Wednesday, December 26, 2012

Um terrível conto de Natal



O fogo crepitava na lareira enquanto a família estava reunida em volta de uma mesa repleta de iguarias.

Luzes cintilavam na árvore de Natal do outro lado da sala. Os presentes aguardavam o bater das doze badaladas para serem abertos.

A ansiedade das crianças contrastava com a serenidade dos adultos que conversavam calmamente enquanto separavam as suculentas lascas de bacalhau.

As frutas cristalizadas do bolo-rei cintilavam à luz do candeeiro que iluminava rostos felizes ali sentados à mesa.

Tudo estava tranquilo, portanto, naquela noite de Consoada. Do lado de fora da casa, o frio apertava. Não se ouvia um único som. Toda a gente devia estar a festejar o Natal junto dos seus.

Faltavam dez minutos para a meia-noite. Crescia a ansiedade de abrir os presentes. O tempo passava devagar.

O candeeiro que iluminava a farta mesa da Consoada começou a falhar sem que nada o fizesse prever e apagou-se totalmente poucos segundos depois.

A árvore de Natal também se apagou pouco depois. Só a lareira iluminava a sala de forma ténue. Um som forte ecoou por toda a casa. O que seria aquilo?

As crianças entusiasmaram-se porque logo pensaram que fosse o Pai Natal. Olharam e ficaram felizes da vida. Era mesmo o Pai Natal que tentava desesperadamente descer pelo telhado da casa.

Era mesmo o Pai Natal? Se vestia o fato vermelho, usava barbas brancas e compridas e usava gorro vermelho, quem mais poderia ser?

Saltando do telhado, o Pai Natal partiu o vidro da janela da cozinha e conseguiu penetrar em casa.

A alegria das crianças era imensa. O Pai Natal tinha vindo e trazia um enorme saco de brinquedos. Não, o saco não tinha brinquedos. Esse é que era o grande problema.

Na quase total escuridão da sala de jantar, o Pai Natal ia distribuindo embrolhos por todos os membros da família e emitia as tradicionais gargalhadas de Pai Natal mas com um ar um pouco mais sinistro.

Começaram todos a abrir os seus presentes. Eram caixas grandes contendo insectos enormes e venenosos. Nunca na vida tinham visto coisa igual. Eram cobras enormes, aranhas gigantes, outros bichos que nunca tinha visto mas que logo morderam ou picaram em quem abriu as caixas onde vinham e lhes tocou sem saber o que ali estava.

Enquanto a família inteira era tomada pelo pânico e pela dor, o Pai Natal já estava a revistar a casa em busca de objectos de valor para levar no seu maldito saco onde trouxe os presentes envenenados. É que a família estava toda tombada sobre a mesa devido às picadas e mordeduras dos insectos que ele trouxe.


Carregando tudo o que conseguiu, o Pai Natal saiu triunfalmente pela porta principal da casa. Sonoras gargalhadas de escárnio saiam da sua boca. Não parecia um Pai Natal, mais parecia um demónio.

A lareira, quase sem lenha, acendeu-se como que alimentada por qualquer substância inflamável. O fogo alastrou à alcatifa da sala e consumiu toda a casa num instante.

Poucos minutos depois, a casa explodiu. Do local onde esteve construída, nem os alicerces restaram, apenas um espaço vazio que ninguém conseguiria explicar.

Um laço de embrulho de Natal abandonado movia-se ao sabor do vento a cem metros do local onde estivera a casa. Alguém se encheu de coragem e o apanhou. Ainda preso ao laço, havia um vulgar cartão de Natal. As letras estavam sumidas mas conseguia ler-se ainda:

“POR QUE NÃO ME DEIXASTE ENTRAR HÁ DEZ ANOS ATRÁS PARA CONTIGO PASSAR O NATAL?”

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