Wednesday, June 02, 2010

A pressa dá sempre mau resultado

Ver também “”Perdas e esquecimentos”

Foi mais um dia em que eu não acabei o que estava a fazer a horas de eu me ir embora. Já passava das sete e meia quando me despachei e o autocarro era às oito menos um quarto.

Mas o que é que as minhas colegas querem que eu faça? Se não correr, fico longos minutos na paragem a secar à espera que venha o próximo autocarro. Enquanto isso, perco tempo precioso. Em meia hora dá para eu comer decentemente, para dar uma vista de olhos a alguns textos, dá para ver as notícias…tudo antes de ligar a Internet. Como agora a Internet é por carregamentos, tenho de já ter as coisas preparadas na medida do possível para quando eu a ligar. É que o tempo de ligação está a contar e ainda há os jogos virtuais para preparar. Meia hora é muito.

Eu quando vejo que o tempo escasseia para apanhar o autocarro corro. Não tenho a sorte de ter carta de condução como elas. Se se atrasarem cinco minutos, chegam ao estacionamento e lá está o carrinho que não se vai embora sem elas. Elas ainda não sabem que eu, por não ter a possibilidade de ter carta de condução, não posso trabalhar na minha área. Que uma pessoa se esfola a estudar para depois ficar, à partida impossibilitada de responder a um anúncio por ser exigida a porcaria de um papel que não tenho a culpa de não poder ter. Pouca gente ali sabe que tenho licenciatura em comunicação Social e não estou a contar em espalhar muito esse facto ocultado propositadamente do currículo que apresentei.

O tempo escasseava e havia que correr. Há um torniquete que agora funciona e que dá acesso ao interior do supermercado. Só há poucos dias é que ele começou a funcionar. Vinha das caixas já cheia de pressa. Ia-me lá lembrar que aquilo já funcionava?

Comecei a correr. Iam umas pessoas à minha frente. Com a chegada dos clientes, o torniquete abriu. Para evitar que ele fechasse, tive de correr mas foi tarde de mais. Fui contra um cliente e estatelei-me no chão, levantando-me no mesmo segundo e começando a correr como se nada tivesse acontecido.

No dia seguinte tive de aturar o discurso de umas poucas de colegas minhas:
- “Caíste? Magoaste-te? E se partias uma perna? E se te aleijavas?”

Azar! Estou farta dessa ladainha e já estava por aqui dessa conversa. Não lhes podia responder da maneira como me estava a dar vontade de o fazer. Se caísse, ou melhor, se me aleijasse, se partisse uma perna, um braço ou assim não era nada no meio do que eu já suporto na vida. Ao menos um braço partido ou uma perna cicatrizam. O problema que eu tenho tende a piorar e o pior é que, por causa dele, não sou ninguém na vida. Por causa dele corro e por causa dele estou impedida de mostrar aos outros o que realmente valho sem ter de cobrar um preço muito alto.

Falam bem porque sempre tiveram facilidades. Uma perna ou um braço partido para elas seria certamente uma tragédia. Para mim, que já vivi muita coisa, não seria mais do que um pequeno percalço na vida.

Caí? E depois? Veio algum mal ao Mundo? Que eu saiba nunca fui parar ás urgências hospitalares por causa de uma queda. Conheço as urgências por causa dos meus problemas e é indigno uma pessoa da minha idade ir a uma urgência hospitalar por causa de uma doença e não por causa de um acidente. Desde pequena que estou habituada a ir a uma instalação hospitalar e estarem lá pessoas com idade para serem minhas avós.

Irra que já cansam! Não me aleijei. Vim trabalhar no dia seguinte. Por isso acabou-se a conversa. Ponto final antes que eu me chateie.

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