À medida que o tempo passa sem a capacidade de ver, os
pormenores intrigantes de um sonho deixam de conter imagens aterradoras e
passam a ter sons que não nos intrigam menos.
A duração destes sonhos é muito curta. Os pormenores
perdem-se á medida que a vigília dá lugar á inconsciência mas há sons que
perduram e conseguimos enquadrar melhor essa parcela de som do que faríamos com
uma cena visual.
Consigo enquadrar este sonho em casa dos meus pais. Estou no
terraço e a casa está cheia de gente. Não sei o que se passa mas o sonho é todo
de uma tonalidade cinzenta como o chão do próprio terraço.
Pessoas que estavam dentro da sala precipitam-se para o
exterior em turbilhão. Terá acontecido alguma coisa!
Apurando melhor o ouvido, consigo distinguir alguém com
respiração ofegante. Alguém com dificuldade em respirar. A Aflição dessa pessoa
é premente. Cada vez mais a sua respiração se torna num silvo. Toda a gente
acompanha a mulher ao exterior onde é deitada no chão.
Penso que é a minha irmã mas, ao mesmo tempo, ela
encontra-se entro as pessoas que acodem á vítima. Nota-se a aflição dos
presentes. A pessoa deixa de respirar e a apreensão apodera-se.
Alguém grita que a mulher que é a minha irmã e ao mesmo
tempo não é entrou em paragem respiratória. Há que chamar o socorro
rapidamente. Pode não haver nada a fazer.
É com este coro de vozes alarmadas que acordo.
Não vi ninguém no chão, não vi a multidão que se precipitou
para a rua e muito menos vi as manobras que faziam para lhe salvar a vida.
Apenas aqueles sons sem imagem me inquietaram.
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