Thursday, December 20, 2012

Vinte e um do doze

Se o Mundo acabar…não venhas para casa.”

É madrugada, sensivelmente uma da manhã de dia 21 de Dezembro de 2012. Não estava tanto frio como costuma estar por esta altura mas também não estava calor quando toda a gente foi dormir.

Acordo. Estarei ainda a sonhar ou está um calor algo abafado? Um calor mesmo estranho que nunca senti antes. Nesta altura do ano então não é normal a temperatura estar assim. Volto a adormecer.

O despertador toca. Ainda está escuro mas há um não sei quê estranho no ar. Será psicológico? Ainda está escuro. Há quem preveja que este dia não vai amanhecer. Vamos esperar mais uma hora para ver se é ou não assim.

Ouço um alarido na rua. Cães uivam em uníssono e ouvem-se outros sons da Natureza que nunca antes ouvi. Gatos miam e escondem-se, aves esvoaçam de forma desorientada no pátio lá de casa. A velha catatua emite um som que nunca antes se ouviu também.

Saio à rua para ver algo estranho. Olho para o Céu. Dois pontinhos luminosos distinguem-se. Não parecem estrelas, parecem duas pequenas lâmpadas amarelas, mais amarelas do que a Lua. Uma delas está a tornar-se cada vez maior.

Que horas são? Ainda são sete e um quarto. Realmente já deveria começar a ficar de dia. O vento está a soprar muito forte mas o Céu parece limpo. Reparo que já surgiram nele mais dois pontos luminosos. Um deles é lilás como os relâmpagos e parece mover-se. Só em sonhos vi uma coisa assim. Lembro-me de ter relatado no meu blog um sonho de tempestade em que cheguei à porta da minha sala e vi no Céu como que a luz dum raio a atravessá-lo. Deu a impressão de que parou ali. Assim era aquela luz. Agora não estou a sonhar.

Estou na rua e noto que ainda não regelei, apesar de nada ter vestido para me agasalhar. É estranho. Passaram aí uns vinte minutos e nada dos primeiros raios do dia. Só aquela luz estranha ilumina o Céu.

Começam a cair umas pingas grossas de chuva mas…o Céu não se encheu de nuvens e esta chuva é quente. Como é isto possível? A chuva vai aumentando e o vento também. Em vez de amanhecer, o Céu fica completamente negro. Não é azul-escuro. É negro mesmo.

Tenho de me abrigar. Está a chover imenso e há um cheiro estranho no ar. Não sei explicar o que ele me lembra. Ouço vindo dos Ceus algo que se rasga e começam a chover pequenos fragmentos de pedra. Tenho mesmo que ir para dentro e esconder-me. Estou tão espantada que nem filmei o que está a acontecer.

O Céu parece que está a desabar. Trovões como nunca antes se ouviram estão agora a ribombar. A estrada está inundada. Nunca antes vi tal coisa. É então que reparo que tem estado a chover uma substância negra como o alcatrão.

Ouço estalos. É como quando acendem uma fogueira. Olho para a zona dos pinhais. Está um fogo a alastrar. Não se podem alertar os bombeiros. Os telefones nem dão sinal de que alguma vez funcionaram. E agora?

Está a chover torrencialmente. O vento está a soprar e esta chuva toda não acalma o fogo. Até me atravessou a mente a ideia de que esta chuva é combustível. Reparem bem como o fogo alastra vorazmente. O que fazemos?

Perdi a noção do tempo. Já me escondi mas não me vale de muito. Se isto for realmente o fim do Mundo, não restará nada nem ninguém.

A Natureza parece enfurecida. Mas o que é isto? É mesmo o fim do Mundo. Uma rajada de vento já varreu o telhado da casa e as grades do muro há muito que andam pelo meio da lama negra na estrada.

De onde vem tanta pedra? Um relâmpago agora ilumina o que ainda há para iluminar. O trovão que se lhe segue faz com que a Terra estremeça. A chuva agora é diluviana. Não se consegue ver nada para a estrada. Já não estamos seguros em lado nenhum. Não nos podemos esconder e muito menos podemos sair para a rua.

A enxurrada das pedras vem aí. Do outro lado alastra um imenso fogo. Ninguém parece ter condições de escapar a isto. A estrada abriu brechas enormes. Esta chuva que ultimamente tem caído é ácida. Vai destruir as nossas casas, os nossos esconderijos e, daqui a poucos minutos, irá transformar tudo em nada. Em pó.

Fico aqui. Ninguém Vai escapar disto. Estamos todos no mesmo barco. O fogo, a chuva e as pedras vão devorar-nos impiedosamente. A Terra vai-se transformar num negro planeta rochoso. De certeza. Talvez nunca mais aqui haja vida.

Vem ali algo. Não consigo ver o que é mas vem para cá. Parece…

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