Wednesday, October 19, 2016

Som de carro de bois

Deitei-me bem cedo porque estava a ouvir um programa desportivo na rádio e depois não me apeteceu deixar o quentinho das cobertas. Lá fora chovia imenso e eu resolvi também ficar assim na escuridão, somente ouvindo a chuva a cair e deixando-me embalar por esse som que provoca em mim uma sensação boa de aconchego.

Nem dei conta de adormecer. Sei que dormi quase ininterruptamente até perto das quatro e meia da manhã.

Sonhei com algumas coisas interessantes mas somente um som povoa ainda a minha mente e não sei onde fui eu buscar. Um som que me habituei a ouvir na infância pelas estradas da minha aldeia e que nunca mais ouvi. O som de um carro de bois.

Estava deitada num local escuro. O ambiente era hostil. A melancolia povoava aquele lugar, fosse ele qual fosse. Algures, havia alguém que iria ser levado dali próximo para ser enterrado. Iria de carro de bois, pois claro. O carro tinha chegado para o levar e eu não queria estar ali presente para assistir. O certo é que eu não conseguia sair dali, por mais que quisesse. O barulho das rodas aproximava-se e a angústia apoderava-se de mim. Não me mexia dali de onde estava.

Deve ter sido nessa altura que acordei.

Tenho uma vaga ideia de me terem dito que os mortos antigamente iam de carro de bois ou num transporte semelhante próprio para os transportar que era a carreta. Isso já não se usa.

Terei eu dado uma saltada até ao tempo dos meus antepassados? Nunca se sabe.

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