Monday, October 30, 2017

Almas Santas

De vez em quando, sou transportada para memórias e situações que há muito foram apagadas pelo tempo. Por que razão isso acontece, ainda busco uma explicação mas, até à data, ainda não consegui entender o que se passa.

São memórias que surgem do nada, muitas vezes acompanhadas, sobretudo, por sensações olfativas e por sentimentos, uns mais positivos que outros. Desta vez, fui transportada lá para bem longe no tempo. Ao tempo em que tinha medo do escuro e dormia sempre aconchegada à minha falecida avó, acordando-a e pedindo que continuasse a rezar ou que contasse uma história.

Sou transportada para uma longa noite bem escura e fria. Devia ser Inverno, pois tenho a ideia de que estava bastante frio, a minha avó foi para a sala à espera que viessem canta as Almas Santas. Naturalmente eu, como não queria ficar na cama sozinha, acompanhei-a até altas horas da madrugada. A espera foi em vão, pois as pessoas tinham de correr o lugar todo, tal como se faz pelas Janeiras. A diferença é que, vá lá saber-se porquê, eram já altas horas da noite e a minha avó sentada na sala à espera das Almas Santas.

Estava cansada e com frio. A minha avó acabou por se render e ir para a cama. Nessa noite não houve Almas Santas para ninguém. Provavelmente foram a outras casas, deixando a nossa para o outro dia mas não me consigo lembrar se chegaram a vir no outro dia.

Nunca mais na vida estive à espera das Almas Santas e nunca mais ouvi falar de tal. Já lá vão uns longos anos. Nem sei em que época do ano elas eram cantadas pelas aldeias portuguesas.

Lembrei-me disto por acaso, foi até onde as minhas memórias repentinas me levaram.

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