Saturday, December 08, 2012

Estamos de luto

Soube agora mesmo da trágica morte do Dr. José Adelino Guerra. Uma morte tão inesperada, tão chocante e tão despropositada, que me custa a acreditar como foi possível alguém perder a vida assim nestas circunstâncias.

Para além da profunda tristeza que sinto pela perda de alguém que conhecia bem, com quem convivia e que muito fez por nós, também sinto raiva e revolta por ainda haverem locais na cidade de Coimbra, em pleno século XXI, que são verdadeiras armadilhas e fossos mortais, em pleno centro da cidade, por onde passam centenas ou talvez milhares de pessoas por dia.

Conheço muito bem o local onde se deu esta tragédia e, precisamente por o conhecer bem, é que me assola este sentimento de incredulidade e revolta por ali se ter perdido uma vida. A vida de alguém que vinha do trabalho, como normalmente fazia todos os dias, tacteou o caminho com a bengala, seguiu em frente e encontrou o vazio e a morte.

Como é possível não haver qualquer tipo de protecção ali? Passo lá algumas vezes a pé. Muitas mesmo. Tenho sempre o cuidado de passar pelo lado de fora, não me encostar muito. Já me ocorreu numa ocasião em que ali passei dar por mim a pensar que, se acaso alguém (nem precisa ter deficiência visual, basta vir distraído a conversar) colocasse ali um pé em falso, iria parar lá abvaixo à outra rua com consequências muito graves. Jamais me ocorreu que quem ali cairia fosse alguém que conhecesse muito bem.

Lamenta-se profundamente a perda de um homem que muito fez pela comunidade deficiente visual, um homem corajoso, com espírito inovador e que amava a vida. A sua morte talvez não seja o fim da sua obra neste Mundo. Talvez sirva para alertar os autarcas e governantes da cidade de Coimbra que não podem haver sítios como este, capazes de ceifar vidas como aconteceu ontem à tarde. Há que despertar as consciências e reflectir sobre as nossas ruas, as nossas infra-estruturas, os nossos locais públicos, que por vezes são locais onde a morte espreita para quem não se consegue defender dos seus perigos tão bem.

Não é preciso ser-se muito entendido para passar na rua que vai da Casa da Cultura em Coimbra para a Praça da República para ver ali perigo. Basta simplesmente percorrer aquele passeio a pé. Não deveria ser necessário ali se perder uma vida para se tomarem medidas mas, como sempre acontece neste nosso País aparentemente civilizado e desenvolvido, há que agir rapidamente para que mais ninguém caia ali ou noutro local com as mesmas nefastas características. Saliente-se que passam ali muitos deficientes visuais, por vezes essas pessoas não conhecem o local. A ACAPO realiza ali ultimamente muitos eventos e muitos frequentam também a biblioteca. Se um deficiente visual que ali passava todos os dias ali faleceu, imagine-se alguém que venha expressamente para participar numa festa ou numa conferência ou simplesmente precise de documentos adaptados da biblioteca para estudar?

Resta pois agradecer tudo o que o Dr. José Adelino Guerra fez por todos nós e recorda-lo enquanto comigo conviveu no Desporto, na nossa colonia de férias ou ultimamente nas caminhadas. Custa a acreditar que partiu assim deste Mundo uma pessoa tão cheia de vida como ele.

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