Tuesday, March 04, 2014

“Never Again”- Classix Nouveaux (Música Com Memórias)



É de madrugada. Encontro-me na cama a ouvir música. Não trabalho, logo não me tenho de levantar cedo. Tudo corre bem, até que passa uma música que simplesmente me causa arrepios e umas tenebrosas lembranças.

Passo a explicar a aversão que tenho a este tema. Penso que não é demais repetir que associo músicas a tudo e mais alguma coisa. Pois bem, no caso desta, foi associada a um acidente horrível de um familiar afastado.

Não sei bem narrar o que aconteceu. Na altura teria aí uns oito ou nove anos de idade (andava na escola primária) e tudo se terá passado também por alturas do Carnaval. A minha mãe veio da mercearia lá da terra com as cartolinas para fazermos as máscaras na escola e contou à minha avó que tinha morrido alguém da família do meu pai (um primo?) chamado Abílio ou Virgílio (um nome desses). Sei que tanto a minha mãe, como a minha avó o conheciam. Não tenho dúvidas de que ele fosse da família do meu pai e não da minha mãe mas, tanto a minha avó paterna, como o meu avô paterno, tinham uma família bem numerosa. Há primos do meu pai que são filhos de irmãos da minha avó que mal conhecemos. Talvez este fosse um deles.

Sei que a minha mãe e a minha avó comentavam a sua morte que se deveu a um horrível e brutal acidente de trabalho. Pelo que me lembro, o nosso parente terá caído acidentalmente numa máquina de moer madeira (ou papel) para os lados da Figueira da Foz (se bem me lembro). Só deram pela ocorrência quando era tarde demais.

Lembro-me de a minha irmã pegar numa das cartolinas que a minha mãe lhe comprou e ter comentado que para o ano não queria nenhuma cartolina, pois estariam cheias de sangue que viria misturado no papel.

Na altura devia passar muto este tema na rádio e por isso o associei a este acontecimento. Como a minha irmã adoeceu no dia do funeral desse parente, penso que só o meu pai compareceu. Lembro-me de a certa altura, por curiosidade mórbida, terem perguntado como era o caixão. Então não sei quem disse que naturalmente estava fechado e tinha uma fita preta, uma amarela e uma vermelha a alertar que não o abrissem. Naturalmente o corpo estava muito mutilado, ou mesmo esmagado pela máquina. O meu vizinho tinha uma mochila que tinha umas tiras exactamente dessas cores. Foi assim mais ou menos que a minha mente de criança imaginou o caixão.

Tudo isto foi associado a esta música que agora escuto. Memorias rebatidas e arrepiantes povoam o meu espírito, talvez por terem sido vividas ainda criança. Se me contassem isto hoje, talvez tivesse outra bagagem para não me assustar ou recordar estes acontecimentos com este quê de assustador e tenebroso mas já se sabe que a mente infantil é mais susceptível de viver estes acontecimentos de outra forma.

Admiro-me de, ainda hoje, não deixar de me arrepiar quando ouço isto e imediatamente associo a tais acontecimentos. Eu, que vejo e leio tanta coisa propositadamente e não me assusto assim tão facilmente.

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