Sunday, August 06, 2006

E agora?!!!!!







O cansaço acumulado de uma semana agitada fez com que me levantasse tardíssimo. E eu que planeei ir para o Pavilhão mais cedo! Se eu soubesse o que se ia passar tinha saído de casa mais cedo. Já vão ver.

Dormia tão bem que nem dei conta da minha senhoria a sair de casa. Ou então ela não fez barulho nenhum. Ela tinha-se preparado para ir para um casamento para Seia e isso fez toda a diferença na história inacreditável que passo a narrar.

Nesse dia não me estava a apetecer tomar banho em água fria como da outra vez. (ver texto “Tudo pronto para apoiar Portugal”) Eu não sei ligar aquele esquentador. Há dias em que o ligo bem, mas há outros em que apanho uma valente dor de dedos e não o consigo ligar.

Ainda meio ensonada peguei na mochila das coisas de tomar banho e fui até à ACAPO em busca de um banho quente. Enfiei apenas uns calções e fui como estava. Com a azáfama de sair não levei chave e isso foi fatal.

Chegada à ACAPO, dei com o nariz na porta. A delegação não estava aberta. Pior foi que quando cheguei a casa dei também com o nariz na porta. A chave tinha ficado lá dentro no bolso das calças. E agora?

O Inferno pareceu ter subido à Terra naquele momento. Não sabia o que fazer. Da outra vez (ver texto “E eu não disse que ia chover”) a minha senhoria estava em casa. Toquei à campainha na esperança que ela lá estivesse também e me abrisse a porta.

Talvez ela tivesse ido ao Pingo Doce e não demorasse. Sentada nas escadas esperei que ela viesse mas o tempo ia passando. Não sabia que horas eram nem há quanto tempo ali estava. Não tinha relógio. Estava de chinelos e só trazia a mochila com uma muda de roupa interior. Não tinha ainda tomado o pequeno-almoço e nem tinha colocado as gotas nos olhos- o que já estava a fazer falta.

À medida que o tempo ia passando ia ficando cada vez mais desesperada. Comecei a perguntar aos outros habitantes do prédio se tinham visto a minha senhoria. Ninguém a tinha visto nem sabia o contacto dela. Fiquei desesperada e irrompi num pranto inconsolável. Estava ali sem nada.

O meu espírito estava cinzento como o tempo que se fazia sentir. Não chovia, nem estava frio. Aquelas escadas é que pareciam frias e duras. Eram uma espécie de trono de uma eterna espera. Subi-as e fui até quase ao cimo do prédio perguntar a uma senhora idosa que se dava bem com a minha senhoria se a tinha visto ou se tinha o contacto dela. Nem uma coisa, nem outra.

Desesperada voltei a descer e fiquei a pensar no que havia de fazer. Quanto tempo iria eu estar ali à espera? E o jogo de Portugal que já devia estar quase a começar. Como eu disse, não tinha ideia do tempo.

Fui até às traseiras do prédio. Há uns meses atrás andei lá à procura de umas calças de pijama que o vento tinha arrancado dos arames. (ver texto “E alguma coisa o vento levou”) A varanda era um óptimo local para entrar. Se eu subisse a mangueira...mas tinha medo. A operação era a arriscadíssima e bastante perigosa.

Fui até ao café pedir ajuda. Uma das pessoas que lá estava era o neto da senhora que mora no último andar do prédio. Portugal já estava a jogar e o café estava a abarrotar de gente. Nem imaginam o vexame! Só faço figuras tristes.

Foram duas pessoas ver o que se podia fazer. Pensou-se em chamar os Bombeiros, a Polícia...sei lá. Tudo isto porque uma criatura como eu que é o cúmulo da distracção deixou a chave dentro de casa. Já quando foi o Europeu de Atletismo em 1999 eu saí do quarto e deixei a chave lá dentro. A minha colega teve de ir pedir a uma empregada para abrir a porta do quarto.

No café tinham o contacto da minha senhoria que disse que estava em Seia num casamento. Bem podia esperar por ela até à noite! Sem roupa, sem comer, sem medicamentos, sem telemóvel, sem documentos...Ela disse que uma pessoa de família tinha uma chave, mas só vinha à noite. Não podia esperar porque me encontrava naqueles propósitos e tinha de ir para o Pavilhão.

As pessoas foram procurar uma escada para se poder entrar e foi isso que aconteceu. Quando me apanhei dentro de casa nem quis acreditar. Foi um alívio.

A primeira parte do jogo entre Portugal e o Irão estava a terminar. Aguardei pelo intervalo e fui tomar banho em água fria- para castigo. Estava tão nervosa que nem senti se a água estava fria ou quente. Coloquei as gotas e fui comer. A fome apertava.

Esta poderia ter sido a situação do dia, mas algo mais hilariante ainda se iria passar mais tarde.

Só assisti à segunda parte do jogo, vejam lá! Mesmo assim fui bem a tempo de assistir ao belíssimo golo apontado por Deco. Foi nessa altura que coloquei a minha bandeira na janela. (ver foto)

Assim que terminou o jogo fui virada ao Pavilhão. Desta vez levei a chave. À hora que eu iria chegar a casa bem podia dormir na rua!

A final de pares femininos já tinha decorrido. Ganharam as atletas russas. Havia que fazer o controlo anti doping a uma atleta do par chinês, mas não estava fácil. Eu e outras colegas estivemos a fazer companhia a essa atleta e a tirar umas fotos.

Mais para a noite eram os trios femininos e os pares masculinos a entrar em acção. Nos pares masculinos gostei particularmente dos ucranianos e de um dos pares ingleses. E foram mesmo os homens do Leste que venceram a medalha de ouro.

No final todos os participantes foram chamados ao palco. Atletas, treinadores, juízes, pessoal da organização e voluntários desfilaram num final de festa bastante bonito. (ver foto dos voluntários)

Toda a gente se deslocou para o Estádio que lá é que ia ser o local de todas as emoções e de todas as danças.

Situação do dia:
Toupeira dum raio! Depois de o dirigente da Federação Internacional de Ginástica ter dado os campeonatos por encerrados, houve um número que ainda faltou ser visto e avaliado. Era mesmo para final de festa. E perguntam vocês e bem: o que foi desta vez? Bem, íamos a descer do palco depois da cerimónia de encerramento e eu distraí-me a olhar para um polaco que caminhava ao meu lado. Estava um pouco escuro e os revestimentos do piso eram vermelhos. Ia tão distraída a olhar para quem ia que me enganei. Fui para meter um pé no que julgava ser um degrau e o resultado foi um valente trambolhão dali abaixo. Mas esperem...Lá em baixo estavam umas largas dezenas de pessoas que me agarraram por onde puderam e não me deixaram tocar no chão que era de alcatifa, saliente-se. Se queriam ver mil e uma mãos a agarrar-me...Ainda hoje me farto de rir.

Bacorada do dia:
“E ele nem ao menos te pediu desculpas!” (desculpas de quê, de eu me ter posto a olhar para ele como um boi olha para um palácio e ter ido por ali abaixo?)

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