Sunday, August 13, 2006

O rapaz da camisola vermelha e seus acompanhantes

Depois do Rapaz do Boné Verde vindo do Leste da Europa em 1999, também vindo de uma República da Antiga União Soviética chega o Rapaz da Camisola Vermelha. Bem, ele trazia uma camisola vermelha porque a trocou com os ingleses mas isso não interessa nada. É que o artista- independentemente da indumentária que trouxesse- era alguém que não passava despercebido.

Não sei quem venceu a final do concurso "Dança Comigo". Se aquele rapaz se atrevesse a dançar ali o pessoal ficava todo de boca aberta. Mas não era só ele. Os colegas também. Os Black Eyed Peace deviam ir à terra deles gravar um vídeoclip. Era sucesso garantido. Da maneira como eles dançavam aquelas músicas...Aquilo era tudo deles.

Mas voltemos um pouco atrás. Aquele grupo de estranhas pessoas começou a dar nas vistas assim que chegou a Coimbra. De uma forma ou de outra, ninguém ficava indiferente a alguns deles, senão à sua totalidade.

Eu achava interessante como no mesmo país havia pessoas bastante louras e com nomes muito semelhantes aos russos e havia outros elementos que nem sei como os caracterizar. Tinham mais a ver com asiáticos do que com europeus. Davam-se todos bem. Dançavam, brincavam, estavam juntos... Pareciam vindos de diferentes extremos do globo, mas eram do mesmo país. Isso dava-lhes um encanto especial.

Nada sei sobre o país deles. Não sei se é um território muito ou pouco extenso. Sei é que há pessoas ali completamente opostas. Não têm mesmo nada a ver!

O rapaz de quem estou a falar e pelo qual comecei este texto é um daqueles casos de uma daquelas pessoas que eu não sei como classificar. De estatura média, cabelos escuros como os dos chineses e pele do mesmo tom dos asiáticos. Dava para ver que era um pouco irrequieto e que essa maneira de ser talvez fizesse com que se reparasse nele. Diziam que ele era bonito! Para mim ele era alguém a quem eu não ficava indiferente. Aconteceu isso em diversas situações.

Um dia vinha a sair da cantina. Lá estava ele junto à paragem do autocarro com outros colegas. Olhei-o por breves momentos e segui com os níveis de distracção em alta.

No dia seguinte, entraram todos ao mesmo tempo na cantina. Ele lá ia também.

Terá sido nesse dia também a cerimónia de abertura e sucedeu aquilo que eu tive oportunidade de narrar. (ver texto "Ataque de choro") Não sei explicar o que se passou por mais que tente encontrar explicações.

Não sei se foi ele, se foi um colega- não me lembro bem- que tirou uns copos de água de uma máquina e desceu as bancadas a bebê-los. Eu não conseguia fazer tal número, mas ele era homem para isso. Mas continuo a dizer que não tenho a certeza se era ele.

Voltei a encontrá-lo na cantina numa altura de grande desordem. O artista estava-se a desenrascar.

No sábado até me estava a admirar de não o ter visto. Também pouco tempo estive nas bancadas. Fui para a zona dos jornalistas e ali ele não estava, de certeza.

Já no Estádio- onde estava a decorrer a festa de encerramento e de confraternização entre os participantes- disseram que os nossos amigos andaram a presentear quem apareceu junto ao Pavilhão com uma sessão de autógrafos. Parece que todos autografaram um boné e deram a alguém que passou por lá.

Ainda me disseram para eu ir ter com eles, mas sempre me faltou a coragem. O primeiro que eu encontrava era sempre ele e acabava ali a conversa. É que eles não sabiam falar inglês. Apesar de me encorajarem a ir, eu fiquei ali a olhar para eles mais uma vez.

Andavam todos a dançar junto àqueles palanques que nós carregámos. Eu ria com ar divertido sem nunca tirar os olhos deles.
Ainda tentei agarrá-lo e dançar com ele, mas fiquei onde estava porque sabia que não havia a mínima hipótese de comunicar. Nem com sinais de fumo lá íamos. É que aquele espaço já tinha fumo a mais e causava ruído.

Assim se passaram as horas bem divertidas. A certa altura houve um colega dele que quase largou as calças de fato de treino ali de tanto dançar. Elas foram escorregando. Comecei-me a lembrar de uma música já antiga do conjunto António Mafra que se passava durante uma festa. Não me recordo do título. Sei que havia uma parte em que eles também se referiam a alguém a quem caíram as calças e que andava aflito com as mãos nos bolsos ou na cinta.

O nosso artista- o que trazia a camisola vermelha- parecia nunca se cansar. Com as mãos sempre no ar e a mexer ali continuava divertido. Além de dançar bem, assobiava bem alto de modo a se fazer ouvir com a música alta como estava.

Houve uma altura em que eu os deixei de ver. Tinham ido embora e nunca mais o voltaria a ver. Quem sabe um dia o destino pregue uma daquelas partidas e aconteça uma surpresa. Só que eu não acredito muito. Nunca se sabe.

Foi uma noite inesquecível em que eu me diverti como há muito não me divertia. Aquele mês estava-me a correr bem. Tudo me fazia feliz. Parecia estar a viver um autêntico conto de fadas.

Era de madrugada quando cheguei a casa. Desta vez tinha chave para abrir a porta e estar sossegada no meu quarto. Aquele rapaz não me saía da cabeça. Através do ecrã da máquina fotográfica ia revivendo o que se tinha passado há alguns momentos atrás. Ainda fui ouvir um pouco de música. Como tinha de me levantar cedo e já era bastante tarde, o melhor mesmo era não me deitar.

Havia outra coisa que me fazia rir bastante: a maneira como eu desci do palco. Se é que se pode chamar “descida” àquela forma brusca de descer. É que não é todos os dias que se cai e se tem a sorte de uma multidão estar lá em baixo e impedir que a pessoa se estatele no chão. Cada vez que recordo esse episódio...

O sono invadiu-me. Programei o despertador, mas de nada me ia servir.

1 comment:

GK said...

Se saísses dessa maneira do palco dos Óscars, atua imagem tornava-se um símbolo! LOL