Sunday, August 20, 2006

Chorar de manhã para não fazer figuras tristes à noite



Mais uma vez, adormeci com a televisão ligada e fiquei sem ver o resumo do jogo entre Trinidad e Tobago e o Paraguai.

Como Portugal ia jogar com o México, vesti-me de acordo com a situação. Não nos iam deixar ver o jogo. Em todo o lado as pessoas iriam ter uma pausa para apoiar a Nossa Selecção. Só ali é que as pessoas se armam em sei lá o quê. Numa cambada de seres sem sentimentos que não sabem lidar com os outros. Desde que a nossa psicóloga se foi embora (ver texto “Quando alguém tem de partir”) as coisas pioraram consideravelmente. Está um verdadeiro inferno. Mas que fazer? Nada. Eles é que mandam. Nós, simplesmente, obedecemos de cabeça baixa e com alta dose de desmotivação.

Aquele dia já ia começar mal. Assim que cheguei à porta da ACAPO, logo a Ave de Mau Agoiro me disse que se calhar não ia aos Campeonatos Nacionais de Atletismo em Seia por não haver transporte. Essa não! Fiquei aterrada. Depois de tudo o que me aconteceu ao longo destes últimos dois anos, aquele regresso aos campeonatos iria ter um grande simbolismo. Iria mostrar às pessoas que não baixei os braços e que continuo a lutar contra o meu destino traçado por algo que eu nada fiz para merecer. Trabalhei imenso ao longo destes últimos meses, sacrifiquei-me bastante, lutei contra a falta de condições materiais e humanas, fiz de tudo para regressar ao convívio com os meus colegas...

A minha disposição naquele dia não era a melhor. Caia por terra tudo o que eu tinha feito com tanto esforço. Ainda mais triste fiquei ao lembrar que houve campeonatos para os deficientes mentais em Coimbra e que deixaram participar os meus colegas. Nesse dia eu estava na cidade. Não me custava nada ter ido até lá. Começo a ficar farta dessas coisas. Por mais que uma pessoa lute e se sacrifique, as pessoas que deviam ajudar são as mais insensíveis. Isso deixa-me triste e desmotivada para a vida. Não custava nada às pessoas responsáveis da organização daqueles campeonatos ligarem-me e dizerem que podia participar e realizar o sonho de estar com os meus colegas que fui obrigada a deixar.

A minha sorte é que tenho pessoas que me ajudam sem me conhecerem bem e sem que eu tenha feito alguma coisa. O ano passado foram essas pessoas que atenuaram um pouco o que de mau se estava a passar na minha vida. A essas pessoas fico bastante grata por tudo. Pelo contrário, eu tenho lutado bastante até para ajudar os meus colegas e todos os deficientes que gostam de Desporto. Tenho muito amor pelo Desporto e, por isso, nunca vou baixar os braços. Situações como esta começam a cansar mas eu acredito que um dia alguém me ajude também e reconheça tudo o que eu fiz e continuo a fazer com grande sacrifício. Não quero dinheiro. Apenas quero fazer aquilo que gosto e estar com as pessoas de quem gosto e com quem me sinto feliz.

É melhor parar por aqui este capítulo senão não saio daqui. Claro que fui para as aulas, apesar do péssimo estado anímico em que me encontrava. As técnicas vieram propor à turma que fizesse desenhos e slogans para uma campanha de sensibilização para as pessoas serem mais cautelosas para com os deficientes e outras pessoas com mobilidade reduzida. O objectivo era que um fosse posteriormente escolhido para este evento. Apesar da pouca inspiração e de há muito não fazer um desenho, arrisquei-me a fazer um. Diz a crítica que nem ficou mau. Se calhar era para me animarem naquele dia que bem precisava. Podem dizer de vossa justiça. Podem ver o desenho.

Para quem não entendeu o significado deste desenho, ele é composto por um sinal de proibição onde estão desenhadas viaturas estacionadas em cima de um passeio. Em baixo estão representadas algumas pessoas a quem os carros estacionados nos passeios provocam grande transtorno. Assim, podemos ver uma pessoa com bengala branca, uma senhora idosa, alguém em cadeira de rodas e uma mãe a empurrar um carrinho de bebé.

Depois do almoço fomos normalmente para as aulas, apesar de haver jogo decisivo para Portugal. Nem me importei muito de não ter visto o jogo. Isso comparado com a notícia que recebi logo cedo não era nada. Fomos para a aula de cabeça e ouvidos no que se passava no corredor. As reacções que vinham da rua indicavam-nos com clareza as incidências da partida e não nos enganavam.

Para mal dos nossos pecados, o intervalo do jogo coincidia com o intervalo das aulas. Essa pausa serviu para perguntar como estava a decorrer a partida. E sempre vimos a repetição dos golos. Já não se perdeu tudo.

Portugal venceu e isso é que interessa. Agora que venha a Holanda ou a Argentina. Eu tenho medo da Argentina. É uma equipa difícil e que pratica um excelente futebol. Deve ser uma das equipas mais fortes deste Mundial. A Holanda contra Portugal? Bem, eu sou suspeita. Adoro a Holanda. Será sempre mais acessível que a Argentina, mas vamos ver. O que interessa é que Portugal ganhe, seja a quem for.

No Pavilhão a história era outra. Mais uma cerimónia de abertura igualzinha à da semana anterior. Iria dar o mesmo vexame? Se a cerimónia era a mesma...

A cerimónia era a mesma, mas o contexto era diferente. Desta vez fui lá para cima. Para o mesmo local onde fiquei no passado sábado. (ver texto “E agora?!!!!!”) Ali era difícil passarem-se as mesmas coisas. Depois, os “causadores” daquele estado de coisas estavam, infelizmente, nas suas terrinhas lá no país distante onde eu nunca ouvi dizer que se tivessem lá passado umas boas férias. Haverá lá praia? Sol e calor?

Ainda bem que o espectáculo da cerimónia foi repetido! Assim pude estar mais atenta à representação das lendas de Coimbra. Estava espectacular e muito original aquela representação de acontecimentos algo trágicos que são parte integrante da história da cidade.

O espectáculo acabou e as bancadas despiram-se rapidamente. O amarelo das cadeiras ocupava assim o colorido das pessoas que nelas estiveram sentadas. Era hora também de pensar em ir até casa que já se fazia tarde.

É sempre a mesma coisa: sempre adormeço e deixo de ver os resumos.

Situação do dia:
Isso é que eu sou uma segurança! Vejam lá que estive uns bons dez minutos para colocar de novo a vedação nas escadas que davam acesso à bancada de imprensa. (ver foto)

Bacorada do dia:
“Esta frase trata as pessoas como máquinas.” (ultimamente não ando a compreender o significado de algumas coisas que se dizem, ou sertã impressão minha?)

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