Monday, December 25, 2017

Visitas à morgue e outras peripécias oníricas

Sonhos pouco natalícios e pouco pacíficos para esta época do ano.

Sonhei que eu e a minha mãe andámos uns dias a visitar uma morgue onde o cheiro a carne fresca era uma constante. Aquilo mais parecia um talho, diga-se de passagem. Pedaços de carne indefinidos jaziam em tabuleiros metálicos de inox. A carne era muito branca, desprovida de sangue.

Eu não queria estar ali mas, por incrível que pareça, a minha mãe seguia como se nada fosse. É curioso e eu lembro-me de já aqui ter abordado esta questão tão peculiar que só acontece em sonhos. Já uma vez sonhei que a minha mãe mexia alegremente num cadáver e incitava-me a fazer o mesmo. Na altura eu refleti sobre a troca de papeis nos sonhos entre nós duas. Na vida real, a minha mãe tem pavor dos mortos e eu não tenho medo deles. Nos sonhos dá-se o inverso. Eu morro de medo e fujo dos cadáveres e a minha mãe lida com eles como se fosse esse o seu trabalho.

Lá apanhávamos o transporte todos os dias para regressarmos a sítio tão macabro. Ia sempre com o coração nas mãos.

Acordei a tremer. As minhas narinas ainda registavam aquele cheiro a carne cortada e a éter ou lá o que era.

Fechava os olhos e o sonho continuava. É uma propriedade também dos sonhos menos bons. Eles continuam sempre. Os bons, aqueles que queremos manter para sempre, esfumam-se ao mais ténue abrir de olhos.

Houve uma altura em que o rumo do sonho mudou. Ia eu numa excursão e estávamos a regressar a casa. Havia um problema: o motorista do nosso autocarro tinha confraternizado connosco e exagerou no álcool. Não podia pegar no autocarro. E agora? O pessoal todo já vinha bem bebido menos...o Hichem? O Hichem do Moreirense, esse mesmo. Se calhar a excursão era à Senhora da Penha. E lá até dão vinho em malgas grandes. Já lá fui há uns anos com o meu pai e o pessoal que ia na excursão saiu de lá bem bebido.

As velhotas que não sabiam conduzir viram um estranho pegar no autocarro e dizer que tinha carta de pesados. Se a polícia aparecesse sempre era melhor haver alguém que não estivesse habilitado para conduzir aquele veículo do que estar ao volante um motorista profissional podre de bêbado.

E lá ia o autocarro pela auto-estrada fora. A dúvida estampada no rosto dos passageiros que ainda tinham a cabeça em condições para raciocinarem. Era o meu caso enquanto olhava para a estrada. Estava a anoitecer. Eu pensava que provavelmente ele terá tirado a carta de pesados lá na Argélia. Havia que dar o benefício da dúvida. Ele também seria responsável ao ponto de não se meter à estrada com um autocarro de passageiros se não tivesse capacidade para conduzir. A questão que se punha era se a carta de pesados tirada na Argélia dava para conduzir cá. Mas a carta de veículos ligeiros dele dá. De certeza que ele conduz nas estradas portuguesas.

Enquanto isso, o autocarro seguia sem sobressaltos na estrada. O condutor improvisado era muito cauteloso mas a cara das velhotas que vinham de algum Santuário no Norte do País era impagável. Ia jurar que iam a rezar o terço temendo que o autocarro se despistasse e fosse parar a uma ravina.

Antes de dar por finda a atividade onírica para esta noite, ainda sonhei que corria às voltas na sala lá em casa, já que não estava em Coimbra. Para além de correr, fazia flexões de pernas e saltos. As pernas até já me doíam e tremiam, como acontece quando se treina força. Depois de tanto esforço, reparei que não tinha ligado a aplicação de corrida.

Acho que quem corria mesmo pelo soalho era o meu sobrinho. Era hora de me levantar.

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