Tuesday, March 28, 2017

Carro de mão de madeira

O que eu vou passar a narrar a seguir aconteceu há muitos anos, ainda a estrada de Vale de Avim não era alcatroada. Estou a contar isto agora porque sonhei que o estava a contar também ao meu cunhado, à minha irmã...e ao meu sobrinho que se encontrava ao colo do pai. Foi para quem me quis ouvir.

Numa tarde, a minha mãe pegou num atrelado de madeira que tínhamos na altura e resolveu levar-me às compras. Não fomos pela estrada principal. Pelo menos não viemos por lá de certeza. Isso faz toda a diferença no desfecho desta historia.

Naquele tempo, para além de não haver ainda a chamada “estrada nova” de Vale de Avim, também os refrigerantes, naquela altura todos conhecidos por laranjada ou por gasosa, vinham em garrafas de vidro de um litro ou lá o que era que depois se tinham de devolver.

Naquela tarde, a minha mãe levou-me então às compras no velho carro de madeira que só tinha duas ripas de lado para nos segurarmos. Pediu-me então que segurasse bem a garrafa com as minhas pequenas pernas, já que precisava dos braços para me segurar.

Quando saímos da estrada principal e chegámos ao fundo do trilho que dava para aquele local onde iria ficar a estrada, mas que ainda não estava alcatroada, a minha mãe guinou o carro com força, na ânsia de me segurar, soltei as pernas e as compras ficaram todas espalhadas no meio da estrada de terra batida. Escusado será dizer que a garrafa da laranjada se partiu em mil pedaços e o líquido borbulhava no chão.

Outros tempos, sem dúvida. Hoje quem transporta as crianças num carro de madeira? Quem lhes coloca à guarda garrafas de vidro? Crescemos assim e ainda cá estamos.

No comments: