Sunday, September 06, 2020

Aflição



À medida que o tempo passa sem a capacidade de ver, os pormenores intrigantes de um sonho deixam de conter imagens aterradoras e passam a ter sons que não nos intrigam menos.

A duração destes sonhos é muito curta. Os pormenores perdem-se á medida que a vigília dá lugar á inconsciência mas há sons que perduram e conseguimos enquadrar melhor essa parcela de som do que faríamos com uma cena visual.

Consigo enquadrar este sonho em casa dos meus pais. Estou no terraço e a casa está cheia de gente. Não sei o que se passa mas o sonho é todo de uma tonalidade cinzenta como o chão do próprio terraço.

Pessoas que estavam dentro da sala precipitam-se para o exterior em turbilhão. Terá acontecido alguma coisa!

Apurando melhor o ouvido, consigo distinguir alguém com respiração ofegante. Alguém com dificuldade em respirar. A Aflição dessa pessoa é premente. Cada vez mais a sua respiração se torna num silvo. Toda a gente acompanha a mulher ao exterior onde é deitada no chão.

Penso que é a minha irmã mas, ao mesmo tempo, ela encontra-se entro as pessoas que acodem á vítima. Nota-se a aflição dos presentes. A pessoa deixa de respirar e a apreensão apodera-se.

Alguém grita que a mulher que é a minha irmã e ao mesmo tempo não é entrou em paragem respiratória. Há que chamar o socorro rapidamente. Pode não haver nada a fazer.

É com este coro de vozes alarmadas que acordo.

Não vi ninguém no chão, não vi a multidão que se precipitou para a rua e muito menos vi as manobras que faziam para lhe salvar a vida. Apenas aqueles sons sem imagem me inquietaram.

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