Wednesday, January 04, 2023

Cadernos poeirentos na adega

 

Já há muito que não me acontecia isto. Quando trabalhava acontecia frequentemente e eu atribuía  estas  autênticas viagens no tempo ao facto de o meu cérebro estar a executar tarefas automáticas e rotineiras. Desta vez não sei o que despoletou este episódio. Para quem já não se lembra em que consistem estes estranhos factos, recordo que, desde a altura em que comecei a trabalhar, vá lá saber-se porquê, quando estava a desempenhar algumas tarefas como embalar pão, colocar legumes em expositores ou mais tarde fazendo o trabalho administrativo de todos os dias, algo acontecia comigo. O meu cérebro levava-me a um acontecimento longínquo da minha infância sem qualquer tipo de relevo. Algo do qual nunca mais me lembrei. Essas recordações completamente aleatórias e inusitadas surgem do nada em forma de flash ou viagem no tempo. Têm a particularidade de me transportarem completamente para essa época e para esse acontecimento. O corpo continua a desempenhar as suas tarefas mas a mente já viajou no tempo. De tal forma que sobretudo os cheiros associados a essas recordações parecem muito reais.

 

Quando comecei a frequentar o Reiki, perguntei a algumas pessoas mais entendidas nestas coisas da mente por que é que aconteciam estes fenómenos. Acharam estranho e uma delas sugeriu que, quando isso voltasse a acontecer, eu escrevesse. Tendo o meu blog como meio privilegiado, resolvi aceitar a sugestão.

 

E aqui vai mais uma história:

 

Em casa da  minha vizinha havia uma adega onde se guardavam naturalmente garrafas de bebidas, nomeadamente vinho e refrigerantes que ainda eram distribuídos em grades. Também era ali que se juntavam pessoas para comer qualquer coisa quando se matavam os porcos. Havia ali uma escada ingreme de madeira que dava para os quartos e que não tinha qualquer tipo de segurança. Eu tinha medo dessa escada, até porque era mal iluminada. Muitas vezes a subi de gatas e para descer fui dar a volta pela escada de cimento.

 

Nessa escada havia  um espaço oco onde se guardavam coisas.

 

Numa noite em que havia gente na adega a comer e a beber, perante a sempre fraca iluminação do local, encontrei naquele espaço da escada um caderno que não tinha visto. Tinha uma capa azul e castanha e parecia ser já muito antigo. Cheirava a pó e papel bafiento e foi esse cheiro desse caderno que me invadiu as narinas, juntamente com o aroma de velhas garrafas de vinho a que cheirava também o espaço envolvente da adega.

 

Como podem constatar, este episódio não tem qualquer significado. Eu nunca mais me lembrei disto, até a minha mente resgatar tão inusitada memória.

 

É o exemplo inacabado destas estranhas coisas que me acontecem e que eu julgava que tinham terminado a partir do momento em que deixei de trabalhar.

 

De referir que me encontrava concentrada a ouvir notícias de Desporto quando este episódio ocorreu.

 

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