Saturday, April 17, 2010

“O Padrinho (Impressões pessoais)



E cá vamos nos dar a nossa opinião sobre um livro que, segundo as pessoas com quem tenho falado, deu um grande filme. Como eu não vi o filme para dar a minha opinião sobre como foi esta empolgante história passada para a grande tela, fico-me pelo livro.

Esta é a obra-prima do escritor americano de origem italiana Mario Puzo datada do ano de 1972. Nesta obra, o escritor retrata a vida de alguns compatriotas seus emigrados na América que continuam a levar uma vida aparte da sociedade que os recebeu.

É do conhecimento público que a Máfia está muito presente na Sicília e muitos dos emigrantes italianos que se exilaram na América após as guerras tinham familiares próximos que pertenciam à organização e, mesmo que quisessem, não poderiam fugir dela facilmente.

A leitura deste livro fez-me lembrar as séries de “O Polvo” que eu via quando era miúda e estava sempre ansiosa para que chegasse o dia da semana em que elas fossem para o ar na RTP. Lembro um episódio curioso: fui operada às amígdalas logo no dia em que era exibido o último episódio de uma das séries e só o espectro de não poder assistir ao final me trazia alguma mágoa. Mas tudo correu bem e eu, com gelo na zona intervencionada, lá assisti ao final. Adorava quando os mafiosos se matavam uns aos outros com aquelas metralhadoras enormes. A Polícia também era um dos alvos a abater pelos mafiosos. Lembro-me de um delegado de Polícia que andava no encalço deles que foi abatido na rua com setenta e tal balas cravadas no corpo. A sua companheira de investigação, Sílvia Conte, na série seguinte continuou a saga de os perseguir. Chato era quando eles se vingavam de seres inocentes como assisti uma vez à morte de um miúdo que, apesar de ser filho de um mafioso de primeira, era uma criança indefesa. A mãe, por pertencer a uma família diferente, foi poupada à morte mas teve o amargo desgosto de ver o seu filho sucumbir a golpes de arma de fogo no meio da rua.

Em nada difere este livro desse cenário da troca de favores, do tráfico de influências e da desconfiança que existe mesmo no ente mais próximo. Quem pertence a este mundo obscuro tem de ser cauteloso nos passos que dá diariamente. Qualquer pequeno deslize pode conduzir à ruína. Deve haver muita pressão e muito medo ali. A vida daqueles seres deve ser pouco recomendável para se viver. Estar sempre alerta, com medo que algo surja mesmo de quem menos se espera não é nada agradável.

Adorei bastante a leitura deste livro, apesar de agora me ser escasso o tempo para ler. Fui lendo aos poucos mas sempre com o bichinho de tentar saber o que ia acontecer a seguir, tal como acontecia quando assistia a “O Polvo”.

A forma como algumas passagens da história nos são contadas e a descriação de algumas personagens com recurso ao humor também é um condimento para nos prender. Lembro-me por exemplo do cobarde Carlo Rizzi- casado com a filha do Padrinho. Era um indivíduo que tinha mais palavras que acções. Morria de medo de quem lhe podia fazer frente e em casa maltratava a sua indefesa mulher que ainda por cima se encontrava grávida.

Johny Fontaine era outro personagem desta história que também era muito engraçado. Graças a ser afilhado de Vito Corleone, obteve a fama e o sucesso que normalmente não obteria com o seu talento. Pessoas com maior talento que ele ficariam de fora de uma carreira auspiciosa no mundo das Artes. A forma como o seu padrinho conseguiu persuadir o seu irredutível chefe a dar-lhe o papel que tanto desejava no filme foi também memorável. O indivíduo não iria dar de maneira nenhuma aquele papel a Johny. Ainda por cima ele roubou-lhe a namorada e os dois não se davam realmente bem mas Corleone decidiu servir-se da paixão que o empresário de cinema nutria por cavalos, particularmente por um que lhe custou uma fortuna e assentou a sua intervenção aí. Quando acordou numa manhã, o produtor cinematográfico tinha o seu cavalo preferido degolado aos pés da cama.

O balanço geral que faço deste livro é muito positivo. Uma obra cativante do princípio ao fim. Parece que estamos a assistir a uma verdadeira série televisiva. Apesar da leitura deste livro, não senti curiosidade em ver o filme por ser agora difícil para mim ler as legendas. É por isso que não vejo cinema. As pessoas admiram-se como ainda há pessoas que não gostam de cinema mas eu pertenço ao escasso grupo dessas aves raras. Tenho amigos cegos totais que gostam de filmes. Custa a compreender, visto que alguns nem uma palavra sabem de Inglês. Quem sabe eu mude de ideias e veja o filme quando passar só para ver como foi esta obra adaptada para tal efeito.

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