Já aqui contei algumas peripécias da minha infância,
especialmente quando tudo me servia para brincar. Esta é mais uma história
dessas.
De há uns anos a esta parte, sem que nada o faça prever,
vou-me lembrando de coisas que já estavam esquecidas e enterradas. Já me
aconselharam a registar por escrito essas memórias. Às vezes, tais lembranças
são de tal maneira fortes, que sou mesmo transportada para esse acontecimento.
É frequente sentir mesmo os cheiros ou os sabores desses momentos, como se os
estivesse a viver de novo. Por vezes o espaço onde me encontro é mesmo
substituído. Isso acontece aí desde 2010. Já perguntei por que é que isso acontece
a entendidos e todos me dizem que é algo estranho.
Escrever e partilhar aqui alguns dos acontecimentos de que
me vou lembrando é uma boa ideia.
Desta vez lembro-me de uma tarde longínqua em que eu (sempre
eu- eu era terrível para essas coisas) fui desencantar uns rádios antigos em
casa do meu falecido vizinho. Acho que ele os tinha na rua para arranjar.
Alguns deles tinham uma espécie de alça para trazer como se trazem as carteiras
de senhora.
Logo me surgiu uma das ideias peregrinas que sempre me
assolavam naquelas alturas. Com um desses rádios a tiracolo, pavoneava-me pela
estrada fora. Se fosse agora, com o tráfego que na altura não havia e há hoje,
já estaria no Youtube ou no Instagram. Naquela altura, estas memórias
perderam-se no tempo, até que me lembrei delas assim do nada.
Lembro-me que fomos até nossa casa com os adereços a
tiracolo e a minha mãe mandou-nos ir levar os rádios ao sítio. Acho que ainda
continuei por ali quase até anoitecer. Lembro-me de ir rodando os botões
enquanto me passeava pela estrada.
Naquela altura era assim.
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