Wednesday, November 07, 2018

Não vemos...mas ouvimos cada coisa…

Mais duas histórias incríveis da singularidade do mnndo-cão dos deficientes visuais. Como se não bastasse termos de encarar a realidade de outra forma e sempre nos esforçarmos nesta vida para sermos alguém, ainda temos de levar com a falta de respeito e a incompreensão de quem, por ter dois olhos que funcionam, se dá ao direito de dizer tudo o que pensa sobre nós. Muitas das vezes até cai no ridículo.

Parece que para algumas pessoas a cegueira pega-se. Devem ter lido o “Ensaio Sobre A Cegueira” do José Saramago aí umas vinte vezes. Acontece com alguém que partilha o mesmo prédio com a ACAPO que nos culpa de tudo e mais alguma coisa que aconteça no edifício. Sorte tem esse senhor e mais alguns de eu não estar por perto. Simplesmente atiraria com esta frase:
- “Você anda na estrada.”
Com isto eu desarmo as pessoas que nos maltratam e pensam que nada lhes pode acontecer. Conheço imensa gente que cegou em acidentes de viação. Também há quem cegue por doenças adquiridas já em fase tardia na vida. Depois é o desespero. Se isso acontecesse a pessoas como esta, garanto que não punha um pé fora da porta de casa. Depois já batia à porta da ACAPO. Melhor, batiam à porta da ACAPO por ele, pois nem se atrevia a esticar um braço.

O indivíduo chamou um perito de seguros para ver de onde vinha a infiltração que lhe alagava a garagem. Ele deve ter instruído o perito para nos humilhar. Só pode. Chega o perito às instalações da ACAPO e diagnostica que as infiltrações resultam...da nossa deficiência visual, imagine-se. Como não vemos, sacudimos as mãos junto à parede...e a água vai direitinha à garagem do indivíduo, alagando tudo.

Indignados, os meus amigos questionaram a criatura que foi atirando:
-”Sabem, as paredes podem falar.”

Outra história passou-se quando uma amiga minha entrou num bar ou numa pastelaria. Alguém que ali estava dentro atirou:
- “A vida dos cegos deve ser mesmo uma escuridão!”

É uma escuridão mas conseguimos ouvir as coisas desagradáveis que brotam da boca de algumas pessoas que não se lembram que podem ser cegas também.

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