Monday, March 27, 2017

Dança dos bancos

Já aqui referi que o Futebol está mesmo louco em matéria de haver pouca tolerância para o fracasso nos comandos técnicos das equipas. O cúmulo dessa dependência cega de resultados foi o despedimento de Claudio Ranieri do comando técnico do Leicester depois do que ele conseguiu.

Aqui por Portugal, ao longo desta época, tem-se vindo a assistir a uma sucessão nunca antes vista de mudanças de treinadores na Primeira Liga, o que nos faz pensar que o trabalho de treinador é muito ingrato e muito desgastante, com a pressão constante a pairar sobre as suas cabeças.

Mas afinal o que se anda a passar por aqui e também pelo Mundo fora? Simples. Cada vez mais estamos dependentes de resultados. Sem eles não há lucro nesta indústria em que o Futebol se tornou. Sem ganhar não há patrocinadores, sem patrocinadores não há combatividade e sem combatividade...não há resultados.

Mas afinal por que razão o treinador é o primeiro a sair quando as coisas correm mal? Mesmo que tenha operado o milagre anteriormente de ter sido campeão nacional com um orçamento e um plantel que nada tinham a ver com os valores da concorrência? Em primeiro lugar, só se olha para a frente. O que está para trás pouco importa, pois não é isso que agora poderá gerar o lucro, quer na potenciação de jogadores para futuras vendas, quer para as receitas de assitências no estádio e de transmissões televisivas.

Para além disso, pode-se mudar de treinador em qualquer altura. Já de jogadores não é bem assim. Existem as janelas de trasnferências. É isto que deixa a classe de treinadores muito vulnerável, no meu entender. A solução talvez esteja em regulamentar também as entradas e saídas de treinadores. Provavelmente tal ideia não reuniria muitos simpatizantes mas os treinadores estariam muito mais resguardados nos seus interesses.

Em alguns países tentam-se criar regras como impedir que um treinador que saiu de uma equipa venha a treinar outra do mesmo campeonato mas pouco mais se faz. Da maneira como as coisas estão por este Mundo fora, um treinador que tenha o azar de não ter os jogadores do lado dele, pode ser vítima dessa antipatia. Basta os jogadores se andarem a arrastar em campo e não darem ouvidos ao que ele diz. Sabendo da facilidade que os dirigentes têm em despedir o treinador, é apelativo um plantel inteiro, seja em que pare do Mundo for, tentar que o mister seja despedido. E não bastam muitos jogos sem ganhar…

As mudanças, a haver algumas, terão de vir de cima. Regulamentar as chicotadas psicológicas será a solução. Ou criando cláusulas de rescisão mais altas (os treinadores podem exigir isso, basta quererem) ou, como disse atrás, criar uma espécie de mercado de transferências para treinadores que, na minha opinião, deverá coincidir também com o mercado de jogadores para que o treinador novo possa dispor dos meios para moldar o plantel que encontrou às suas ideias de jogo. Estes treinadores, sempre a entrar e a sair dos nossos clubes, deparam-se com os jogadores que lá encontraram. Pouco ou nada poderão fazer em muitos casos.

Milagre fez Claudio Ranieri e foi despedido. Proeza foi o Moreirense de Augusto Inácio vencer a Taça da Liga com Benfica e Braga pela frente. Também ele conheceu a porta de saída.

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