Passamos agora para a literatura nacional e para um texto que teve a finalidade de ser usado como monologo de uma atriz numa peça de teatro.
A personagem em palco faz a sua defesa perante o tribunal. Ela matou o seu filho por misericórdia e não se importa de se defender sozinha.
O filho desta mulher tinha uma doença genética que herdou do avô, meteu-se nas drogas e provocou um acidente, matando pessoas inocentes na estrada quando conduzia sob o efeito do álcool e das drogas. Ele ficou tetraplégico e incapaz de falar. Um vegetal, portanto, que apenas tinha consciência.
Então a mãe, servindo-se de todos os argumentos e mais alguns, justifica a sua atitude de pôr fim á existência do filho que nunca amou.
Este texto leva-nos á sempre controversa temática da eutanásia e da morte assistida. Eu confesso que sou a favor em determinados casos. Há pessoas que continuam vivas sob circunstâncias horríveis. Há pessoas com cancros tão agressivos, que entram em decomposição ainda vivas. Nesses casos, mais vale acabar com o sofrimento.
Depois tem de ser o próprio doente a decidir se deve ou não continuar a viver e nunca ninguém por ele. Por exemplo, sou contra a eutanásia num caso como este aqui descrito. A mãe não sabe se o filho queria continuar a viver. Vi há uns anos um documentário que falava das vítimas de acidentes em Inglaterra. Foram apresentados três casos. Duas mulheres e um homem, todos eles vítimas de acidentes rodoviários. Num dos casos, os familiares optaram por desligar as máquinas á paciente e vieram a arrepender-se. Noutro caso a mulher continuou a viver mas com muitas sequelas. Notava-se que ela mostrava felicidade em abraçar os filhos.
Mais dúbio era o terceiro caso, mais aproximado com o deste livro. O homem estava consciente e comunicava com os olhos. Os familiares queriam optar pela morte mas os médicos estavam intransigentes e defendiam que, apesar de o homem não se mexer, ele continuava a ver um sentido para a sua vida. Era visível nos seus olhos a alegria ao ver os seus filhos, algo que lhe ia ser retirado com a sua morte. Ele acabou por viver. Confinado a uma cama, é certo, mas continuou a ver os seus filhos.
Este tema tem muito que se lhe diga, por isso é que na Holanda, onde a eutanásia está legalizada, é necessária uma minuciosa avaliação de cada caso. Para que não se cometam abusos por parte de familiares que se querem ver livre de um familiar que esteja com um problema de saúde ou simplesmente vergado ao peso da idade.
Enfim, trata-se de um tema muito sensível.
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