.

Vim para fora dessa formação ou dessa aula e tive de apanhar transporte. Ia a sair quando o meu telemóvel tocou. Era uma voz masculina identificando-se como sendo Daniel Ricardo- um segurança que me havia ajudado há uns tempos e que, alegadamente, estaria interessado em mim. Mais um chato! Estava-me a convidar para tomarmos qualquer coisa mas eu fui dizendo que estava com pressa.

Pois bem, fui comer qualquer coisa a um café e o meu telemóvel voltou a tocar. Era ele de novo. O que eu não sabia é que ele estava ali também no mesmo local. Em cima da mesa onde ele comia estavam dois pães muito pequenos...e três garrafas de cerveja de litro. Ofereceu-me os pães mas nada de me oferecer cerveja. Também não queria. O indivíduo estava a ser desagradável e eu queria sair dali para fora o mais discretamente que poderia. Mas o meu comportamento foi tudo menos discreto. Estava ali também um amigo meu e o tal jovem de preto que me ajudava ali com o quadro. Ia para sair quando me caíram as calças bem ali no meio do café. Passei a maior vergonha. Agora é que tinha de sair dali rápido. Fui para a rua com o meu amigo e o tal jovem de preto de elevada estatura e pele morena. Devia ser aí argelino, não sei.

Transpusemos um portão depois de passarmos por um jardim. Estava um vulto caído no chão. Eu depreendi que fosse um cadáver mas era demasiado hirto para isso. Passei à frente mas um deles tentou colocar a figura de pé. Ele dizia que era um cadáver mas revestido com uma camada de madeira. Que coisa estranha! Fomos andando.

Bem, no post anterior tinha dito que nem por uma vez havia sonhado com a minha casa. Pois bem, chegou a hora de sonhar. E esta parte parecia bem real. Como choveu bastante durante a noite, sonhei que me tinha levantado, abri a janela e constatei com horror que o cordão da roupa estava vazio. O vento havia arrancado as molas da roupa e ela tinha voado. Olhei para baixo, a minha roupa estava o mais espalhada possível pela rua. Para piorar as coisas, a rua estava toda enlameada. E agora? Distinguia o meu pijama azul e uma camisola interior que já não era branca, era castanha da cor da terra.

Foi quando eu acordei. Quanto ao jogador da Académica que eu não estava a conseguir identificar, talvez fosse o Haliche que agora joga no Estoril. Olhei para o cordão da roupa. Por acaso o pijama azul nem está lá a secar.

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