Já há muito que não me acontecia ser assolada por aquela
espécie de flashes que me transportam a memorias de infância. Não encontro uma
explicação para isso acontecer mas tenho uma teoria que hoje se veio a
confirmar.
Eu tenho para mim que isso acontece quando estou a
desempenhar tarefas em que funciono quase em piloto automático. Acontecia quando
embalava pão, quando embalava alfaces, quando estava a colocar pisco de
verificação em consultas médicas e hoje aconteceu…enquanto fazia abdominais.
Neste curto espaço de alguns segundos, fui transportada para
o barracão da casa da minha vizinha. Devia ter uns oito ou nove anos. Estavam a
limpar o lagar onde se pisa o vinho. Ali estavam guardadas algumas coisas
velhas. Acabei por achar umas revistas. Eu dizia que aquilo era uma espécie de
banda desenhada com pessoas reais. As fotos eram a preto e branco e tinham uma
sequência como a banda desenhada.
A imagem que me assolou o espírito hoje foi uma foto passada
no quarto de alguém. Havia uma pessoa deitada na cama. Devia estar doente. Duas
outras pessoas estavam ali junto ao leito. Já na altura eu tinha uma imaginação
muito aguçada. Já não me lembro se aquilo tinha algum texto mas também pouco
importava. Vendo as imagens, logo imaginava a cena. Naquela sequência de fotos,
as pessoas junto á cama seriam familiares da pessoa que estava deitada,
provavelmente no fim da vida. Lá iam discutindo as consequências da morte
daquela pessoa. Talvez a minha imaginação fosse influenciada pelas novelas que
davam na época mas eu, a partir daquelas
imagens, logo fazia outro filme ou outra novela.
Não sei quem consumia tais publicações em casa da minha vizinha.
Só sei que encontrava dessas publicações em todo o lado. Quando as achava, já
sabia que tinha com que me entreter durante muito tempo. Sempre adorei livros,
revistas e outro tipo de publicações.
Só depois de adulta é que soube que estas publicações se
chamavam fotonovelas. Muitas me passaram pelas minhas pequenas mãos de criança.
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