Saturday, September 15, 2018

“Memorial Do Convento” (impressões pessoais)

Gosto muito de ler José Saramago, especialmente pela oportunidade que nunca perde de lançar duras farpas à Igreja e aos poderosos.

Esta é uma das obras mais conhecidas do Prémio Nobel da Literatura de 1998 e penso que é esta a obra que faz parte dos programas curriculares do ensino secundário. De facto, faz todo o sentido. Para além de estudarmos um pouco de Português, também aprendemos um pouco de História, especialmente a de Portugal que tão esquecida anda. Há quem saiba todas as dinastias. Era obrigatória sabê-las? Eu se algum dia as soube, já as esqueci completamente.

Por falar em reis, logo no primeiro capítulo da obra, logo me comecei a rir porque, para o simples ato de rei e rainha se deitarem um com o outro, havia todo um aparato de criados de ambos os lados. Não admira que os reis não conseguissem fazer crianças e tivesse de ser prometida à ordem dos Franciscanos um convento em Mafra. Todo aquele aparato...nem se despirem um ao outro os reis conseguiam…

Cada vez que se falava na Igreja, inevitavelmente, o paragrafo tinha de acabar no sexo. Sempre. A certa altura, Saramago menciona que apalpam o rabo uns aos outros na missa. Pois houve alguém na minha aldeia (não sei quem foi e se calhar a pessoa até já morreu) a quem o médico perguntou se costumava ir à missa. A senhora respondeu que já não ia à missa...desde que lá lhe apalparam o cu. Sempre atento ao mundo rural e ao que se passa no Portugal Profundo, José Saramago certamente ouviu falar desta história. Ou então passa-se mesmo isto frequentemente em todas as missas, seja na mais bonita e opulenta basílica, até à capela só com uma porta no meio de quatro paredes.

Também notei a excessiva preocupação de Saramago em fazer descer a realeza à sua condição humana. Os exemplos nesta obra são muitos. Foi uma constante em todo o livro. Apesar de todo o luxo, toda a riqueza, os reis e rainhas não passavam de simples homens e mulheres, como o são os mais singelos representantes do povo.

Uma obra à Saramago, digamos assim. Vai lançando umas farpas, dizendo umas verdades e assim vai prendendo o leitor.

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