Tuesday, April 27, 2010

Mentalidades retrógradas

Passam trinta e seis anos sobre o 25 de Abril, saliente-se, e já estamos em pleno século XXI e ainda há gente neste miserável País que simplesmente me causa repulsa e quase não merece comentários. Se depender dessas pessoas, as mentalidades nunca hão-de mudar em relação à condição feminina.

Foi com alguma revolta que ouvi uma avozinha fazer o seguinte comentário ao pedido da neta que queria uma bola daquelas de aliviar o stress, daquelas com uns piquinhos, tipo ouriços e que têm umas cores convidativas:

- “As bolas são para os meninos, não são para as meninas!”

Enfim…Palavras para quê? Está explicado porque razão o Desporto Feminino não evolui. Com a educação que levam as jovens neste País não admira. Quantos vintes e cincos de Abril serão precisos para enfiar na cabeça dura de pessoas como esta que já se passou o tempo em que a mulher servia para estar em casa e que nada lhe era permitido. Se Salazar envenenou aquela mente, teve trinta e seis anos para achar o antídoto para esse veneno do qual imensa gente infelizmente ainda sofre os efeitos.

As jovens deste País que se aventuram no desporto, tal como eu, têm de fazer a travessia do deserto para, contra a vontade das mães principalmente, poderem prosseguir a sua carreira e poder abraçar o sonho de fazer aquilo de que gostam. Lá que a minha mãe que vive na aldeia e nunca dali saiu tem essa mentalidade ainda se compreende, agora uma pessoa que vive numa cidade como Coimbra, uma cidade que muito contribuiu para que hoje pensemos e possamos agir livremente, uma cidade que viu Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e outros cantar liberdade, isso soa a ridículo mesmo. O que me preocupa é saber quantas mais pessoas pensam assim. Pessoas que castram as suas filhas e netas de toda a liberdade que tanto trabalho deu a conquistar, que as privam de viver a felicidade plena.

Sinceramente, fiquei muito chocada com este tipo de resposta. Jamais imaginei ouvir isso em pleno ano de 2010 e em plena cidade de Coimbra. Nem sei o que pensar, a não ser que as mentalidades em Portugal ainda são tão retrógradas que nem se sabe o que fazer para as mudar. Serão precisos mais trinta e seis anos?

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