No tempo em que eu estudava Comunicação Social, tinha de
ficar na escola até altas horas da noite para ter acesso à Internet. Era todo
um mundo maravilhoso e inacreditável, o que se me deparava. Era uma ferramenta
importante para os estudos mas os livros ainda tinham um peso significativo.
Nós fomos formados para trabalhar em jornais como os que
havia na altura, televisões como as que havia na altura e rádios como as que
havia na altura. Estou a falar de início do Século XXI. Já havia muitos órgãos
de comunicação online…mas não havia redes sociais. Isso faz toda a diferença.
Hoje, para que queremos os media, se tudo se sabe na
gigantesca aldeia global que é uma rede sociai? Perdeu-se a magia de contactar
as fontes. Hoje, basta procurar o que as nossas fontes, sejam políticos,
actores, desportistas ou músicos postam nas redes sociais. Também corremos o
risco de tropeçar em grandes notícias sem querer como me aconteceu a mim e como
passo a narrar.
Eu ainda hoje estou boquiaberta com a forma como ontem soube
que José Peseiro ia para o Porto. É um sinal claro dos tempos.
Como o Saleh Gomaa saiu do Nacional da Madeira para ir jogar
para o Al Ahly do Egipto e eu sou fã dele, comecei a seguir esse clube nas
redes sociais, particularmente no Instagram. Houve alguns cidadãos anónimos que
me seguiram a mim por curiosidade e cada vez mais me seguem por essas paragens.
Também há grupos organizados de adeptos do Al Ahly e mesmo do Saleh Gomaa que é
muito querido no seu País. Aqui por Portugal, de forma incompreensível, passou
um pouco despercebido. Talvez isso se tenha ficado a dever às funções no
terreno de jogo que Manuel Machado lhe destinava, mais defensivas. Na minha
equipa, se fosse eu a treiná-lo, ele podia fazer o que quisesse, de modo a
libertar toda a magia que tem nos pés.
Ontem, eram aí umas nove e meia da noite, comecei a ver que
toda a gente lá no Egipto postava a mesma coisa no Instagram- o adeus a José Peseiro.
Pois bem, eu esperei que um adepto do Al Ahly em especial postasse essa imagem.
Foi o que aconteceu. Quando eu quero saber alguma coisa, pergunto-lhe a ele.
Pelos vistos não falha. É uma incrível fonte que ali tenho.
Parecia que as pessoas estavam contentes com a saída do
treinador lusitano. Entretanto eu fui dar uma volta pelas aplicações de
notícias de Desporto. Não estava lá nada. Do Egipto, qualquer adepto do Al Ahly
colocava uma foto de Peseiro. Como era possível cá no burgo ninguém saber de
nada?Que jornalistas temos cá? Ou então sou eu que sou uma privilegiada. Deve
ser mais isso.
Bem, voltei à aplicação das notícias de Desporto e lá estava
a notícia a anunciar que José Peseiro tinha sido despedido do Al Ahly. Os
resultados não eram bons mas…não eram maus também. Era estranho!
Voltei ao Instagram e meti conversa com esse meu amigo que
normalmente me conta as novidades do Futebol lá dessas paragens. Escrevi que,
com tantas mudanças de treinadores nos clubes portugueses, provavelmente José Peseiro
estava de regresso a Portugal. Eu estava a pensar quando escrevi isso que
Sérgio Conceição ia para o Porto e Peseiro ia treinar o Vitória de Guimarães ou
o Marítimo que entretanto tinha também ficado sem treinador.
Qual não é o meu espanto quando a minha fonte me responde
apenas escrevendo “Porto”. Eu disse que não acreditava, até porque estava à
espera que viesse para o Dragão um treinador mais famoso. Falava-se de Leonardo
Jardim, de Marco Silva, de André Villas-Boas, até se falou se Marcelo Bielsa.
Era, aliás, a informação que circulava nessa tarde.
Bateram as dez horas da noite e o noticiário da Rádio Renascença
abriu já com a notícia de José Peseiro no Porto. Os jornalistas estavam tão
espantados como eu. Realmente ninguém estava à espera. Disse ao meu amigo que a
notícia já tinha chegado a todos os órgãos de comunicação social e que o
Portugal Futebolístico estava todo espantado.
E assim se sabem as notícias hoje. Os jornais candidatam-se
a tornarem-se obsoletos e sem interesse. Com as redes sociais, cada um sabe um
pouco de cada coisa para a poder partilhar num espaço comum e mais amplo. Um
espaço que é de todos e de cada um. Que não conhece fronteiras ou distãncia. Ler
jornais? Ver televisão? Isso foi no século passado.
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